Blanca se interpôs com elegância entre os dois irasciveis e entregou a capa e o chapéu ao Dr. Morrell.
-- Muito obrigada por sua preciosa assitência. Estou certa de que se Dulce precisar dos seus serviços, ela, e ñ meu marido, ñ hesitará em procurá-lo.
O advogado pareceu aliviado. Fez uma mesura e se retirou, desejando um bom dia a todos.
Porém pai e filha mal notaram a partida de Morrell. Dulce começou a juntar os pacotes.
-- Estes presentes são do meu marido. - afirmou ela ao pai. - Alfonso ñ tinha obrigações de enviá-los, considerando o modo como o senhor o tratou, mas o fez.
-- Ñ aceito um ator como genro! - Fernando vociferou. - Vc vai devolver todas essas bugigangas!
-- Ñ devoverei! - disparou ela, adicionando mais um embrulho á pilha que trazia nas mãos. - Eu amo Alfonso Herrera! E ñ permitirei que o Senhor nem ninguém interfira no meu casamento. Ñ consigo atinar por que ele ainda me quer depois do modo como todos nós, nos comportamos, mas o futuro da nossa relação é um assunto nosso, e ñ seu!
Blanca entrou na Sala a tempo de ouvir a declaração da filha. Era a primeira vez que via Dulce tão decidida. A filha ñ estava agindo sob um acesso de firia, mais sim com serenidade.
-- Fernando, acho que nossa filha já está na idade de tomar suas próprias decisões. - interveio, pousando a mão de modo gentil no ombro do marido.
-- Acho que sou capaz de escolher o que é melhor para ela. - Retrucou Fernando, acendendo um charuto. - De qualquer forma, duvido que aquele inútil do seu marido ande pela cidade por muito tempo.
Dulce estacou e voltou-se para o pai com olhar inquisitivo.
-- Pode me dizer por que?
-- Mandei Morrell lhe entregar uma ordem de restrição. Caso ele se aproxime da nossa casa ou tente contatá-la será preso.
-- Então serei eu a procurá-lo! - exclamou ela. - Ou pretende colocar sua própria filha na cadeia?
-- Desista, Dulce. Esse homem ñ serve para vc. - Dulce entregou os presentes que segurava para a mãe e caminhou decidida em direção a Fernando.
-- Se colocar Alfonso na cadeia, vou me juntar a ele na prisão. E serei capaz de jurar sobre uma pilha de bíblia em frente ao juiz que o senhor colocou um inocente na cadeia. Será motivo de escárnio em toda cidade!
-- Acha que trabalhei duro durante toda a minha vida para que vc jogue a sua no lixo com um ator inútil? - Fernando se aproximou e tocou os cabelos da filha. - Seja razoável, Dulce. Ñ estará segura. Marará em quartos de hoteis baratos e se imiscuirá com pessoas imorais. Que tipo de vida é essa?
-- Trata-se da minha vida papai. - ela sussurrou. - Ñ consegui compreender isso?
Os olhos de Blanca se alternavam entre seus dois entes queridos.
-- Por favor, parem de discutir!
-- Prefiro penar cem anos no purgatório a ver Dulce arruinar a própria vida com Alfonso! - Continuou Fernando, enfurecido. - Ñ descansarei enquanto ñ expulsar esse homem das nossas vidas. - Concluiu, consultando o relógio, ansioso por escapar daquela discussão.
-- Espere! - gritou Dulce com a face pálida. - Deixe-me ao menos falar com Alfonso e ouvir o que ele diz. Se meu marido quiser a Anulação do casamento, ñ me oporei.
-- Proibo vc de vê-lo! Ñ sairá desta casa sem a minha permissã!
-- Se terminou. - interveio Blanca. - Eu gostaria de arrumar a Sala. - e voltando-se para filha. - Dulce poderia me gustaría ajudar com esses pacotes?
Fernando atirou a guimba do charuto na lareira.
-- Ñ almoçarei em casa mas ñ pense que Dulce poderá sair durante minha ausência.
...
Pela janela, ela observou o paí se afastar.
-- Ele se recusa a ouvir. - declarou pesarosa. - disse Dulce.
Blanca se aproximou-se da filha e colocou a mão confortadora em seu ombro.
-- Seu paí tem boas intenções, mas age de forma errada.
Dulce deu vazão as lágrimas.
-- Papai está arruinando minha vida!
-- Vamos abrir todos estes presentes e depois chamaremos o entregador para levar de volta uma das caixas.
-- Recuso-me a devolver qualquer coisa. Tavez seja tudo que me restará para lembra dele.
Blanca sorriu compreensiva.
-- Claro que ficará com tudo. Mas esta caixa vazia. - apontou para a embalagem maior. - terá de ser devolvida.
-- Vazia? - perguntou Dulce, confusa.
-- Óbvio do contrário, vc ñ poderia entrar nela. Uma vez dentro do empório, poderá escapar e ir a procura de Alfonso.
Dul se jogou nos braços da mãe e lhe enxeu de beijos calorosos por todo rosto.
-- A senhora é um gênio! Te amo tanto! Prometo que ñ a desonrarei, nem ao papai.
-- Eu sei querida. - disse Blanca tocando o rosto da filha com ternura. - Siga seu coração. E deixe seu pai comigo. Agora se apresse, antes que ele volte. - Em seguida, disparou sorrindo em direção a cozinha para ir buscar uma tesoura.
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Aquele ñ era o dia de Willard Ellis. O frio cortante o fazia sofrer de frieiras nas mãos e nos pés. E para piorar seu infortunio, a impiedosa dama da sociedade resolvera devolver alguns vestidos ao empório em um dos dias mais gelados do ano.
A irritação de Ellis se agravou quando se viu arrastando o que avaliava em mais de cinquenta quilos de roupas pelo caminho coberto de neve até a carroça.
-- Tenha cuidado Sr. Ellis. - recomendou Blanca, seguindo-o até a varanda. - Essa mercadoria deve ser devolvida dentro da próxima meia hora.
-- Essa ñ é a primeira carga que entrego. - retrucou Willard, sarcástico.
Praguejando contra todas as damas da sociedade, o velho jogou a caixa na carroça e fustigando os cavalos com toda força, disparou a caminho do bar de Gallagher, localizado no final da D Street. Seriam necessários alguns cálices de conhaque para lhe aquecer o sangue em um dia difícil como aquele.
Quarenta e cinco minutos mais tarde, o condutor da carroça deixou o bar para constatar que a carga que transportava havia desaparecido.
Coçou a cabeça, transtornado, amaldiçoando aquele dia, e retornou ao aconchego do bar.
Ñ levou muito tempo para Dulce perceber que o plano da mãe ñ estava dando muito certo. Depois de escutar por dez minutos as risadas e o tilintar de copos vindos do Interior do bar, convenceu-se de que ñ deveria esperar até congelar naquela carroça, enquanto o mal- humorado condutor se embebedava.
Por sorte escolhera uma roupa apropriada para o frio que fazia. Do contrário, ñ conseguiria percorrer o caminho até o hotel.
Durante o trajeto, homens lhe jogavam beijos e proferiam galanteios. A medida que Dulce se aproximava da cidade ia se tornando cada vez mais escuro, pronunciando nova tempestade.
Apressou o passo e atravessou a rua com a cabeça baixa para evitar que o vento cortante lhe fustigasse o rosto. Tudo que desejava era escapar dos arredores sórdidos e encontrar o marido.
Foi então que percebeu um par de braços fortes, oculto por uma jaqueta de tecido grosso e ordinário, cingi-la pela cintura com tanta força que lhe roubou o ar dos pulmões. Ela ofegou e baixou o capuz do sobretudo.
...
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Casamento Por Acaso
RomanceNevada, 1864. Um Casamento de Mentira... Uma Paixão de Verdade... -- Mimada, linda e esperta, Dulce María Espinosa Saviñon concorda em se casar com alguém que se encaxe nos padrões exigidos por seu Paí: "Um Homem de Verdade", Que ñ tem medo...