Capítulo: 69

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-- Entre Dr. Christian. - Convidou a Sra. Espinosa, cumplimentando o advogado e guiando-o, apressada pela porta para evitar a lufada de vento polar. - Meu marido esta com Sr. Sharon, mas dentro de instantes irá recebê-lo.

Seguro de sí, o Dr. Christian a seguiu até a sala de visitas. Blanca lhe dirigiu um gracioso sorriso.

-- Acho que uma xícara de chá lhe cairia bem. - ofereceu a dona da casa, notando que o advogado tremia de frío.

-- Oh, sim madame. A temperatura lá fora esta muito baixa.

-- Levará apenas um minuto. - disse Blanca, afastando-se apressada.

Enquanto o Dr. Christian aguardava para ser recebido, outra batida na porta da frente se fez ouvir.

-- Eu atendo Mãe! - a voz jovial e suave ecoou pela escada. Dulce desceu correndo os degraus com os cabelos soltos em cascata por sobre os ombros e os olhos faiscantes. Dando-se conta de que havia um visitante na sala, Dulce estacou de modo abrupto.

-- Oh, olá. Sou Dulce María Herrera. Espero que minha mãe o tenha deixado confortável.

O homem se curvou em uma profunda reverência.

-- Sim obrigado, madame. Sou Dr. Christian Chávez, advogado. Más ñ se atrase em atender a porta por minha causa.

-- Oh, claro. Com lincença. Quem quer que esteja batendo, é deveras persistente. - dizendo isso, deu alguns Passos a frente e escancarou a porta para encontrar dois entregadores parados ao lado de pilhas de caixas e pacotes.

-- Entrega especial para a Sra. Herrera. - anunciaram quase em unísono.

Os olhos castanhos quase se delataram de espanto.

-- Mamãe, venha aquí rápido! - gritou ela para o interior da casa.

-- Pelo amor de Deus, Dulce María! Feche a porta! - suplicou Blanca secando às mãos no avental ao sentir o vento gélido canalizar pelos corredores.

Sem dizer uma palavra, a filha apontou a miscelânea de embalagens a porta.

-- A senhora e o papai compraram tudo isso? - disse e Blanca parou, aturdida encarando os rapazes, que mais pareciam dois anacrônicos elfos de Natal.

-- Somos do empório madame.

Os olhos da Sra. Espinosa se voltaram para filha, que fitava paralisadas os pacotes com seu nome escrito em cada um deles.

-- Ñ fiquem ai parados. - Blanca quebrou o silêncio. - tragam tudo para dentro.

As duas Damas se afastaram para dar passagem aos entregadores que com extrema agilidade, transferiram os embrulhos das mais variadas formas e tamanhos para o interior da casa.

Quando acabaram, o mais alto retirou uma fatura do bolso do sobretudo de lã.

-- Basta assinar aqui, Sra. Herrera. - instruiu o rapaz, estendendo o papel em direção a Blanca.

Dulce então deu um passo a frente.

-- Eu sou a Sra. Herrera. - tomou o documento das mãos do entregador e sentiu os joelhos cederem quando tomou conhecimento do valor da nota fiscal.

Um dos rapazes deslizou a mão por baixo da capa, de onde retirou dos livros e os entregou a Dulce.

-- Recebi ordens para entregá-los em suas mãos.

Depois que os rapazes foram embora, os olhos de Dulce se voltaram aos volumes que segurava. Um estava embrulhado em papel marron e o outro era de receitas culinárias. Em seguida, ergueu o olhar para a mãe.

-- Quem teria enviado?

Blanca meneou a cabeça com vigor.

-- Ñ faço a menor ideia. A tempestade nos obrigou a ficarmos confinados aqui dentro desde ontem. E seu pai Esteve ocupado tentando levantar um empréstimo.

Dulce contornou o amentuado de caixas com o cenho franzido.

-- Detestaria abri-las se for um engano.

A mãe lhe voltou um sorriso terno.

-- Como vai descobrir se ñ as abrir?

Com uma risada nervosa, Dulce pegou uma das caixas e desfez o laço amarelo e violeta que a atava para descobrir um elegante chápeu de palha.

-- É lindo! - exclamou, correndo até o espelho em cima da lareira para examinar o efeito, sob o olhar de aprovação do Dr. Chávez e da mãe.

Animada, ela fuçou entre as embalagens, ousando abrir outro pacote. Dessa vez encontrou um conjunto de penhoar e camisola de seda violeta. Corando violentamente, ela se voltou para Blanca, que sorria inebriada.

-- Talvez seja presente do seu marido. - surgerio a Sra. Espinosa.

-- Francamente mamá! Alfonso ñ poderia pagar por tudo isso. - ápos recolocar o conjunto na caixa, ela deixou-se afundar na poltrona circundada de pacotes e caixas.

-- Teremos de esperar papai e perguntar.

Naquele instante, Blanca se lembrou das obrigações de anfitriã.

-- Oh, Dr. Chávez, esqueci o seu chá! - exclamou, apressando-se em direção a cozinha.

Dulce avaliou as embalagens a seu redor. Quem poderia ter lhe enviado presentes tão diversos e até mesmo impróprios? Uma dama ñ deveria aceitar prendas de um estranho. Impaciente, pegou o livro de receitas e começou folheá-lo.

Blanca que acabara de adentrar a sala trazendo a bandeja com o chá foi se juntar a filha.

Lançando um olhar especuliativo ao livro, apontou uma das receitas do indice.

-- Esta eu recomendo. - afirmou sorrindo, divertida. Dulce virou a página e prendeu a respiração.

-- Vejá! - exclamou, observando a folha que Alfonso escrevera a dedicatória. - É do meu marido! - Em silêncio, leu a saudação. De pronto, os olhos castanhos se encheram de lágrimas. Um aperto na garganta quase a fez sufocar com as últimas palavras: Com amor Alfonso Herrera.

-- Com lincença. - desculpo-se em tom baixo, ergueu-se da poltrona e dirigiu-se a mãe: - Vou para meu quarto. - levando consigo o livro de receitas e o que se encontrava envolto em papel marron, cruzou o corredor e subiu a escada apressada. Ñ podia imaginar o que dera em Alfonso. Ele havia comprado praticamente todo o empório! Onde teria arranjado dinheiro? Em uma noite de pôquer? Ao que sabia um ator ñ era tão bem remunerado para fazer uma extravagância como aquela.

Devia existir uma explicação lógica. Oh, como ñ pensara nisso antes? Por certo havia usado o dinheiro com o qual ela o subornara para desposá-la. Ainda assim, tinha sido um gesto amável e generoso.

Mas aquilo ainda ñ explicava Por que o marido lhe enviara um livro com receitas exóticas.

Segurando o livro contra o peito, ela deitou na cama. Do que trataria o volume que estava embrulhado? Provavelmente um manual de dona de casa.

Decidida a desvendar o mistério, rasgou o papel e leu o título: O Companheiro íntimo dos recém casados; o autor era Dr. Charles Knowlton. Na capa, em baixo do título, havia uma foto de um casal se beijando.

...

Casamento Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora