Capítulo 4 - It's time

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Olhava concentrada para o vidro a minha frente, eu podia ver Cora do outro lado com uma expressão tão serena enquanto o médico falava sobre seu estado. Cada palavra dele eu sentia minha alma com uma dor indescritível, meu corpo caindo sobre ele mesmo internamente, e eu ficava sem capacidade de me erguer novamente. Lágrimas desciam pelo meu rosto de forma intensiva, não conseguia acreditar que a mulher que estava na outra sala possuía uma sentença de morte decretada pelo seu próprio corpo.

— A senhora Mills foi diagnosticada a tempo de receber tratamento para o glioblastoma que ela possui em seu lobo occipital, mas por escolha dela não recebeu esse tratamento que prolongaria sua vida mais alguns meses pelo menos. – Explicava o doutor enquanto eu me virava em sua direção e voltava a prestar atenção no que era dito.

— E porque minha mãe ia escolher morrer? Não tem sentido uma coisa dessas. – Dizia Regina visivelmente alterada

Mills possuía lágrimas em seus olhos que eu podia ver, mas mostrava-se orgulhosa demais para deixá-las escorrer livremente por sua face.

— Cora não iria querer estar presa a uma cama, ela preferiria viver do seu jeito até o fim. Por isso negou o tratamento. – Respondo a pergunta de Regina já que o médico parecia não saber o que dizer naquele momento. – Quanto tempo, doutor?

— Alguns dias, talvez até uma semana, mas não mais que isso. O tumor já está muito avançado, não creio que ela seja capaz de sair desse estado inconsciente.

Agora quem encarava a imagem de Cora refletida no vidro era sua filha, eu não conseguia encará-la naquele momento com minha mente me trazendo lembranças de mortes que eu preferia não ter presenciado. Era tudo acontecendo novamente, alguém que tinha imensa importante para mim estava sentenciada a morte.

— Em seus últimos exames a senhora escolheu assinar o termo para que não tentássemos mantê-la viva ou ressuscitá-la, por esse motivo em breve teremos que desligar todos os aparelhos.

— Vocês não vão desligar nada, minha mãe vai continuar desse modo se a mantém viva. – Regina se pronuncia como se sua voz rouca e autoritária.

— Desculpe-me senhorita, mas o hospital não pode passar por cima dos desejos da paciente. Não sabemos como seu corpo reagira a chances dele ainda aguentar. Eu lhes darei um tempo para se despedirem, só não posso impedir o desligamento. Sinto muito. – Com essas últimas palavras, o doutor Chase se afasta nos deixando ali em frente ao quarto sem qualquer rumo.

Continuo parada olhando a movimentação que aquela ala possuía, em um canto eu conseguia ver um casal chorando enquanto diversos enfermeiros e médicos entravam e saiam apressados do quarto ao qual eles estavam em frente, um pouco mais próximos a nós eu via um homem tentando acomodar-se em uma cadeira ao lado da cama de uma mulher que estava de olhos fechados e só os barulhos das máquinas podiam ser ouvidos. Cada um que estava ali possuía uma história e cada um sentia algo diferente e eu e Regina não erámos exceção, apenas precisamos enfrentar o que havia dentro de nós, não tinha outra saída.

—Vamos entrar ou quer ir sozinha? – Pergunto virando-me para ficarmos frente a frente.

Ela continua quieta e por alguns segundos me fazendo pensar não me ouviu, porém logo recebo uma resposta:

—Acho que não conseguiria entrar sozinha.

—Vamos então. - Digo começando a ir para porta e limpando as lágrimas que ainda possuíam resquício em meu rosto.

Sem trocarmos nenhuma palavra paramos enfrente a por do quarto, eu direciono meu olhar para a morena que estava ao meu lado a encarando perguntando se estava tudo bem e ela que parece me entender apenas assente com a cabeça. Então abro a porta e lhe deixo entrar na frente, apenas ficaria ali agora decorando cada traço da mulher que era parte da minha estranha família.

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