permancer

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Emma estava sentada aos pés de sua cama. Mexia no celular enquanto Mason massageava suas costas — as massagens dele eram as melhores.

Ela lia um artigo na internet sobre uma raça de rinocerontes que estava a ponto de entrar em extinção, o Rinoceronte Branco. E enquanto lia, sentia o estômago embrulhar.

"Até onde iria a maldade das pessoas?"

Até onde o dinheiro pudesse comprar, concluiu.

Mason estava com a cabeça em outro lugar, mas curiosamente também pensava em dinheiro. Mais especificamente no festival de música eletrônica que queria ir no final do ano. Planejava mentalmente um plano para economizar seu salário. Talvez se ele parasse de almoçar em redes de Fast Food e passasse a comer frutas e legumes sobrasse mais dinheiro.

Riu, pensando em como, com certeza, não era saudável.

Emma virou o rosto para ele ao ouvir sua risada. Lhe deu um sorriso amigável.

Ao menos as contas de água e luz estavam com os valores mais baixos. Graças a Emma, que o atraía para sua casa e o impedia de gastar tanto na dele. Fazia três meses que era assim: a casa dela era sempre o destino.

E Emma adorava. Tê-lo por perto era sempre uma aventura. As cores da parede, assim como as cores de dentro dela, ficavam mais bonitas com a presença dele.

Mason acabou a massagem. Beijou o pescoço dela, que largou o celular na mesma hora.

— Melhor? — perguntou se referindo às dores que ela disse sentir.

Ela fez que sim com a cabeça. Virou o corpo pra ele. Estava só de toalha, pois tomara um banho depois de chegar do trabalho.

Passou os braços por seus ombros. O beijou. Sentiu o gosto do cigarro. Sorriu no meio do beijo.

— O que foi? — perguntou sorrindo também.

— Seu beijo tem gosto de morte.

Ele riu com leveza.

— E o seu tem gosto de vida.

Sorriram. Se beijaram mais uma vez.

— Essa foi a coisa mais romântica que você disse desde que cruzou a porta.

— O romantismo está demais, senhorita? Posso parar se você não aguentar...

Ela arqueou as sobrancelhas, impressionada com a insolência.

— Uau... — ele disse, pensando no que havia dito — Essa frase parece com aquela vez na casa do Jasper quando você...

Antes que conseguisse terminar, as mãos dela voaram para a boca dele, em movimentos rápidos.

Xiiiiiu! — começou a rir, envergonhada — Você está proibido de falar sobre meus impulsos sexuais!

Ele riu, se divertindo.

— Ah, qual é? É normal! Você estava três vezes mais...

— Calado, Mason! — o empurrou na cama, rindo.

— Foi exatamente assim que você fez!

O rosto dela corou, mas isso não a impediu de pular em cima dele e tapar sua boca mais uma vez.

— Eu te odeio muito!

Ela tinha a mão esquerda na boca dele. A direita a ajudava a apoiar seu corpo no colchão. O prensava com as pernas. A toalha estava, de fato, muito bem colocada.

Ele sorria, mesmo ela não podendo ver. Suas mãos estavam livres, ele poderia dar um jeito de escapar. Se deu conta disso, mas permaneceu imóvel como se ela estivesse, mesmo, prendendo ele ali. Continuou fitando os olhos dela, frente a frente com os seus. Parou de sorrir. Ficou distraído. Se perdeu no céu estrelado que havia encontrado dentro dos olhos dela. De repente, se viu tão fissurado que quase conseguia se enxergar saltando de estrela em estrela ali dentro.

Ela notou. E começou a olhá-lo com curiosidade. Até afrouxou a mão que impedia que ele começasse a tagarelar. E ele não parava de olhar. Ela decidiu não perguntar o que era. Talvez não precisasse. Talvez o momento falasse por si. Retirou sua mão dali. A deixou da mesma forma que a outra estava. Apenas ficou ali.

— Por que você não me dá vontade de ir embora? — ele perguntou, simplesmente.

Três meses, pensou.

Pareciam três minutos. Parecia que não tinha passado tempo algum. E ao mesmo tempo parecia que haviam se passado anos.

Ela era uma velha conhecida que tinha acabado de conhecer. Um alguém que ele sentia vontade de manter por perto. Por isso mantinha. Por isso ainda estava ali. Mas por quê? O que ela tinha para se fazer tão especial? Essa perguntava só fazia a vontade de ficar aumentar e nenhuma pergunta era respondida.

— Porque talvez você não precise ir embora desta vez...

Ele era tão diferente dos outros rapazes. Não era o mais engraçado ou o mais amoroso, mas parecia a fórmula perfeita para... Não sabia terminar a frase. Ele simplesmente era perfeito para alguma coisa.

Quando pensava em Mason era quase impossível esconder o sorriso. Ele trazia tanta coisa bonita. E isso nem fazia sentido. Ele era um fumante bêbado e sozinho. Como é que podia fazer tanta coisa se acender dentro do peito dela?

Era encantada pela forma como ele vivia. E admirava com respeito o jeito com que lidava com seus sentimentos. Gostava da forma que Mason sentia, mas gostava mais do que ele a fazia sentir.

Mason era vida, mas mais do que isso, era vontade de viver.

— Você é boa, Emma. — sorriu e fechou os olhos — Você sabe que eu não amo ninguém.

— Eu sei disso.

— Você parece mentira às vezes. Não que pareça falsa, pois tudo que você faz é genuíno. Você parece irreal, é isso.

Ela saiu de cima dele. Deitou ao seu lado. Continuou a olhá-lo com curiosidade.

— Você é a prova de que eu nunca vou amar alguém. Porque se eu soubesse amar, com certeza te amaria.

Abriu os olhos. Virou o corpo e a cabeça para ela. Ela começou a falar.

— Louis esgotou minhas reservas de amor. Todo mundo já entendeu isso. Mas o que nem eu entendo é que sinto que não preciso disso com você. Porque a vida simplesmente ficou um bilhão de vezes mais descomplicada quando você chegou. E pela primeira vez na vida... É estranho, sabe? — riu — Eu não sinto que precisamos chegar a algum lugar ou que temos que ser ou sentir qualquer coisa. Eu não quero mais do que temos, entende? Somos, estranhamente, suficientes.

Ele não respondeu. Não precisavam dizer mais nada. Era claro. Tão claro que a luz cegava ambos e ninguém percebia nada.

Mason era um sentimento novo, algo que ela nunca tinha sentido. Não era maior ou menor que Louis. Era diferente e não existiam comparações. Louis era o amor da sua vida e Mason... Não sabia se tinha um nome para o que ele era, mas ele com certeza era importante.

Mason costumava conhecer pouco de alguém pois o pouco que via era suficiente para se cansar. Mas é claro que com Emma foi diferente desde o primeiro olhar. Diferente de todas as mulheres do mundo, o pouco que viu, pareceu muito. E ela foi, por si só, o maior motivo para não querer ir embora. Não era um vício, não era necessidade. Seu permanecer era um querer. E ele nunca quis tanto alguém como queria Emma.

— Você quer comer? — ela perguntou.

Ainda estavam olhando um ao outro, encantados.

— Uma fruta ou algo assim? — continuou.

Ele sorriu.

— Uma fruta seria ótimo.

Uma História Sobre RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora