1- Apresentando-me

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Bem, caro leitor, eu me chamo Cristie e vou contar um pouco da minha história pra vocês. Por favor, não fiquem chateados comigo por coisas que acabarei fazendo. Em boa parte do tempo não tenho total culpa do que acontece. Enfim, vou começar pelo que sei até agora, ou pelo que posso falar até o momento. Eu vivo em Asgard e amo esse lugar. A culinária, as paisagens, o castelo em si, porém eu odeio as pessoas daqui. Tem algo de estranho neles em relação a mim, é como se tivessem medo de me contar a verdade, alguma verdade. Freya diz que sou paranoica e, talvez, seja mesmo.

Quando criança costumava brincar com os príncipes: Loki e Thor. Loki e eu adorávamos pregar peças em Thor. Como sempre fui muito persuasiva com Loki, conseguia fazê-lo aprontar as maiores traquinagens com o irmão mais velho. Uma vez o convenci a fazer o irmão crer que havia cobras em sua cama, foi hilário, por um tempo. Quando Frigga nos viu, ela logo entendeu o que tinha ocorrido ali, ficamos de castigo. Entretanto, até o castigo era divertido.

Quando a princesa Freya completou três anos, acharam melhor ela ter uma dama de companhia e eu fui a escolhida. Fui trocada de quarto, passei a morar na ala dos criados. E D. Silla foi incumbida de me ensinar o meu verdadeiro lugar ali. Meus dias em Asgard se tornaram desagradáveis. Passei a odiar cada segundo da minha existência. Ter de limpar os quartos, as botas, sempre ficar de cabeça baixa quando falam comigo e sempre fazer tudo para Freya se sentir confortável. Mas, não me entendam mal, não odeio Freya. Ela é a única parte boa nesse trabalho, ela é minha melhor amiga. Mesmo com D. Silla dizendo que não devo me sentir assim por qualquer um deles.

Minha amizade com os príncipes acabou por completo, não tenho mais qualquer contato com eles, a não ser nas festas. Odin e Frigga sempre souberam fazer grandes comemorações. Nos dias que D. Silla não resolvia me punir por algum comportamento que ela desaprovava, eu conseguia dançar a noite toda. Freya sempre odiou festas, então todos tinham de me ver no salão, porque se eu ainda estava ali, ela deveria estar também. Então, vinham me perguntar por ela e sempre criava alguma desculpa pelo sumiço da princesa. Nessas noites conseguia voltar a falar com o Thor e o Loki. Costumávamos sair quase no final da festa pra ver o dia amanhecer em uma das varandas. Comíamos, bebíamos e nos lembrávamos da nossa infância.

Como disse antes, eu amo Asgard, porém odeio como me tratam. Menos Thor, Loki e Freya. Eles sempre me trataram como alguém igual a eles. E, talvez, esse seja meu erro como criada, porque não me sinto abaixo de ninguém naquele castelo. Nem mesmo de Odin ou Frigga. Apesar de eles, constantemente, tentarem me fazer sentir o contrário.

Bom, hoje acordei cedo para colher algumas flores para o quarto de Freya, as que têm lá já estão horríveis. No momento em que estou voltando escuto os seus gritos a minha procura.

—Graças a Odin! – Exclama Freya.

—Qual o motivo de toda essa gritaria?

—Meu pai dará uma festa para encontrar um noivo pra mim.

—Estou sabendo disso. – Comecei a rir. –Desculpa!

—Cristie, você precisa me ajudar a fugir dessa loucura do meu pai.

—Por que não conversa com ele?

—Você está falando sobre Odin. Não tem argumentação com ele.

—Isso é verdade.

—Ajuda, por favor!

—Está bem! – Respiro fundo. – Você some no meio da festa, como sempre faz. Eu encontro uma desculpa por você.

—Obrigada! – Freya me abraça e ela sabe como detesto quando faz isso. – Você é a melhor.

—E você ainda vai me colocar em problemas.

—Olha, pra agradecer tudo que faz e já fez por mim, tenho uma surpresa pra você!

—Qual?

—É surpresa, sua boba. Só vou te mostrar na hora certa.

Freya sai toda empolgada e vou trocar as flores do quarto. Depois de arrumar todo o local, saio para jogar o arranjo antigo fora. Sabrina, ajudante de D. Silla, aparece e diz para depois ir à cozinha. Antes de ir até lá, resolvo ficar algum tempo no pátio olhando os guerreiros treinar. Adorava olhar aqueles homens fortões e suados praticando seus exercícios.

Na cozinha, toda a alegria do meu dia acabou. D. Silla estava com raiva por tê-la feito esperar, falei que estava cuidando de umas coisas pra festa, mas não caiu nessa. Acabou me mandando arrumar os quartos dos príncipes enquanto se encontravam ocupados. Fui primeiro para o do Loki, deixava o pior por último, Thor não era bom com organização. Sempre que ia limpar o quarto do Deus da trapaça, costumava mexer nos livros dele. Eram ótimos! Peguei um na prateleira e sentei na cama lendo, estava tão interessante que devo ter me distraído por horas. Não sei bem por quanto tempo fiquei lendo, porém ao levantar a cabeça, por ter ouvido um barulho, vi o Loki já de volta do treino olhando pra mim e rindo. Levei um susto tão grande que levantei de uma vez deixando o livro cair. Abaixei e o peguei rapidamente.

—Oh! Senhor me desculpe. – Mantive minha cabeça abaixada como D. Silla me ensinou.

—Tudo bem, Cristie. Pode levar o livro, se quiser. Devolva ao terminar.

Realmente considerei a possibilidade, mas não queria fazer nada para D. Silla me manter longe do salão durante a festa. Além de ter de ajudar Freya inventando algo para justificar sua ausência, gostaria de mais um amanhecer de sonho, relembrando a infância. Então, apenas deixei o livro no lugar e saí. Senti seus olhos postos em mim durante todo o caminho até a porta. Arrumei o quarto do Thor o mais rápido que consegui e voltei para arrumar o do Loki, depois que já tinha saído.

Passei o restante do dia na cozinha tentando ajudar, mas como mais atrapalhava. Mandaram-me ir decorar o salão. No fim do dia, fui auxiliar Freya com sua roupa, acessórios e cabelo. Ela ficou linda no vestido cor de neve, com o cabelo preso e um belo colar dado por Odin. Foi aí que decidiu me mostrar a surpresa. Era um vestido digno de princesa.

—Cristie, é ridículo você não ter uma roupa apropriada para usar nos bailes daqui.

—Acontece que sou uma criada, não uma convidada. Posso passar a noite ao seu lado e até sentar a mesa, porém isso só acontece por ser sua dama de companhia.

—Você é minha amiga, acima de qualquer coisa. Experimente o vestido.

—Eu não posso e você sabe disso. Vai me causar problemas.

—Como minha dama de companhia você me deve obediência. Não é verdade?

—Sim. – Já sabia aonde isso ia dar.

—Então, coloque o vestido.

Como podem ver, não tive muita escolha e, confesso, estava com muita vontade de coloca-lo. Era de um azul magnífico!

Ambas arrumadas, fomos para o salão e ao entrar, todos se viraram para nos olhar. Dava pra sentir o quanto estavam admirados com nossa beleza. Fiquei feliz ao vê o rosto do Loki, ele estava boquiaberto. Entretanto, as expressões de Odin e Frigga não eram nada boas. Não passei cinco minutos ali, D. Silla veio até mim, saiu me puxando e empurrando até chegarmos lá fora. Vi como Freya ficou furiosa, Loki tentou fazer algo, mas Thor o impediu, seguindo a ordem de Odin.

—Você é maluca menina?

—Por que? Foi a Freya quem me pediu para usar. E, tecnicamente, estou certa, pois você mesma diz que devo sempre obedecê-la.

—Não me venha com suas gracinhas. Tire já essa roupa e vá para a cozinha.

Nunca me senti tão humilhada e com tanta raiva. Mas, eu ia aguentar. Só mais essa noite... É assim que tenho vivido. Vou sobreviver a mais esse dia. Ainda fico aqui por causa da Freya, mas logo ela estará casada e irá morar com o marido em algum lugar. Então, poderei ir pra longe dessas pessoas.   

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