Sinto seu olhar queimar minhas costas, então sorrio. Ele é muito pontual.
A temporada das flores de cerejeira começou, a tão amada pelos casais: primavera. As flores florescerem e caem, formando tapetes róseos e belos pelas ruas e parques. Raramente há cerejeiras nas escolas, mas a minha é um complexo antigo e amplo cheio de verde, cheio de árvores. Não foi surpresa para nenhum aluno encontrar as tão belas flores derramadas sobre nosso caminho, mas devo dizer que elas darão trabalho mais tarde. O vento não irá levá-las assim tão facilmente, o trabalho vai sobrar para alguém. Felizmente, soando um pouco debochado ou não, eu mal paro na escola para ter que me preocupar com tal fato. Digamos que meu histórico escolar não conte mais faltas e sim presenças — um número menor fica mais fácil.
Como disse antes, as flores precisam sumir alguma hora e alguém vai ter que fazer isso acontecer. Por enquanto não é necessário porque elas ainda caem, mas quando a temporada finalmente acabar o trabalho certamente vai ser sorteado para alguma sala aleatória. As flores podem permanecer no pátio o quanto quiserem, afinal ainda não atrapalham ninguém, mas elas não podem ficar na piscina. O clube de natação a usa todos os dias e ter pétalas boiando sobre a água não tornaria o treino mais prazeroso, apesar de ser bonito. Limpar a piscina diariamente é um trabalho da escola, de algum profissional contratado por ela, mas pagar para retirar flores soa como um desperdício. São só flores, afinal, peguem algum aluno e façam ele recolher cada uma com um limpador de piscina. Trabalho manual ajuda a desenvolver a mente, ajuda a melhorar a circulação, blá blá blá.
Vocês provavelmente já devem ter entendido que o sortudo fui eu.
Não sei como, mas o diretor conseguiu me achar dentro desse enorme complexo e deixar o trabalho de limpar a piscina pra mim. Na realidade, mesmo que machuque meu ego, acho que ele sempre soube onde eu estava e apenas não quis ir me buscar. Eu deveria ser mais importante que isso, mas tudo bem. Desde que meus pais não saibam das faltas eu estou de acordo com a situação. Se meu pai soubesse que eu gasto mais da metade do meu tempo ouvindo música e escrevendo poemas por aí ele provavelmente infartaria e faria questão de me arrastar com ele para a morte. A ideia de conhecer o outro lado soa interessante, confesso, mas com meu pai junto parece bem assustador. Morrer não é tão assustador quanto esse velho mau humorado.
Esqueci de mencionar que sou um garoto estranho.
— Meu doce e jovem ajudante! — cantarolo animado, rumando até as cabines — Você veio novamente!
— Sempre tão falante — ouço-o dizer enquanto troco o uniforme.
Não evito sorrir.
— Apenas confesse que adora estar na minha companhia, jovem aprendiz!
— Prefiro morrer — cantarola passando em frente a cabine, provavelmente atrás do limpador — Onde você colocou aquela maldita rede?
— Te conto se me der um beijo — abro a porta já casualmente vestido e o fito sorrindo.
Ele faz careta.
— Você fala tanto em beijos que provavelmente sonha com isso mais do que o normal.
— Oh, não, não! — sorrio da forma mais atraente que consigo, me aproximando do garoto ligeiramente mais baixo — Eu apenas falo dos beijos, jovem aprendiz. Quando posso sonhar penso muito além desse toque sutil — tocou suas bochechas, vendo como elas tomam uma coloração mais viva — Sonho com coisas mais... Provocantes.
— Doente — murmura se soltando de mim, afastando-se — Onde colocou a rede?
— No depósito — ele sai mau humorado, batendo os pés. Não evito rir — Você fica adorável envergonhado, Youngjae-ah.

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Primavera
FanfictionYoungjae poderia ser meu modelo de todas as primaveras. De todas as estações.