O vôo foi tranquilo apesar do caos habitual do Aeroporto de Guarulhos, como foi um vôo de uma hora de quarenta cinco minutos, cheguei quase onze horas devido a esperas e normas. Saí do avião, peguei minha mala e segui rumo a saída. Porém, antes de cruzar a porta para encontrar meus avós, entrei no banheiro e fui lavar o rosto. Parei em frente ao espelho e me encarei, a pele morena, os olhos claros, o cabelo com um tom queimado. Ri um pouco quando a ficha caiu de que tudo seria novo, que estava sozinho em uma cidade totalmente diferente, e que eu só estive umas três, quatro vezes quando era bem menor.
Minha família e eu não viajávamos muito, e quando fazíamos, geralmente era para o interior de São Paulo. A gente sempre ia para onde pudéssemos ter contato com a natureza, meu pai não gostava muito. Mas eu e minha mãe amávamos, era revigorante, se sentir tão próximo daquele estado quase que selvagem. Mas eu sabia que aquelas viagens e acampamentos demorariam a acontecer de novo. Me deixei levar pelo sentimento de melancolia e fiquei mais alguns minutos no banheiro, absorvendo tudo o que estava acontecendo. A mudança foi planejada, claro. Mas seis meses ainda eram pouco para eu me acostumar.
Saí do banheiro e fui ao encontro dos meus avós. Eles estavam no saguão do Aeroporto de Brasília segurando uma placa com o meu nome, eu achei muito cena de filme, daqueles bem clichês. Mas fazer o quê? Eu amava esses clichês que a vida nos proporciona às vezes.
- Vó! Vô! Quanto tempo, que saudades!
- Se você que viu a gente ainda pequeno sentiu saudades, imagina a gente meu filho. - disse minha vó com um sorriso enorme no rosto. - Vem aqui, dá um abraço na vó.
Abracei minha vó o mais forte que consegui, eu precisava compensar os anos de abraços não dados.
- E o vô aqui? Não vai sobrar abraço para mim não? - perguntou meu avô fazendo bico.
- Claro que sobra, o que não vai faltar durante esse tempo é abraço. - Então abracei meu avô com toda intensidade que antes tinha abraçado minha avó.
Meu vô fez questão de carregar as minhas malas para o carro, mesmo eu negando. E enquanto caminhávamos até o carro, eu e minha vó conversamos sobre como era a vida em Brasilia. Ela contou várias coisas bem interessantes como por exemplo, que a escola era razoavelmente próxima de casa, e que aos redores da escola havia um shopping, e também que ela e o vô não eram avós normais, que eles eram jovens ainda e gostavam de sair a noite, que eu não estranhasse caso chegasse em casa e não os visse. Achei tudo muito daora, meus avós tinham uma vibe bem diferente da minha família.
Entramos no carro e a vó logo deu partida no carro, eu fiquei olhando com rabo de olho para ela e ela percebendo, disse:
- Você não achou que ele que iria dirigir né? Seu avô é o maior roda presa de Brasília. - enquanto falava, ela ria. Era uma gargalhada gostosa de ouvir, que você se aconchega só de ouvir.
- Ei! Eu não dirijo tão mal assim! É que tem muito barbeiro na rua, aí para andar fica difícil. - disse o meu avô resmungando, como se não aceitasse muito bem aquilo.
- Eu achei demais vó! Assume quem dirige melhor - disse para implicar com meu avô. Nós rimos e logo o carro ficou silencioso. Estava no banco de trás e aproveitei para prestar atenção na cidade. Era lindo, quanto mais voltas a minha vó dava mais eu me apaixonava por aquela cidade. Era um horizonte tão reto, tão plano e nele diversos edifícios e construções cheias de curvas. Eu iria amar voltar ali outro dia para esboçar um pouco sobre aquela paisagem.
- Já está namorando a cidade filho? - perguntou meu avô quando reparou meu foco na janela.
- É lindo né? - complementou minha avó
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mudanças: Conhecendo Caminhos
RomanceAndré é um jovem de 15 anos que está prestes a se mudar, inciando uma nova fase de sua vida. Entrando em um mundo novo, o garoto vai acabar tendo que lidar com várias situações bem atípicas para ele. Em época de descobertas, o garoto vai ver que às...