十一

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O moreno se viu encurralado. Já tinha fugido daquele assunto antes; dessa vez, porém, era inevitável. Ele devia ter se preparado para aquela pergunta, mas não o fez. Achou que Luhan esqueceria daquilo, mas estava enganado.

"Luhan, por favor." Se viu implorando.

"O quê?" Respondeu, sério, o chinês.

O mais velho suspirou, parando no lugar e ficando de frente para o moreno.

"Sehun, não dá para continuar desse jeito. Você entende que tudo isso é muito suspeito? Que o fato de eu não saber praticamente nada sobre você é estranho e me deixa agoniado? Porque, sinceramente, eu gosto e muito de você, sua companhia me traz alegria e é divertido jogar conversa fora contigo. Mas os machucados e aquele dia no parque me deixaram intrigado. E pode soar extremamente infantil o que eu vou dizer, Sehun, mas eu não posso, ou melhor, não vou conseguir sair com você enquanto não souber do seu passado." Soltou.

Ambos ficaram quietos, parados um na frente do outro sem saber o que falar. Porque Luhan não falaria com Sehun enquanto não soubesse de seu passado, e Sehun não falaria de seu passado para evitar perder Luhan. Era uma encruzilhada onde as duas opções eram trágicas e catastróficas.

"Eu não posso, Luhan. Você nunca mais vai querer me ver, e eu prefiro me distanciar de você sabendo que ainda não me odeia. Você é importante demais para mim, mesmo que eu tenha te conhecido há umas duas semanas. A pior coisa que poderia me acontecer agora, Luhan, seria te perder. Te perder e saber que você me odeia."

"Nesse caso, acho melhor darmos um tempo nisso." Foi o que, tristemente, disse o mais velho.

Sehun estremeceu. Não choraria (novamente) na frente de Luhan. Não podia, afinal o chinês se sentiria culpado por algo que não era sua culpa. Ao mesmo tempo, não podia deixá-lo ir, já que Luhan tinha sido a melhor coisa que acontecera com o Oh nos últimos tempos. E, para completar o desastre, tinha certeza absoluta que o perderia caso contasse sobre o motivo de seus machucados.

Luhan, no entanto, era bom demais. E, mesmo que naquela época Sehun não soubesse, o Oh tinha sido muito importante para o chinês e, assim como o mais novo, Luhan não estava disposto a perder Sehun.

"Vamos fazer o seguinte: vamos para sua casa, onde, imagino, você se sinta mais confortável. Vamos conversar, Sehun, por favor."

Com um suspiro, o moreno concordou.

"Só... só prometa não me odiar. Por favor."

"Eu nunca iria conseguir te odiar, Sehun. Nunca."

Novamente calados, o Oh conduziu o mais velho até seu prédio. Esperaram, quietos, o elevador chegar, e o trajeto de subida se manteve naquele mesmo clima.

O pobre coração de Sehun doía tanto que ele mal conseguia aguentar. O medo, a ansiedade, o nervosismo e o arrependimento. Tudo isso incitava a gigantesca vontade que o moreno sentia de simplesmente fugir correndo, pois sabia que ainda não era corajoso o suficiente para falar a verdade.

Sabia, também, que doeria muito contar para Luhan, o doce e gentil Luhan, o quão horrível e desprezível era sua personalidade. Contar que ele não passava de um ladrão qualquer, que arrastou o melhor amigo para o fundo do poço e selou seu destino cruel. Contar sobre o quão insignificante era sua vida e como, naquelas semanas, ele sentiu uma imensa vontade de colocar um fim na mesma. Contar sobre como adquiriu seus vícios e que a razão de fumar tanto era que ele torcia para que toda aquela nicotina lhe trouxesse um câncer de pulmão.

Porém, em momento algum ele pensou em contar o quão ferrada era sua vida. Não parou para pensar que era um reflexo de sua criação, feita por um pai extremamente ausente e que não queria um filho. Ou então que tudo aquilo só tinha ocorrido pois fora largado, no dia de seu aniversário de dezessete anos, por seu progenitor. E que nada daquilo teria acontecido se o mesmo tivesse pagado suas dívidas antes de sumir.

Na mente distorcida de Sehun, a culpa era única e exclusivamente dele. Carregava em suas costas todo o peso das ações abusivas do pai, que passara sua infância inteira lhe dizendo que o garoto era culpado pela morte da mãe. O Oh já estava tão acostumado a assumir a culpa quando alguma coisa dava errado que nunca parou para refletir que talvez, só talvez, não fosse apenas culpa sua.

Destrancou a porta do apartamento e foi direto para o sofá, onde ele e Luhan se sentaram, ambos olhando para o chão, sem conseguirem encarar um ao outro.

Luhan achou que já tinha pressionado demais o moreno, então deixou que ele levasse o tempo necessário para falar.

"Quando eu fiz dezessete anos, meu pai sumiu. Simplesmente vazou, me largou sozinho com um aluguel atrasado e um ano do colegial para ser feito. Mas isso não foi o suficiente; ele também tinha dívidas exorbitantes em seu nome. E eu, como um adolescente estúpido e ridículo, fui pedir ajuda para meu melhor amigo, que era três anos mais velho que eu. Foi o maior erro que já cometi na minha vida."

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