Tortured Soul (Yandere Simulator)

Único

Existem diversas definições divergentes do que seria uma "alma torturada", uma vez que esse termo tão vago pode ser levado a diversos sentidos em diversos contextos. Num aspecto geral, todas as definições ditas chegam a um ponto em comum: um ser de existência vazia, aquele vaga pelo mundo em busca de um significado, algo para preencher uma lacuna em seu peito causada pela angústia e dor.

Durante todos os meus dezoito anos de vida, pude ouvir dos mais variados comentários sobre mim. Uns mais estranhos e atrevidos que outros. Desde "hipster pretencioso" a um "misantropo cínico" – sendo este último não tão errado assim, afinal. Mas aquela tinha sido a primeira vez a me chamarem daquela forma. E tinha vindo justo daquele meu maldito amigo de infância, cujo único objetivo de vida é "dominar o mundo" da forma mais conveniente possível: casando-se com a perfeita e inalcançável Megami Saikou.

Defendendo-me, não é como se ele pudesse falar alguma coisa sobre a minha pessoa. Pensar que um dia ele já foi um garoto prodígio e aspirante e que hoje se resume a nada mais que um psicótico faminto por poder incomoda o meu mais profundo ser. Tenho uma nova decepção com a humanidade a cada dia que passa. As vezes pego-me pensando sobre o que eu teria me tornado se não fosse capaz de externar meus sentimentos pela pintura, que foi o único alívio que eu encontrei.

Veja, tudo isso começou muito cedo em mim. Fui inspirado desde criança a desenhar, me baseando nos animes e mangás da época. Meus pais brigavam comigo ao me verem acabando com a tinta de todas as canetas da casa. Toda semana eu saía com a minha mãe para comprar um pacote novo de giz de cera. Foi quando, em uma dessas semanas, aquilo aconteceu. Eu era pequeno demais para me lembrar de todos os detalhes, mas a cena de ver minha própria mãe sendo esfaqueada por aquela mulher de cabelos negros permanece viva em minha mente até hoje. Não somente isso, mas também pelo fato d'ela ter sido a mulher que arruinou a vida do marido da minha tia. Nunca fomos próximos, mas minha mente arde em amargura diante de tudo isso. Uma mulher para quem a justiça fechou os olhos, um jornalista fracassado e bêbado, uma prima que anos depois me ameaçou caso eu testemunhasse algo contra aquela assassina porque queria fazer "do seu jeito".

O mundo desmoronava em minha volta e eu não podia fazer nada.

Então, para não entrar em conflito com o mundo real, passei a dedicar cem por cento do meu tempo à arte. Me isolei do exterior, aprisionei-me em meu próprio mundo e descontei toda a minha fúria e rancor em meus desenhos e pinturas. Eu conseguia ver obras de arte nos cantos mais sujos. Qualquer um que ouse se aproximar é repelido de imediato, odeio que me interrompam para me trazer ao mundo real. Acabei me tornando uma pessoa fria e reclusa, de fato uma alma torturada.

Mas quando percebi isso, já era tarde demais.

Assim como Van Gogh, eu coloquei meu coração e alma em minhas pinturas, e acabei perdendo a cabeça durante o processo.

-x-

Eu por muito tempo pensei que ficaria assim eternamente, pisoteado em minha solidão sem fim. Fechado em minha própria área de conforto.

Até que você veio até mim.

Ayano Aishi. Com suas madeixas negras presas em um rabo de cavalo, cuja franja caía a altura de seus olhos. Seus lindos olhos escuros como a noite, grandes como requer o padrão japonês, mas que não expressam nada. Somente o vazio. Foram a primeira coisa que eu reparei ti, quando me veio perguntar com sua voz dócil se poderia participar do meu clube. Lembro-me de como você teve que erguer o rosto para poder manter o contato visual, parecendo tão pequena comparada a mim. Graciosa.

A princípio, não achei que detalhes tão simples como esses fariam tais impulsos fluírem em meu peito. Mas os dias se passaram, pude conhecer um pouco mais da sua pessoa – mesmo que de longe. Você pouco fala, pouco se expressa, suas perguntas são tão vagas e misteriosas. Seus desenhos, no entanto, são tão obscuros e tocantes correlacionando o amor e a morte. Todo o seu ser atiça a minha mente, obtendo para si toda atenção que eu deveria dar aos outros membros do clube. Quando menos percebi, me encontrei totalmente afeiçoado por ti.