Capítulo 01

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        Olhei as árvores passando rapidamente,  me mudar era a minha última tentativa de salvamento para mim e minha família,  minha mãe quis mudar para uma fazenda que era herança de uma tia a ela.
      
         Chegamos a pequena cidadizinha, era como se fosse um povoado. Passamos por dentro dela e descemos a longínqua estrada de terra que seguia a nossa frente, grandes árvores frondosas se alinhavam a nossa frente,  era muito escuro transitar até na estrada e também como a tarde já se findava,  por causa das árvores ficavam assim mais escuras que o normal . Desci do carro olhando a grande casa antiga a minha frente,  dava pra ver que era da época colonial.
        
         As janelas de madeira abriam pra fora,  vi uma mulher sorrir para mim, sua pele era negra e ela era linda. Fomos para dentro da casa,  olhei a grande decoração,  parecia que estávamos num filme da época da escravidão.
     
           Todas as luzes da casa se acenderam, o gerador foi ligado por algum funcionário,  minha mãe pegou suas malas e foi arrumar as coisas,  peguei todas as minhas coisas e joguei no canto do quarto, estava muito cansada, coloquei meus fones e fui ouvir minhas músicas favoritas,  adormeci rapidamente.
      
    Barulhos insuportáveis vinham da parte debaixo da casa.

_Mãe?!  Mãe deixa essas coisas para se arrumar amanhã.  Não escutei resposta alguma. Levantei tateando a parede a procura do interruptor, minha mão foi pega por outra mão. Gritei estridentemente.

_Mãe!
 
      Minha mãe veio correndo, lumiando com a lanterna do celular.

_O que foi minha filha?

_Alguém segurou a minha mão,  tinha alguém aqui!

_Não tem ninguém aqui filha, somos só nós.

_E quem era aquela mulher na janela quando chegamos?

_Que mulher filha? Não tem ninguém na fazenda a anos, seu irmão que ligou o gerador e desligou a quase uma hora. 
      Comecei a coçar a cabeça,  não podia ser, achei que aqui eu ia melhorar,  sai de São Paulo por todos me acharem doida, e aqui também estou enlouquecendo.

    Barulhos começaram a vir da casa, minha mãe correu com o celular na mão para ver o que era.

_ Talvez seja algum garoto achando que a casa ainda está vazia. Tentei acreditar em minha mãe.

    Desci tateando o corrimão da escada, vi uma silhueta de um homem beirando a porta, ele segurou a maçaneta e abriu a porta sorrindo.

_Boa noite Vossa Senhoria! 

       Um vento soprou e um bebê começou a chorar no quarto, olhei assustada,  agachei chorando,  minha mãe olhou para o homem sorridente, então tudo se acendeu.

_Pronto mãe,  liguei o gerador. Meu irmão disse abaixando-se ao meu lado e olhando em meus olhos ele me abraçou. _ Acabou maninha,  acabou, e só alguém fazendo brincadeiras de mau gosto. 

       Não era alguém,  eu sempre vi algo que os outros não viam perto de mim, quando eu era pequena não me fazia tanto medo e nem afetava a minha vida,  mas agora!?  Minha vida está completamente diferente por causa dessas coisas que eu vejo.  Corri para meu quarto e tomei os remédios que me passaram por ser taxada como louca.
   
      O sol saiu radiante,  minha mãe estava a todo vapor arrumando a casa,  fui ajudá-la com os pensamentos a mil, aquela casa deveria ter uma história,  e não me parecia boa.  Escutei ao longe o som de um carro chegando, alguns homens e uma mulher desceram da grande camionete.

_Olá, vocês são os novos moradores? Estão precisando de funcionários?  Minha mãe sabia que teríamos que contratar se quiséssemos colocar a fazenda em funcionamento.

_Estamos precisando sim, que dia podem começar?

_ Pode ser até agora mesmo se quiser.

    Os novos funcionários saíram com meu irmão rumo ao curral e o galpão dos tratores. Minha mãe estava sorridente e parecia que os acontecimentos da noite anterior não haviam acontecido.  Senti uma brisa leve e fria passar por mim.

" Nos ajude Samantha "  Uma voz doce falou ao meu ouvido,  olhei para todos os lados a procura, mas não vi de onde viera tal voz.

     A hora do almoço chegou e todos nós sentamos a mesa, entre meio a conversas e risadas um jovem disse algo que me chamou a atenção.

_ Não imaginava que depois de tudo alguém viria morar aqui ainda. Fiquei curiosa.

_O que houve? Todos me olharam.

_A muito tempo aqui era uma grande produtora de café, um capataz muito ruim tomava de conta todos os escravos que aqui trabalhavam, os homens ele sempre matava torturando e batendo muito, e as mulheres ele estuprava e matava,  assim não sei como alguns escravos se rebelaram e mataram o capataz,  mas o dono da fazenda acabou matando todos os escravos,  os corpos deles ficaram amarrados aos troncos até os cachorros terminarem de comer tudo, a senhora Albertina quando comprou aqui disse que acontecia muitas coisas depois que o gerador era desligado.  Olhei para ele sentindo tristeza pelas pessoas que morreram aqui.
     
        Senti novamente uma brisa fria, e vi uma mulher subir a escada. Levantei e fui atrás,  subi as escadas correndo,  quando cheguei no final dela, vi um homem com seu rosto deformado vindo em minha direção,  seus olhos estavam raivosos, ele bateu em meus peito fortemente e cai da escada,  senti o ar fugir de mim e minha visão se foi.

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