Capítulo 149

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Por Christopher

Após a conversa com a minha mãe, resolvo visitar Christian e colocar ele a par das novidades. Nossa! Se ele soubesse que eu iria embora sem avisar a ele, acho que ele ficaria com tanta raiva de mim que nem olharia na minha cara. Espero que Annie, não tenha tido tempo de ir ao presídio contar a ele o que aconteceu.
Ah! Com certeza não foi. Anahí deve estar com Maite consolando minha pobre Dulce, que não sei por que diabos não para de me ligar. O que será que aconteceu? Ela estava me odiando quando sai da rodoviária. Será que ela se arrependeu e está desesperada me ligando para que eu volte? Bom, mesmo que seja isso, não posso deixar que Dulce se humilhe para mim novamente. Dessa vez eu que tenho que lutar, me humilhar e implorar para que me perdoe. Não posso permitir mais que Dulce derrame uma só lágrima por mim que não seja de alegria. Eu a amo demais e não suportaria vê-la chorando e implorando para que eu ficasse ao lado dela, quando sou eu que tenho que fazer isso. Continuo sem atender suas ligações e sigo em frente até a sala de visita de Christian.

Assim que Christian entra na sala acompanhado de um guarda, ele arregala os olhos como se estivesse surpreso por me ver e um silencio ensurdecedor toma conta da sala de visitas. Seu olhar de surpreso transforma-se em fúria e temo dizer uma só palavra. Nunca vi Christian tão enfurecido na vida, mas o que é mais estranho é que Christian, não sai do lugar, somente me encara como se estivesse planejando a melhor forma de me sufocar até que eu perca completamente o ar e morra.

Arrisco dizer uma palavra...

– Brother? – Digo com um certo temor. Não tenho medo de que ele me bata ou algo do tipo. Eu e Christian crescemos juntos e sempre tivemos desavenças como qualquer irmãos, mas o que temo é a raiva que ele está de mim. Entendo que iria embora sem avisar, mas ele sabe que uma hora ou outra eu iria dar um jeito de entrar em contato com ele. Ele me conhece. Eu nunca o abandonei.

– Brother? – Ele me pergunta. Engolindo a seco ele olha para o outro lado, para não ter que me encarar.

– É Christian. Fala logo! Não vamos bancar as irmãzinhas furiosas. Você já sabe que eu ia ir embora, tudo bem. Anahí deve ter te...

– A Anahí? Por sua causa ela e meu filho devem estar morrendo agora! – Ele diz dando um soco forte na mesa e logo em seguida o guarda abre a porta e nos inspeciona.

– Tudo bem. – Digo para o guarda que fica um tanto desconfiado, mas se retira e fecha a porta.

– Christian do que você está falando? – Pergunto sem entender nada do que ele acaba de falar. – Filho?

– É a Anahí está grávida, mas está internada e precisando de sangue. Ela e meu filho. Caso não consiga a doação, acho que só um sobrevive. SE – Ele enfatiza – um deles sobreviver.

– Meu Deus! – Digo incrédulo.

– O sangue dela é raro e só você podia ajudar.

– Mas eu ainda posso. – Digo preocupado.

– Dulce e Maite estavam ligando pra você e... – Ele respira fundo e grita – QUE DIABOS VOCÊ ESTAVA FAZENDO QUERENDO FUGIR?

– Christian calma!!

– Calma? – Christian repete minhas palavras em tom de pergunta – Elas só têm até amanhã. Anahí e meu filho. Amanhã de manhã.

– O que? – Pergunto nervoso com o choque de informações que estou recebendo – Vou ligar para Dulce e vou salvar Anahí e seu bebê. – Digo.

– Espero que salve, porque é o mínimo que você pode fazer pra consertar as burradas que você faz.

Viro-me para Christian sem acreditar nas suas palavras. É o mesmo Christian que era meu amigo desde pequeno? Antes de sair eu aceno com a cabeça e saio da sala já sacando o celular do bolso e discando o número de Dulce que agora, por grande ironia do destino não atende o celular.
Tento o número de Anahí. Seu celular deve estar com uma das duas, mas cai na caixa postal. Sei que Maite seria a última a querer minha ajuda, mas Anahí corre risco de vida, então disco seu número também e nada.

Sem sucesso nas ligações, pego um ônibus que me deixa próximo a casa de Anahí. Maite e Dulce devem estar por lá, acredito que chorando e me rogando todas as pragas possíveis por eu não ter atendido o celular. Bem que minha mãe disse que eu deveria ter atendido, bem que eu sentia que deveria atender. Por que faço tudo errado? Porque faço todas as coisas ao contrário? Sou um idiota mesmo! Não posso deixar que Anahí morra. Com certeza ela passou mal pelo estresse. E espera! Realmente Anahí está grávida. Meu Deus como eu iria embora e não veria meu sobrinho? Meu sobrinho?

Nesse exato momento, percebo que através de Dulce eu não só aprendi o que é o amor, como ganhei uma família de verdade. Antigamente a minha família era um bando de homens que se reunia para planejar assaltos, sair para boates e festas à noite, ostentar dinheiro, mulheres, bebidas, mas no outro dia, eu só era mais um homem solitário que tinha tudo, mas na verdade não tinha nada.
Através de Dulce ganhei a amizade de Anahí, voltei a ter contato com a minha mãe, e descobri que o melhor da vida é amar e se sentir amado. É cuidar das pessoas, que tem muito mais valor do que os bens materiais que eu tinha antes. Não sei porque, mas agora sem dinheiro, sem carro, sem um closet enorme cheio de roupas de grife, me sinto muito mais completo tendo somente minha família, meus amigos que em qualquer situação eu posso contar. Se eu nunca tivesse olhado nos olhos da minha ruiva naquele dia, talvez até hoje eu não tivesse descoberto a verdadeira razão da felicidade.

– MEU DEUS EU VOU SER TIO! – Grito no dentro do ônibus e começo a sorrir sozinho e lágrimas começam a rolar pelos meus olhos. As pessoas no veículo me encaram com um olhar estranho, mas não me importo. Preciso salvar meu sobrinho e minha irmã, Anahí.

– ALGUÉM AQUI TEM O SANGUE TIPO O-? – Grito novamente já em pé no meio do ônibus. Sinto uma gota de esperança, mas ninguém me responde. Conto a situação que se encontra Annie e seu bebê, pelo o pouco que sei que Christian me contou mas não tenho sucesso. Agradeço a atenção de todos e lembro de minha mãe. Ligo para ela imediatamente...

– Mãe?

– Oi filho... O que foi? – Ela pergunta.

– Seu tipo de sangue é O- né? Preciso que você...

– O quê?

– Seu tipo de sangue mãe é O- né?

– Não filho o meu é A+. Seu pai é O-. Por quê?

– Droga! Depois eu conto mãe. Obrigada.

Sentado no bando do ônibus pensando fico angustiado. É sempre bom conseguir mais de um doador. Como eu preciso arrumar mais alguém. Eu vou arrumar mais alguém. Agora quem? Quem?
Decido enviar mensagem para todos os meus contatos com a mesma mensagem. Explicando o pouco que sei sobre a situação de Annie e o tipo de sangue que queremos.

Assim que desço do ônibus, e estou caminhando, praticamente correndo para chegar ao prédio de Annie que fica um pouco distante do ponto de ônibus, um cara de moto passa por mim sinto um mau pressentimento, contudo eu continuo andando, mas sentindo que ele me segue. Quando entro em uma rua estreita que dá para o prédio de Annie o cara de moto me fecha.

Aquele Olhar - VONDYOnde histórias criam vida. Descubra agora