OBS: Não há como escrever sobre isso sem usar metáforas.
"Minha depressão era como uma trepadeira, e eu era uma árvore muito fraca para ela. Minhas folhas e galhos eram frágeis e minha estrutura estava sendo sufocada pela pressão que a trepadeira colocava. Ela se apossou de mim, comandando em tudo.
Eu não tinha motivos para isso, mas muitas vezes ela me obrigou a deitar no canto da cama, com o tronco inclinado para frente e as pernas encolhidas junto a ele, enquanto rios jorravam dos meus olhos, expressando minha agonia.
Algumas vezes a raiva me preenchia e eu queria gritar, mas não conseguia fazê-lo. Em outras, eu me sentia vazia, esperando a sensação ruim voltar. A insegurança não me abandonava em nenhum momento, afinal, a tempestade espreitava os cantos da minha casa.
Minha depressão era também como ferrugem, transformando pedacinho a pedacinho de minha alma de ferro, em pó. Cada segundo era doloroso e angustiante, me despedaçando cada vez mais.
Sentia-me vivendo à beira do abismo, sem poder voltar a segurança e sem poder desistir por conta da falta de coragem. Minha vida e todos os momentos bons eram transformados um a um em cinzas
Não, eu não estava sendo dramática, não estava forçando. Minha trepadeira era real e estava me consumindo. A dor era incessante e plena em mim, houveram dias em que a dor mental foi transformada em dor física, e alguns se preocuparam. O problema é que não havia explicação direta, eu apenas queria fugir dos meus própios demônios, os quais de alguma forma, apenas eu via.
Em algum momento, acabaram enxergando parcialmente meu terror diário e então, a psicoterapia começou. As conversas eram longas, cansativas e dolorosas.
Meu especialista então concluiu que eu precisaria ser medicada. Os antidepressivos vieram, e somados a eles mais visitas ao psicólogo. Foi como um veneno para minha gigantesca trepadeira. Enfraquecendo-a, e enfim, derrubando-a.
Eu estava liberta daquele parasita, finalmente livre de todo mal que ele me causava. Porém, era inevitável não sentir o vazio que minha trepadeira deixou. Eu estava me recuperando, mas não deixava de estar fraca, e a partir dali deveria caminhar com meus própios pés. Reconstruir foi difícil e cansativo, mas isto me motivou a continuar.
Nesse período me apoiei no amor dos que me rodeavam.
De pouco em pouco, minhas folhas voltaram a ser saudáveis. Minha vida melhorou consideravelmente, por que minha depressão era como uma trepadeira, e esta não habitava mais em mim."
Saúde Mental não é secundária, não é menos importante.
Depressão não é drama, não é frescura, não é insignificante; é uma doença.
Procure um tratamento adequado.
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a trepadeira ♡ texto sobre depressão
Poetry"Acredito que a dor deve ser transformada. Mas não esquecida; contrariada, não suprimida."