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Era aproximadamente 6:00h, quando o canto do galo me desperta, me lembrando de que o dia hoje seria longo. Talvez o mais longo de toda a minha simples vida,de meu quarto sinto o cheiro de café e um pequeno rádio canta as noticias daquela manhã. Me levanto, espreguiçando na cama,depois de esfregar meus olhos na tentativa de espantar do sono que ainda insistia em me dominar, os mesmo se voltam para o chão e as três malas ali presentes. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo, uma garota do interior de Minas, indo cursar uma graduação na Coréia do Sul.
Eu simplesmente não sabia distinguir se aquilo era uma oportunidade ou um castigo. Sou muito apegada a minha família e nunca tinha viajado sozinha ate mesmo para cidades próximas. Não por conta de meus pais, pois eles sempre me diziam que eu tinha que sair mais de Estiva, conhecer outros lugares.

" Filho a gente tem que criar como passarinho, solto pra voar pelo mundo até encontrar seu lugar."

Era o que meu pai sempre me dizia, eu ficava calada, mas não concordava, eu não precisava ir a lugar nenhum pra saber que eu pertencia a Estiva, aquela pequena fazenda, alias eu não precisava de nada pra saber que meu lugar era perto dos meus pais.

- Ana o que você tem na cabeça?- digo enquanto passo a mão pela minha cabeça, bagunçando levemente meus cachos já amassados. Meus olhos começam a se encher de lágrimas, eu queria desistir, se não fosse por meus pais e todo esforço que fizeram pra me dar uma boa educação, eu juro que nem minhas malas eu teria feito. Mas eu tinha que ser forte, por eles.

Entrei em meu pequeno banheiro, e tomei um banho refrescante, sentindo a água morna cair sobre meu corpo, dando- me uma sensação de calma, junto com a água do chuveiro deixo algumas lágrimas escorrerem pelo ralo, lagrimas.de medo, de incertezas. Eu ainda não sei nada sobre a vida... e se eu errar? E se eu cair?

" Se cair levanta, se errar concerta. Não há nada que não possa ser resolvido."

Novamente as sábias palavras de meu pai vem em minha mente, um homem tão sofrido, que nunca teve a oportunidade de frequentar a escola, era a pessoa mais inteligente que eu conhecia. Tinha um conhecimento de vida que ultrapassava o de professores universitários.Aquele homem, mesmo sem saber ler adequadamente e até mesmo escrever seu próprio nome, sustenta nossa família através do suor de seu trabalho e através de seu grande anseio pelo novo, nossa vida cada vez mais progredia com o cultivo de morango e a produção de vinho de morango, a mais nova invenção de Seu Afonso.

Saio do banheiro ainda pensando em tudo aquilo, coloco uma roupa confortável para a viagem que duraria praticamente o dia inteiro, prendo meus cachos em um coque desengonçado, e passo apenas um gloss nos lábios. Analiso minha expressão no espelho, minha pele morena e a boca carnuda contrastando com o verde esmeralda de meus olhos.

- Bom, não há nada mais que eu posso fazer, a não ser criar coragem e sair desse quarto.- digo a mim mesma e suspiro pesadamente.

Saio de meu quarto tentando equilibrar as três malas, mas assim que estou na porta vejo mãos estendidas para me ajudar. Minha mãe pega a mala de mão e meu pai pega a mala maior.

- Ufa! Obrigada.- digo despencando sobre a cadeira.- Essas malas estão muito pesadas acho que vou ser barrada por excesso de peso.- digo pegando um pedaço de bolo se cenoura, feito especialmente pela minha querida mãe. Do qual sentirei muita falta quando eu partir.

- Calma filha, vai dar tudo certo.- minha mãe diz e eu confirmo com a cabeça, mas não olho em seus olhos, sei que se eu olhar vou chorar. Engulo o pedaço de bolo em minha boca, que naquele momento parecia maior que o normal e sem gosto.

- Não vai comer o pão de queijo?- meu pai pergunta, e eu pego um apenas para que ele não fique preocupado e esboço um sorriso.
Os dois não falam nada, eles sabem como me sinto naquele momento, não é necessário nenhuma palavra de ambas as partes. Eles sabem que estou com medo, eles sabem que já estou com saudades. Eu sempre fui uma garota insegura, frágil e dependente, não tinha certeza de que minhas asas já estavam fortes o bastante para que eu alçasse voo sozinha. Nos meus planos eu simplesmente me formaria no ensino médio, trabalharia no campo juntamente com meus pais, me casaria e viveria em Estiva até o fim dos meus dias. Eu nunca imaginaria morar em outro pais, com outra linguá, outra cultura e pessoas totalmente desconhecidas.

- Filha...- minha mãe fala estendendo os braços e eu não me seguro, no colo daquela mulher com as mãos calejadas eu choro como um bebê. Meu pai acaricia meu cabelo e me da um beijo na testa. Eu olho bem em seus olhos tentando gravar cada parte do rosto dos dois, afinal eu não saberia quando iria revê-los novamente, depois que eu partisse.

- Eu amo vocês. Muito.- digo limpando as lágrimas que escorriam teimosas por minha bochecha.

-Nós também.- eles disseram juntos.

Já estava decidido, por mais que eu chorasse, por mais que me doesse imensamente. Eu iria sim pra Coréia do Sul. Meus pais investiram muito em mim e eu tinha que fazer esse sacrifício por eles e me dedicar, ate que eu pudesse retornar.

Ajudo minha mãe a arrumar a cozinha enquanto o carro que me levará ate o aeroporto não chega. Meus pais não poderão ir comigo, pois a viagem ate la era longa e eles tinham que cuidar da plantação e da fazenda. Escuto o barulho das rodas de uma Picape e um som de buzina, meu coração acelera naquele mesmo instante e sinto um aperto no peito. Engulo em seco, não posso mais chorar, não aqui na frente deles. Pego minha mala de mão, enquanto João e meu pai arrastam as outras duas malas para fora de casa, em direção ao carro estacionado na porta. Dou o meu ultimo abraço apertado em minha mãe, tomo a benção de meu pai e entro no veiculo escuro com lagrimas se formando em meus olhos. Meu coração doía como nunca antes.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2019 ⏰

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Trouble- Kim NamjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora