Era véspera da Pascoa, finalmente tinha um motivo para sair da cama bem cedo nas férias. Espreguiçou assim que ouviu o celular tocar estridente, denunciando que já era a hora que marcara para sair da cama. Pulou para fora dela e a primeira coisa que fez foi espreguiçar-se. Ainda que estivesse com sono, a animação e entusiasmo não lhe deixavam fechar os olhos. Tinha uma missão, não poderia falhar com ela.
Correu para a cozinha sem nem mesmo passar pelo banheiro e encontrou a mãe ali tomando sua xícara de café antes de sair para o trabalho. Sorriu e aproximou-se, enquanto a mais velha o olhava com a sobrancelha arqueada.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia, menino. Nem passou no bate-chapa. Vai passar essa cara amarrotada.
— Precisa esculachar? Eu estou feliz hoje, obrigado por perguntar. — Resmungou, mostrando a língua para a mulher de cabelos negros que riu em seguida. — O pai? Ele vai voltar para a Pascoa?
— Estou indo, cuidado para não explodir nada. E ai de você se eu achar essa cozinha uma pocilga. Ele ligou, só consegue chegar amanhã a noite. — Afagou os cabelos do jovem que ainda estava de cueca e camiseta, olhos remelentos e os cabelos ouriçados.
— Sabe que nada disso vai acontecer. Vai lá. Bom trabalho. Prometo que deixo tudo limpo e não sou mais criança. Guardarei algo para ele. Te amo, mãe. Bom trabalho! — Beijou a bochecha alheia e sorriu.
— Sei, sei. Lembra de ligar para sua irmã. Te amo, meu pequeno. — Saiu em seguida, e o garoto tratou de se colocar a vontade. Buscou todos os ingredientes que precisaria, bem como as formas e os papéis de embrulho coloridos e fitas de várias cores. Logo em seguida se apressou para o banheiro, afinal, não pretendia ficar com aquele rosto remelento o resto do dia. Fez sua higiene matinal e, aproveitando a calmaria da casa vazia, deixou-se ficar pela cueca.
O clima estava até agradável, ameno. Voltou para a cozinha e colocou um avental, que olhou atravessado por ser rosa e branco, antes de começar seu experimento. Olhou para o livro de receitas, e pegou um tacho, colocando o chocolate ali. Apesar do preço dos ovos de Pascoa andarem nas alturas, estava fazendo artesanalmente por querer impressionar a todos com seus, supostos e inexistentes, dotes culinários.
A cozinha ficava mais quente a medida que cozinhava(?). Tentava cozinhar, na verdade. Seguia a receita com cuidado, mas estava conseguindo fazer uma porcaria ali e os resultados esperados não passavam de ilusões. Quando já passavam das onze começou a ficar realmente aflito. Tinha deixado o chocolate queimar um pouco, a mistura ficava mole demais ou passava do ponto, começou a desesperar. Não tinha jeito para aquilo, mesmo se esforçado.
— Droga... Era só seguir a receita. O que tem de mais? Tsc.
Resmungou para si mesmo e limpou as mãos meladas de chocolate no avental. Um pouco frustrado, voltou para o quarto e pegou o celular. Discou o número da irmã, ansioso para que ela atendesse logo. Aproveitaria para pedir umas dicas.
Jaqueline, a irmã mais velha do jovem, estava viajando a alguns dias. Voltara para o campo para cuidar da avó que estava doente. Seriam os dois a fazer os ovos de Pascoa, juntos, se não acontecesse aquela fatalidade. Vendo-se obrigado a se virar, não desistiria. Tinha uma missão que precisaria cumprir.
****** Início da Ligação ******
— Se você visse o estado da cozinha, jaque. Está uma porcaria. A mãe vai ficar brava, tenho até a noite. Vai, me socorre.
— Tá bom, seu chato. A vó está de cama, não posso viajar agora e nem chegaria a tempo. Liga para o...
— EU NÃO VOU LIGAR PARA ELE!!!!!
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Não vai Prestar!
Short StoryÉ véspera da Páscoa e Yuri tem uma missão. Fazer ovos da Páscoa, sozinho. Porém, seus dotes culinários se revelam ser um grande DESASTRE e se vê obrigado a aceitar ajuda daquele que lhe deixa com as pernas bambas. Dois amantes, uma cozinha, muito f...