Tinha os olhos úmidos de raiva e humilhação, mas nem por um momento deixou de fitar Alfonso
--... Até que a morte nos separe. - As palavras se arrastaram num sussuro, mais uma vez ela fitou suas mãos entrelaçadas.
O resto passou como um sonho. Ela observou Poncho remover-lhe a alíança da mão direita e colocá-la no terceiro dedo da mão esquerda.
-- Eu lhe comprarei uma mais apertada. - sussurou ele.
Aquela ficava folgada, mas o que importava? Pensou ela. Será por pouco tempo.
Por fim, o padre os declarou marido e mulher e os a presentóu a comunidade como Sr. E Sra. Herrera.
Terminou! Dulce sentiu uma enorme onda de alivio. Mal prestou atenção ao beijo superficial que Poncho lhe deu na frente dos presentes. A seguir, ele ofereceu-lhe o braço e enquanto o organista emitia as notas mais lúgubres que ela já ouvira, permitiu que o marido a escoltasse pelo longo corredor da Igreja.
Atribuindo seu lapso momentâneo à culpa infantil e desnecessária, ela dispensou a ajuda de Alfonso e subiu na carruagem do pai.
Cruzando os braços, recostou-se nas almofadas, de modo a evitar o olhar divertido de Poncho. Que pensasse o que quisesse! Logo estaría livre dele.
Um minuto depois, seus pais escalaram o assento e Fernando tomou as rédeas.
Como se já não bastasse aquele ter sido o pior dia de toda a existência de Dulce, Poncho ainda sentou-se ao seu lado, assoviando. Ao vê-la com uma expressão irritada, ele deu de ombros.
-- Tudo preparado para a recepção, amor? - perguntu ele.
-- Ora, não me amole!
-- Como queira doçura. - ele disse em tom amável, ao mesmo tempo em que retirava em charuto do bolso. Em seguida, esticou um braço e bateu no ombro do sogro. - Tem Fogo, meu sogro?
Ela então arrebatou-lhe o charuto da mão e o atirou na rua.
-- Não se incomode papai. Alfonso esta deixando de fumar. - Nesse instante, seus olhos encontraram os da mãe. - Não me olhe assim, mamãe.
-- Deveria tratar seu marido com mais respeito. - foi o único comentário de Blanca.
-- Oh, sim esqueci. - replicou ela. - A senhora e o papai nunca dirigem uma palavra atravessada um ao outro não é?
-- Dulce María! - os olhos da mãe brilharam em sinal de advertência
Fernando se aproximou da frente da casa e parou a carruagem. Tinha ouvido toda aquela tolice calado.
-- Agora basta de discurssões. Temos convidados chegando. Devemos agir como gente civilizada. - disse o pai
Poncho sorriu.
-- Como quiser meu sogro. O espetáculo é seu e estamos aqui meramente para desempenhar nossos papéis. Vamos entrar senhoras?
Dulce e poncho circularam e conversaram com os amigos de Fernando durante quase duas horas. Os convidados eram extremamente corteses e amigaveis e pareciam estar se divertindo bastante. Mas não Dul. Se alguém lhe perguntasse, não saberia dizer o que a fazia sintia-se tão exasperada. Só sabia que Poncho, com seus modos polidos e sorriso infalivel, a estava enervando a ponto de sentir vontade de esbofetá-lo.
De repente, seu pai se materializou, sorrindo para os recém- casados.
-- Ora, Ora! Parece que vcs dois estão se dando muito bem. - disse Fernando.
Poncho pegou uma taça de champanhe trazida pelo mordomo e a elevou, propondo um brinde.
-- Acho que este casamento nunca ficará desgastado. - disse o pai.
-- Sim, papai, Alfonso e eu temos muito em comum. - afirmou ela, tentando pisar no pé do marido sob a cobertura do vestido.
Os olhos de ambos reluziram. O casal se fitou como dois gatos selvagens.
Astuto, Fernando postou-se entre ambos, antes que eles partissem pra agressão física.
-- Este é o momento de muito orgulho pra mim. - disse o velho em voz alta. - Minha pequena filha se casou com um homem bom, e a Sra. Minha esposa e eu não poderiamos esta mais felizes. Não perdi uma filha. Ganhei um Filho.
Fernando riu e bateu nas costas do genro. Então, tirou uma chave do bolso e a ergueu.
-- Meu primeiro presente aos recém-casados. - anunciou. - A chave de uma suite de lua- de- mel no Hotel internacional.
Dulce prendeu a respiração, observando a chave passar das mãos do paí para a do marido, que em passe de mágica a colocou no bolso.
Poncho deu uma piscadela e Dulce sabia que tinha que cooperar, mas não conseguía. Estava entorpecida por dentro. Aquilo não era um casamento de verdade. Não lhe havia ocorrido até o momento que não dormiría mais como sempre, em sua própria cama. Tomaría o dejejum e então pegaria o trem para San Francisco pela manhã. Esvaziou seu cálice de uma só vez.
-- Que... Surpresa agradável! - conseguiu dizer.
Ao que Fernando arrancou outra chave do bolso e a empunhou com um sorriso.
-- Não faça muito barulho meus, jovens. Eu e minha esposa estaremos na suite ao lado.
Dulce e Blanca fitaram uma a outra sem dizer uma palavra.
Com um sorriso nos lábios, Poncho ergueu a taça de champanhe e propôs um brinde.
-- A segunda Lua-de-Mel do casal Espinosa!
xxx
Poncho saiu para o corredor do hotel, dando uma breve pausa à guerra de nervos que ambos vinham travando durante a última hora. Dizer que as coisas ficaram um pouco piores quando chegaram à suite de Lua-de-mel era pouco para descrever a difícil situação. Dulce havia se trancado no quarto de se vestir, recusando-se a sair para ouvir ou argumentar, embora Poncho tivesse lhe dito que não poria um dedo nela. A fedelha pensava que ele pretendia reivindicar seus direitos de marido e não havia modo de convencê- la do contrário.
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...