Afastou-se do guarda-roupa, a mão numa das têmporas. Precisava de um tempo. Puxou um maço do bolso e se aproximou da janela, debruçando-se no beiral. Colocou o filtro na boca e o ascendeu, tragando lentamente. A fumaça tóxica foi para seus pulmões, a sensação o acalmando momentaneamente. Ah, como ele sentia falta de Baekhyun!
O que Chanyeol lhe disse, porém, fez com que Sehun refletisse. O Park falou que Baekhyun iria querer que seu melhor amigo fosse feliz e o Oh tinha certeza de que aquilo era verdade. E Luhan lhe fazia bem, portanto o Byun iria querer que o moreno se encontrasse com ele, não é? Baekhyun não gostaria de ver Sehun tão acabado e destroçado; na verdade, desde que eram pequenos, o mais velho fazia de tudo para colocar um sorriso no rosto do Oh.
Continuou a fumar. Agora só consumia cigarros chineses, a marca não importava, principalmente porque ele não sabia ler mandarim. Cigarros chineses o lembravam de Luhan. E as lembranças de Luhan o faziam sorrir.
Terminou de ajeitar as roupas do Byun, se perguntando o que faria com aquilo. Resolveu que doaria as peças para caridade, ficando apenas com aquele colar que dera para o mais velho de aniversário. E decidiu que entregaria um brinco de Baekhyun para Chanyeol, já que aquele tinha sido um presente do Park.
A noite de sexta-feira já tinha chegado e Sehun se sentia estranho. Ele não sabia dizer exatamente o que estava acontecendo. Ainda sentia tristeza por conta de Baekhyun e culpa pelo mesmo motivo. De vez em quando, pensava que era realmente inútil para aquele mundo. Mas, por um outro lado, ele estava sorrindo muito naqueles últimos dias, tudo isso por conta do vendedor do mercado chinês da sua rua. Era só pensar em Luhan que acontecia; um sorriso discreto e quase imperceptível aparecia em seus lábios. E parte dele achava que merecia aquilo, aqueles momentos felizes. Chanyeol havia lhe dito isso, será que era verdade? Por toda vida Sehun achou que não era digno de ser feliz, mas será que isso era verdade?
Embora um lado do Oh achasse que ele merecia sim ser feliz – principalmente porque o mesmo já tinha se ferrado e muito na vida –, o garoto insistia em afirmar para si mesmo que aquilo não era verdade. Ele era um ninguém, um ladrão, um criminoso. E criminosos não podem ser felizes.
E nisso voltava para a pergunta que andava tomando boa parte de seu tempo, aquele "e se" danado. Se Luhan soubesse quem Sehun realmente era, ele ainda gostaria do mais novo? Se soubesse das inúmeras besteiras que o Oh já tinha feito, ainda gostaria dele? Se soubesse que era culpado pela morte do seu melhor amigo, ainda gostaria dele?
Pensava constantemente nisso. Qualquer pessoa normal se afastaria de Sehun caso soubesse de seu passado. Luhan, no entanto, demonstrou ser especial. Ele era carinhoso e cuidadoso e se importava com os outros. Luhan era o tipo de pessoa que não merecia sofrer, e esse era o maior medo do moreno: destruir aquele garoto tão maravilhoso.
Ele sabia que Luhan não era frágil e que era mais do que capaz de cuidar de si mesmo e dos outros – como tinha feito com o Oh. Ainda assim, Sehun morria de medo de o machucar. Por motivos egoístas, sim. O chinês fazia bem para o Oh, e se algum dia Sehun o chateasse, nunca se perdoaria.
Voltava então para a ansiedade que o consumia, já que dali há dois dias veria o motivo de seus sorrisos bobos. Admitia que suas expectativas estavam baixas, já que o coreano tinha o mágico dom de arruinar tudo, e já estava levando como verdade que conseguiria estragar aquele momento especial.
E se ele dissesse algo que incomodasse Luhan? E se ele fizesse algo que incomodasse Luhan? E se a simples existência dele incomodasse Luhan?
Estava quase cogitando a ideia de desmarcar o jantar. Era covarde, sabia disso, mas fora tomado pelo medo. Já faziam anos desde a última vez que ele sentira aquilo, aquele frio na barriga, aquele medo e aquele nervosismo que não o deixavam dormir tranquilamente. E nunca tinha sentido isso com tanta intensidade.
Chamou de Efeito Luhan.
Era como uma reação química: a imagem do mais velho voltava para a mente do moreno e ele se pegava com o coração acelerado e a ansiedade lhe corroendo por dentro; ainda assim mantinha um sorriso no rosto.
Parecia que, em seu cérebro, só existiam duas pessoas: Luhan e Baekhyun. E mesmo que, nas últimas semanas, tudo da vida de Sehun girasse em torno do Byun, o chinês estava conquistando mais espaço do que o esperado. Nunca conseguia esquecer Baekhyun por completo, mas caso o medo e o desespero surgissem, caso ele pensasse em fazer besteiras com seu corpo novamente, Luhan aparecia em sua cabeça, sorrindo doce como sempre.
Sua relação com o mais velho era complicada, sabia disso. E sabia que estava nervoso porque iria sair com o mesmo no domingo, mas mesmo assim era como se o rapaz fosse uma fina linha que segurava Sehun, que o mantinha ali. Não, não era a linha que mantinha Sehun vivo, já que ele não vivia mais, apenas sobrevivia. Mas Luhan conseguia proporcionar bons momentos e isso era o suficiente.
E, de pouquinho em pouquinho, ia conquistando espaço no coração petrificado do Oh.
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«chinese cigarettes»
Fanfiction[escrita em 2018] [capa maravilhosa feita pela incrível @Mel_Xiu] Sehun talvez tenha se apaixonado pelo vendedor de cigarros chineses da sua rua. Short-fic HunHan Plágio é crime.