f i g u r a n t e

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inspirado na minha vida
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Sim, eu estou me sentindo mal outra vez, e isso faz-me pensar sobre se um dia me senti bem. A verdade é que me sinto sozinho, e nesse exato momento estou cercado por pessoas que me amam. Mesmo assim, eu tento ignora-las e não paro de checar exatamente nada no meu celular. Eu preciso troca-lo, mas também seria uma boa trocar de vida.

Você me convida para festas e eventos, mas eu sempre digo não. Às vezes eu sinto que não te amo, outras vezes sim. Você tem o seu brilho, Jeno, admito isso, e não é pouco; como também tenho o meu. Eu sinto que você me ofusca, rouba o meu protagonismo. Você entrou na minha vida e mudou todas as regras.

Eu odeio filme de terror.

Prefiro coisas fofas, legais, divertidas e engraçadas. Gosto de amor, não de ódio ou entidades do mal. Eu tenho medo, e você não me abraçou quando me obrigou a assistir aquele filme quando saímos de galera.

Jeno, você poderia ter sido mais compreensivo.

Eu sinto que você me oprime, me sinto preso perto de você, não consigo ser eu mesmo ou me expressar. Você tem praxe em ser julgador, e eu morro de medo de ser julgado, do mesmo jeito que detesto julgar.

Agora você está jogando o seu charme para cima de Chenle, conversando com ele sobre qualquer coisa que, neste momento, não me interessa. Eu estou no canto, porque sinto que você sugou demais a minha vida. É como se você fosse um parasita.

Jeno, eu gosto de você. Não sou capaz de odiar as pessoas, por mais podres e hipócritas que sejam, mesmo tendo atos maléficos e egoístas. Você acha que eu te odeio, e eu não vou mudar a sua mente.

Eu sou a poeira que fica no canto do cômodo, no canto de encontro entre duas paredes. Na grande parte dos casos, ninguém consegue tirá-la ou não se importam com a sua presença, embora ninguém a suporte. Mas ela está ali e ninguém pode mudar. Além do mais, sempre tem algo na frente dela, cobrindo-a.

Jeno, eu estive por anos rastejando pela sombra. Finalmente pude encontrar meu brilho próprio, finalmente pude me amar e então... e acabou que deixei de ser protagonista da minha vida logo quando me descobri ser um.

Você roubou o meu público, o meu palco e o meu roteiro. Você decide quando e se as cortinas fecham ou não. E eu deixei, porque cansei de lutar.

Pois agora eu te evito, pois sei que será eu quem consolar-me-ás durante a noite, quando estiver me sentindo solitário e suicida.

Cansei de escutar os seus "Renjun, pare!", "Nossa, você grita demais", "Fica quieto, Renjun!", "Renjun, você é melhor de boca fechada!"

Eu me sinto machucado perto de você.

Mas eu parei de me importar. Vou continuar dançando na frente da sala, cantando qualquer hino do momento e gritando com todo mundo porque sou assim. Jeno, não fui eu quem se infiltrou na sua vida, você se infiltrou na minha. Ela nunca foi perfeita, eu sei, mas eu cansei de ser ofuscado. Vou fazer as coisas por mim mesmo, saber dizer não.

Jeno, você é bonito, divertido e legal. Eu admito. Você encanta e aliena as pessoas, e isso funcionou comigo até certo ponto, até eu perceber qual era o problema e pensar "Não, eu amo a mim mesmo e isso precisa de um basta!" Você já tem a sua vida, por que querer mudar a minha? Não vou perder a minha essência, Jeno.

Você pode roubar meus amigos de mim, se quiser, pelo tempo que você quiser. Pode roubar-me Chenle, Haechan e até Jaemin. Eu não me importo, pois sei que todos eles estarão me carregando no dia do meu aniversário, pois sei que eles correrão para mim quando precisarem de ajuda, quando precisarem desabafar ou quererem escutar músicas tristes no YouTube. Eles correrão de volta para mim quando sentirem falta da minha risada e das minhas piadas ruins improvisadas, já que eu não as pego prontas na internet (como você faz).

Eu ainda serei o docinho dos professores, continuarei me esforçando nas matérias e, ao contrário de você, Jeno, mesmo que eu seja o último da sala a terminar a prova, sei que a nota será mais do que satisfatória para mim. Não é meu falso ego, a minha autoestima que mais parece uma montanha-russa, e também nem me falta modéstia.

Eu sou eu, Jeno, e tenho consciência do que quero e quando quero. Não sei quem sou, mas sei o que não sou e o que não quero ser. Pode contar mentiras sobre mim; eu até ajudo a espalhar. Pode continuar sendo incompreensível, impaciente, intolerante e "levemente" hipócrita (não o culpo, todos nós temos uma certa quantidade de ignorância a qual impede-nos de encarar os fatos).

Mas não, Jeno, não venha correr atrás de mim quando eu já tiver triunfado, quando eu estiver recebendo os aplausos da plateia; não tente se intrometer no meu elenco e nem roubar a cena.

Eu gosto de você, Jeno, mas você me faz querer morrer e eu odeio fingir que estou bem.

Agora Chenle tentou me contar uma piada e você o interrompeu, chamando-o para mais uma conversa. Isso não foi nada educado e eu também não te acho infantil desse jeito para me impedir de falar com ele. Foi como eu disse, Jeno, ele correrá até mim hoje mesmo.

Me culpo por tê-lo trocado por você, em algum momento. Foi a alienação. Pois agora percebo que o amo demais, pois ele esteve comigo desde o início e me escuta como ninguém. Ele aguentou todas as minhas crises, os meus ataques de raiva e minhas mudanças de humor.

Você não.

Você se preocupou em me mandar calar a boca pois estava te incomodando.

e eu queria morrer...

Pois agora eu torno-o figurante da minha vida, Jeno, porque o protagonista sempre foi e sempre será eu. Cortei as cordas e não sou mais fantoche. Espero que você não me impeça de viver o que quero, e também não grude feito chiclete e nem me interrompa numa conversa.

Lembre-se que figurante não faz nada disso, Lee JaeNo.

afraid || no.renOnde histórias criam vida. Descubra agora