i've never learn how to love

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Keith Kogane era

fraco

esquelético

paranóico

desprezível.

Por isso eu choro.

fraco

Keith Kogane nunca venceu uma luta sequer a sua vida inteira. Era fraco e pequeno. Ele fingia que não sabia disso. A mãe dele o deixou logo após o parto e seu pai o deixou sozinho em uma cabana no deserto para morrer de fome aos seis anos. Infelizmente, ele não morreu.

Keith era um bebê chorão. Chorou todas as noites durante dois anos depois que seu pai o deixou. Quando tinha oito anos e vira o seu pai adotivo abusar de sua irmã adotiva, ele parou de chorar. Quando tinha dez e estava em seu décimo quinto lar temporário e sua nova mãe se matou em sua frente, Keith Kogane não soltou nenhuma maldita lágrima.

Não chorou até que completasse 17 anos. Quando tinha dezessete anos, Keith Kogane cortou os pulsos e tomou 4 garrafas inteiras de tequila. Ele chorou por não ter morrido.

Quando tinha cicatrizes no pulso, Keith Kogane se apaixonou.

Por isso eu arranho minhas pernas.

Lance era lindo.

Keith não.

Lance era gentil e quente e simpático e amável e feliz e Keith não podia deixá-lo ir.

esquelético

Queria ter Lance só para si.

Não queria ser abandonado outra vez.

Lance Lance Lance Lance Lance Lance Lance Lance

Keith Kogane amava Lance McClain mais do que qualquer coisa.

Se Lance fosse um pouquinho menos gentil, ele teria fugido.

Mas ele não o fez. Então Keith agarrou-se a ele o manteve cativo em seu amor doentio.

KEITH NÃO DEIXARIA QUE LANCE O ABANDONASSE

Não importa se para isso ele tivesse que parar de comer para ser mais bonito. Quando Lance passava a noite na casa do coreano, esse não dormia - passava a noite toda observando o maior, para ter certeza que ele não iria embora.

Os beijos de Lance eram sempre tão suaves e bons.

Amar doía.

Amar Lance, não.

Tudo era sempre tão bom com o cubano, Keith não acreditava que algo de bom finalmente havia acontecido consigo.

Keith

Kogane

Não

Merecia

Lance

McClain

Por isso eu apago sua existência.

Eu me junto ao vazio que sempre senti.

paranóico

Keith Kogane conseguiu fazer com que todos aqueles que amava o deixassem, mesmo quando tudo o que ele mais queria era que eles ficassem. Sua mãe fora uma sortuda que não tivera a chance de conhecê-lo. Seu pai foi esperto, assim como todas as outras 37 famílias adotivas que provaram de sua companhia e decidiram que não a apreciavam.

Dor sempre fazia cócegas na mente de Keith.

Quando ele gritava e socava e arranhava numa fúria sem sentido porque ele era um fraco e esquelético e paranóico que havia deixado de tomar seus medicamentos pois acreditava cegamente que estava bem e quase se mata a mata a porra de seu namorado.

desprezível

Keith machucou Lance.

Ele se odiava por isso.

Ele era burro e egoísta e egocêntrico e ruim e estúpido e é por isso que eu engulo todos os remédios que Keith comprou e que deixou de tomar.

Por isso eu me entupo de entorpecentes e forço pela minha garganta as cinco malditas caixas de remédios que Keith tinha em casa e que Shiro o ajudava a administrar.

Mas Shiro não estava aqui.

Porque Shiro havia deixado Keith porque Keith era mau.

Por isso eu faço um favor à Keith e tranco a porta do banheiro e abro suas cicatrizes antigas e bebo e bebo e bebo e bebo e corto e bebo e corto e bebo e corto e bebo até que não há mais força para cortar e não há mais nada para beber.

Lance sobreviveu.

Lance ficou ao lado de Keith.

Lance está vivo, respirando, e logo estará sorrindo novamente.

Porque Keith não estará mais por perto para estragar a vida de mais ninguém.

Eu odeio Keith Kogane e sei que ele me odeia.

Odeio como ele sobreviveu miseravelmente sozinho no deserto aos seis, odeio como ele não fez nada sobre a vida dolorida de sua falsa irmã, odeio como ele não conseguiu fazer cortes profundo o suficiente e odeio como ele destrói tudo o que toca.

Odeio como seus ossos são visíveis e como seus olhos são escuros e vazios e enterrados no rosto e odeio como sua pele é pálida e amo como suas cicatrizes ficam lindas abertas e amo que as novas nunca se fecharão.

Eu amo matar Keith Kogane.

Porque quando eu mato Keith Kogane eu mato seus pesadelos e suas imperfeições e sua maldade e seus demônios e seu feio corpo e sua feia voz e sua feia alma.

Keith Kogane não merece a felicidade.

A verdade é que tenho dó de Keith.

Se eu quisesse que ele sofresse de verdade, o deixaria viver.

O deixaria continuar beirando para sempre na paranóia e no vazio e no escuro e na dor, o deixaria afogar nos próprios monstros.

Mas Keith Kogane sou eu e eu sou Keith Kogane.

E eu nunca me cansarei de ser egoísta.

Então, encaro meu corpo sangrento na banheira e dou risada.

Uma última dor antes que tudo acabe.

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