Capítulo 9

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É natureza humana em geral, ou apenas meu tormento pessoal enterrar algumas lembranças dolorosas tão profundamente dentro de si, que eu quase nunca me lembro se houveram realmente algumas experiências horríveis na minha infância para enterrar... isto é até que a noite chega. Os pesadelos são o catalogador cruel dessas lembranças que são as mais pesadas na alma de alguém. O estresse sobre a segurança da minha família, das recentes semanas, apenas incrementou esses pesadelos. Lembranças, que eu não tinha recordado antes, surgiram viciosamente ontem à noite. Ana tentou me ajudar, sacudi-las para fora de mim. Como poderiam ser apagadas quando deixaram marcas permanentes no tecido da minha alma? ***** ❦ ♡ ❧ ***** O feio, imundo, tapete verde manchado e meu pequeno carro velho de brinquedo estão de volta. Mamãe ainda está no sofá. Ainda não se movendo. Meus pés descalços fazem pequenos ruídos abafados enquanto eu ando para ela. Eu coloquei meu cobertorzinho sobre ela, mas ela ainda está muito fria. "Mamãe?" Eu sussurro. Ela não pisca. Ela não se move. Eu me inclino para olhar seus olhos. Eles me olham de volta. Mas eles não me vêem. Seus lábios não sorriem quando eu a chamo. Nós estamos sozinhos. Ele não está aqui. Mamãe sempre sorri quando ele não está aqui. Mamãe sempre me abraça quando ele não está aqui. Mamãe sempre acaricia meu cabelo e me beija quando ele não está aqui. Eu levanto os lábios da mamãe para fazê-la sorrir. Eles estão frios. Eles estão roxos como Barney, o dinossauro. Eu olho para seus olhos novamente. "Mamãe? Você pode me ver?" Mamãe não diz nada. Mamãe não fala. Talvez a mamãe esteja brava com o Christian. Eu pisco para ela. Talvez ela se esqueceu de como piscar. Ela não pisca. Beijo a bochecha da mamãe. Está fria. "Mamãe, estou com fome." Mamãe não me dá comida. Mamãe dorme com os olhos abertos. "Você quer brincar com meu carro?" Eu ofereço-lhe o carro. Ela não olha para o meu carro. Ela não diz "Obrigada, Christian. " Mamãe fica em silêncio. Eu levanto-o bem na frente de seus olhos. Não. Ela olha para ele. "Mamãe?" Eu sacudo seu ombro. Seu braço cai e sua mão faz um som. Thump! "Você se machucou mamãe?" Eu largo o carro e me sento no chão. Levanto a mão da mamãe. Sua mão está fria. Sua mão está roxa também. Mamãe está machucada. Eu seguro sua mão e coloco o brinquedo nela. Mas ela o deixa cair. Eu o pego de volta. "Mamãe, fale comigo!" Eu começo a chorar. Os lábios da mamãe não se movem. Mas ela chama por mim. Uma e outra vez. "Christian! Christian!" A porta da frente range. Choca-se na parede. Tuc. Tuc. Tuc. Ele entra com grandes passadas. "Que porra é essa? A cadela se suicidou!" Sua voz ressoa. Eu me encolho. Quero proteger a mamãe. Ele levanta sua mão grande. Tapa! Eu vôo para longe do sofá. Meu carro voa da minha mão e bate na parede. Eu não digo "meu carro!" Ele vira a minha mãe. "Porra! Porra! Puta cadela! Que porra! O que você está olhando, estúpido?" Ele me chuta com suas botas grandes. Meu corpo rola como meu carro e minha cabeça bate na parede. Minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Mamãe tinha dito 'não chore quando ele te bater. Isso o deixa louco." Mas minhas lágrimas vêm sem me perguntar. "Você está chorando, seu pequeno bastardo? Está? Droga de merdinha! " "Desculpe, mamãe!" Eu decepcionei mamãe chorando. "A cadela não está aqui! Ela morreu!" Ele zomba. "Porra! Cheira a morte neste buraco de merda! A puta cadela me fez perder muito dinheiro! Eu poderia ter vendido aquela buceta por mais dez anos! " Ele tira a mamãe do sofá e chuta ela! "Não! Mamãe!" Eu tenho que proteger a mamãe. Ela está fria. Ela está dormindo. Ela está dormindo com os olhos abertos. Mamãe precisa de mim. Eu corro para ela. Ela está no chão. Seus braços estão torcidos. "Mamãe!" Eu coloco meus braços em volta dela. "Não a chute, por favor!" "Ela morreu! Seu estúpido pedaço de merda!" Eu vejo sua bota vindo para mim. Eu abraço mamãe apertado. Meu corpo inteiro está apertado. Dói menos assim. Sua bota me chuta na bunda. "Eu estou fora daqui!" Ele bate a porta. Sacode o apartamento. Eu abraço mamãe mais apertado. Mamãe não está quente. Mamãe está fria. Quero que a mamãe me abrace. Quero que ela fique quente. Quero que a mamãe acaricie meu cabelo. Quero que a mamãe fale. Chore. Mamãe está em silêncio. "Acorde, mamãe! Acorde!" Eu choro. ***** ❦ ♡ ❧ ***** "Christian! Christian! Christian! Baby!" Então sua voz muda. Suave. Gentil. Soluçando. Estou chorando. A voz da mamãe está chorando. ***** ❦ ♡ ❧ ***** Silêncio... Então finalmente, "Christian..." chama a voz suave, repleta de amor, que poderia transformar um moribundo em uma vida florescente. "Mamãe!" Eu me sinto entorpecido. O entorpecimento é preferível à dor insuportável. Esconde o medo como um cobertor. Esconde minha fraqueza também. Minhas mãos pequenas. Braços pequenos. Mamãe não está se mexendo. Mas mamãe está me chamando para me salvar. ***** ❦ ♡ ❧ ***** Respiração rápida, semi-escuridão e eu abruptamente me sento. Um bebê chorando soa como música para os meus ouvidos. Teddy está na cama? Devo ter assustado ele. A mão gentil de Ana já está no meu cabelo, tentando me acalmar. "Apenas um sonho ruim, " murmuro tentando diminuir meu pulso. "Onde está Teddy?" Eu olho ao redor. "Ele está no quarto dormindo, baby. Estou preocupada com você," ela murmura suavemente. "Eu estou bem!" Eu ignoro isso. "Eu pensei ter ouvido o bebê chorar." Eu não quero preocupá-la. "Não era o bebê, querido. Era você," ela murmura suavemente. Então ela pega meu rosto em suas mãos e beija as lágrimas que eu não sabia que tinha na face..

50 tons de liberdade (versão grey) parte 5Onde histórias criam vida. Descubra agora