CAPÍTULO VI
Robert Adams estava profundamente irritado. Mas, como sua irritação se dirigia inteiramente ao destino, lançou mão de toda sua reserva de paciência, enquanto punha a cabeça para fora da janela, e perguntou, irrepreensível como sempre:
— Então, companheiro, conseguiu?
O cocheiro, um homem baixo e corpulento, voltou-se para a carruagem.
— Ainda não, senhor. Mais um pouco... Ah, aí está! Muito bem, Davey, muito bem!
Davey, um rapaz de seus catorze ou quinze anos, era o filho do cocheiro. E havia passado quase duas horas, segundo os cálculos de Adams, ajudando o pai a remover um dos enormes caresseos do parque, caído sobre o caminho que ligava Cloverhill Manor a Ravensford Hall
Evidentemente, a tempestade que se abatera sobre a região na noite anterior arrancara-o pelas raízes. E isso o fez dedu-zir que era o primeiro viajante a transitar por essa estrada in-teira, de uso exclusivo dos membros das famílias Hastings e Grey, nesse dia.
A pedido de lady Margaret Grey, passara a tarde em Cloverhill Manor discutindo com os Hastings o contrato de casamento. Sorriu levemente ao lembrar como havia sido fácil. Cerca de vinte anos antes, seu pai, Raymond Adams, recebera uma incumbência semelhante. Os documentos ainda existiam, a firma Adams & Adams conservava meticulosamente sais registros, e serviram para orientá-lo no esboço de um acordo que, uma vez escrito, não seria mais passível de retratação.
Enquanto a carruagem retornava o percurso interrompido e ele ia sofrendo os solavancos de uma estrada malconserva-da, sua inquietação redobrou-se. Jamais permitira que sobreviessem obstáculos na rotina diária de seus afazeres. A pontualidade ocupava o primeiro lugar na lista de suas virtudes, tanto nos negócios quanto na vida particular.
Aquela manhã, quando chegara a Ravensford Hall, atendendo a um chamado de lady Margaret, e recebera a ordem de iniciar as negociações matrimoniais com os Hastings, traçara seu programa de acordo com isso. Assim, depois que um caio fora enviado a Cloverhill Manor para anunciar sua visita, voltara ao hotel, onde almoçara confortavelmente e bem, contando que teria tempo suficiente para desincumbir-se de sua missão, voltar para Ravensford Hall e falar com Christian antes que ele entrasse em contato com o duque.
Mas, durante sua visita aos Hastings, soubera de lady Eli-zabeth que Christian retornara de Londres na tarde anterior. Essa notícia o perturbara. Por que lady Margaret não o informara disso durante a entrevista matinal?
Esse silêncio, uma prova cabal de que não houvera nenhuma discussão entre Christian e o duque, fazia supor que, se o rapaz se enfurecera, ou pior, fizerar poucocaso do plano do avô, seria Adams, promotor da situação, quem iria arcar com as consequências. Não havia dúvida: teria de discutir com ambos a questão de sua intolerável omissão.
"Estranho", tornou a pensar. "Por que a velha senhora não fez qualquer referência à volta de seu sobrinho"
Adams abanou tristemente a cabeça, enquanto pensava em lady Margaret. Não
alimentava qualquer ilusão a respeito da mulher. Ela deveria usar calça, em vez de saias! Naqueles anos em que servira a família Grey, evitara sempre qualquer confrontação com aquela que os criados chamavam, às escondidas, de a Dama de Ferro. Aprendera com seu pai que era preferível tratar diretamente com Sua Graça a recorrer a sua irmã, fossem quais fossem as circunstâncias, caso contrário, arriscava-se a ficar enredado nas furtivas maquinações dela. Voltou a analisar o descuido de lady Margaret e concluiu que ela devia estar tão interessada em ver esse casamento realizado logo, antecipando assim a felicidade de sua protegida, que se esquecera de fazer alusão à chegada do sobrinho, que sempre detestara.
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Equívoco de Christian Grey
FanficRESUMO Um terrível equívoco rouba a inocência de uma jovem e compromete o coração de um famoso conquistador Amedrontada, Anastasia correu os olhos pelo imponente aposento que lhe haviam destinado. A ampla cama de casal, as ricas cortinas de veludo...