Ah, Lee...

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Ventava e o vento produzia sons que se assemelhavam ao uivar de lobos, ao assobio humano, ou aos sussurros dos demônios que levavam qualquer um à perdição, mas não era o caso, não naquele dia, não naquele quarto. A janela aberta que fazia com que um pouco da areia do deserto que cercava o oásis que era Suna entrasse por ela juntamente ao vento, era um sinal de ousadia, ou, melhor dizendo, afronta.

Lee sempre fora afrontoso. Ele sempre lhe afrontou. Quem em sã consciência teria sido tão perspicaz ao ponto de lhe enfrentá-lo, tantos anos antes, em Konoha, no auge da escuridão de seu ser? Naquela época, sua velocidade foi capaz de afrontar a tão forte defesa que sua mãe exercia por meio da areia. Lee afrontou seu ódio um dia e, naquele momento, naquela cama, ele afrontava sua sanidade.

— Lee... - não foi um gemido, foi um clamor.

Clamou para que os braços do mestre em taijutsu o abraçassem mais forte e lhe acalentassem. Demorou anos até saber o que era sentir-se amado, o que era amor, ainda hoje não o entendia bem, mas achava que era o que tinha ali, entre eles.

Por um minuto, enquanto suas mãos deslizavam pelo corpo talhado à treinos rigorosos e o acariciavam tão cuidadosamente e sua boca o beijava da boca ao pescoço, recordou daquele fatídico exame, daquela noite em que aqueles que hoje eram seus amigos mais próximos lhe impediram de matá-lo e sentiu seu peito apertar.

Talvez ser tragado por sua areia em um Caixão fosse menos doloroso e sufocante que o simples pensamento de imaginar como não seria se Lee um dia soubesse daquela tentativa frustrada – ainda bem –, de assassinato e por isso o abraçou mais forte, precisava senti-lo vivo, senti-lo seu.

A missão era sobre esmagar Konoha mas, no dia de hoje, a única coisa esmagada com aquelas lembranças era o seu coração.

Ou talvez não, e aquela janela aberta deixava esse "talvez" em aberto.

Sua mão direita apertou a mão esquerda dele. Mesmo que fossem tão diferentes, aparentemente falando, cada um era como o espelho da alma do outro e isso era o mais confortável naquela relação: a cumplicidade.

Aquela janela, a ousadia que era a janela do Kazekage estar aberta enquanto ele se deitava com seu amante demonstrava que medos e receios estavam sendo, esmagados ali, assim como os dedos pareciam se esmagar.

Suspiros mais ousados e teimosos saíram de sua boca quando se chocaram no mais íntimo. Ele sabia que era errado, ele sabia que era secreto, mas então porque não conseguia manter a boca fechada?

Era mais uma defesa sua que por ele era rompida. Ele acabava com sua discrição, sempre que estava ali, em seus braços, entrelaçando suas pernas nas dele, afagando seus cabelos negros como a noite que era testemunha daquelas verdadeiras loucuras.

Ele era o Kazekage, estar ali, com um amante de outra vila, às vistas de todo o povo adormecido de sua vila era uma afronta.

Mas Lee gostava de afrontar e, surpreendentemente, Gaara também.

Era um sinal bom da rebeldia passada, remanescente. Muitas coisas boas foram retiradas daquela situação frustrada. Alguns diziam que Suna havia voltado humilhada, mas Gaara não cria nisso, ele cria que haviam tido a maior vitória: os laços criados.

Sempre seria grato à Naruto por ter sido seu primeiro amigo, sempre julgaria a todos daquela aldeia como importantes para si. Mas Lee era mais e ele não sabia o porquê.

Mas como julgá-lo por não saber o que era o que sentia sendo ele a pessoa que, como o maior e talvez único referencial de amor tinha uma cabaça de areia fundida ao espírito de sua mãe? Lee entendia, bastava a ele que se doasse, ao menos nos momentos em que estavam juntos, e ele cumpria essa sutil exigência.

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⏰ Última atualização: Apr 02, 2018 ⏰

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