Aquela garota era um almário, disso ninguém jamais poderia duvidar. Em sua imensidão de alma, carregava a dos outros. Psicóloga que não recebia para tal, tinha seu pagamento no alívio dos outros, que despejavam suas almas e o fel de seus sentimentos sobre ela, que recebia com um sorriso e dava-lhes os melhores conselhos que podia, entristecendo-se quando não encontrava algo que resolvesse a situação e as dores do coração de quem recorria a sua ajuda.
Aquela garota era um almário. Talvez por opção, talvez por vocação, mas era. Carregando sentimentos alheios aos seus, almas alheias à sua. Sonhos esquecidos de pessoas esquecidas.
Mas, o que acontece quando um almário se quebra? Talvez isso soe estranho, e eu te entendo, mas talvez as almas lá dentro nem sequer percebam. Almas passadas não movem moinhos, não é?
Aquela garota era um almário. Hoje, ela é apenas mais um almário quebrado, e as almas que carregava, flutuaram para outro almário, como se fosse apenas um móvel inutilizado.