─ Põe mais uma dose aqui! – Nathan disse para David com voz mole, depois de beber o quinto copo de whisky.
─ Cara, você não acha que já está bom por hoje? ─ o barman disse com tom ameno enquanto secava um copo com um pano de prato branquíssimo.
─ Eu tô dizendo para encher a porra desse copo. ─ o jovem de cabelos castanhos e olhos verdes sibilou, levantando o copo e batendo ele com força no balcão do bar. David balançou a cabeça e se afastou, não querendo começar uma discussão com seu amigo e cliente de longa data.
Nathan suspirou e olhou para o fundo de seu copo de vidro, tentando encontrar as respostas para seus problemas. Ele frequentava o David's Roadside Bar á um bom tempo, fazendo de lá tanto sua segunda casa quanto seu confessionário, e depois de tantas conversas, David começou a entender que Nathan tinha mais problemas do que era saudável ter.
Aquela era uma zona rural no interior do Maine, e a maioria das propriedades eram na verdade pequenas fazendas e ranchos de onde as famílias tiravam seu sustento. E com Nathan não era diferente, o homem de cabelos escuros havia herdado seu pequeno rancho e milharal quando seu pai Rodney havia morrido alguns anos atrás.
Enquanto o Velho Rodney tinha sido próspero e tinha o que eles chamavam de "mão verde" (quando a pessoa tem aquele talento com a plantação e tudo o que se planta cresce), nas mãos de Nathan a plantação parecia definhar a cada dia, não importava o que ele fizesse, não importava a quantidade de fertilizantes e vitaminas que ele usasse no solo.
E como se isso não fosse suficiente, ainda havia aqueles malditos corvos.
Aquelas criaturas nojentas, aquela praga, havia chegado em seu rancho alguns meses atrás e estavam acabando com sua plantação, comendo os grãos dos poucos milhos que vingavam e ele não sabia mais o que fazer. Ele já havia colocado espantalhos, os corvos nem ligaram; ele havia colocado veneno, mas a cada um corvo que morria apareciam mais três em seu lugar. Ele não sabia mais o que fazer. Se ele conseguisse se livrar dos malditos corvos talvez sua plantação tivesse uma chance de voltar a ser o que era e ele poderia sair do buraco no qual se enterrara.
Por que com a produção de milho cada vez menor, o dinheiro foi diminuindo, as contas foram se acumulando, as brigas com sua esposa Mariane aumentando de frequência, assim como suas noites naquele bar de beira de estrada e seu consumo desenfreado de whisky barato.
O homem não tinha mais do que trinta anos de idade, mas parecia (e se sentia) mais velho por causa das rugas evidentes em volta de seus olhos, suas olheiras crescentes e sua feição cansada de quem levou uma surra da vida.
Pobre coitado.
David olhou para Nathan e pegou a garrafa de Jack Daniels.
─ Olha, cara, eu vou colocar mais uma pra você, mas essa é a última. Depois disso você vai para casa. Já passou da hora de fechar, se você não reparou, só tem você e eu aqui. Você vai para casa, vai dormir, vai tomar vergonha nessa cara e dar a volta por cima.
David encheu o copo de Nathan com aquele abençoado liquido dourado com uma expressão muito reprovadora.
─ Assim você não vai cativar seus clientes. – Nathan disse e recebeu um olhar gelado de David.
Nesse momento eles ouviram o telefone tocando lá longe, no escritório do bar. David olhou para trás e olhou para Nathan.
─ Eu vou atender o telefone e quando eu voltar eu vou fechar o bar, está me entendendo? ─ o barman disse com tom de finalidade.
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O Pacto dos Corvos - Conto
Short StoryNathan é um jovem fazendeiro que não tem sorte na vida. Se não bastasse sua plantação estar indo de mal a pior, seu relacionamento com sua esposa Mariane também está indo por água abaixo. Ele afoga suas frustrações com bebida e o melhor lugar para i...