03| Desnorteada

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Dulce despertou desnorteada, a claridade incomodou seus olhos, tateou a cama ao seu lado buscando pelo marido. Sem conseguir enxergar direito, ela franziu a testa quando percebeu que ele não estava ali. Levantou devagar, vestiu seu robe e seguiu para a cozinha. O homem se encontrava em pé com uma caneca nas mãos, parecia pronto para sair.

― Bom dia, senhorita. ― Apesar dele chamá-la desse jeito formal, para a moça era como se fosse um apelido carinhoso. Entretanto, hoje seu tom de voz demonstrava uma melancolia. ― Preparei o café. ― O rapaz apontou para o bule em cima do fogão.

― Pretende ir a algum lugar? ― a mulher perguntou, encostando-se na mesa.

― Recebi um recado do xerife. ― Christopher colocou a caneca sobre a pia, fitando a esposa. ― Ele precisa da minha ajuda em um caso urgente.

― E os nossos planos?

― Prometo que volto logo, assim que retornar vamos à cachoeira. ― Segurou a mão dela, confortando-a.

― Certo, é o seu trabalho. ― Dulce forçou um sorriso. ― Só não demore muito.

Uckermann assentiu ao mesmo tempo que se aproximava da esposa, ela fechou os olhos esperando sentir os lábios dele nos seus, mas, em vez disso, o homem gentilmente beijou o topo da cabeça da mulher. Enquanto ela observava o marido apanhar o chapéu, um longo suspiro escapou de sua boca, e no momento em que ele saiu pela porta, constatou o inevitável. O rapaz ainda se sentia culpado pela noite anterior.

Avistando sua aliança dourada, a moça soltou outro suspiro, recordando da cena.

― Desculpa, a culpa foi toda minha. ― Christopher a libertou de seus braços, praguejou baixinho, sabia que tinha que se controlar mais, havia segurado-a com muita voracidade.

Passou as mãos pelos cabelos, nervoso, notando que Dulce lutava para respirar. Ela balançou a cabeça em negação, tentando afastar as memórias que a atormentavam, porém foi incapaz de fugir do instante de sua desonra. Distanciou-se do rapaz com a impressão de que o ar lhe faltava, então sentou na beirada da cama para acalmar os ânimos. O investigador se aproximou devagar, preocupado.

― O senhor não tem culpa. É só que... ― as palavras embolaram em sua garganta.

― Eu precisava ser mais sutil, eu prometi isso a senhorita. Lembra? ― O homem acomodou-se ao lado dela.

― Eu não quero que faça isso. ― Ela o encarou, mordendo os lábios. ― Gostei do quanto você estava me desejando ― confessou ruborizada. ― Mas... aquela forma de me prender trouxe as lembranças que ainda me afligem. ― Aos poucos sentiu o ar retornar para seus pulmões, relaxando os ombros. ― Preciso encontrar uma maneira de lidar com isso, apenas não sei como ainda.

― Então, daqui para frente a senhorita irá me guiar, certo?

― Certo... ― A mulher olhou para o marido que continha um semblante atormentado. ― O senhor é maravilhoso, sabia? ― Ela pegou a mão dele, entrelaçando seus dedos.

Christopher esboçou um sorriso suave em resposta, entretanto no momento sentia o oposto, levantou-se incomodado.

― Acho melhor eu tomar um ar.

― Não, por favor, fica. ― A moça o impediu, segurando no antebraço dele. ― Fica aqui comigo. ― O rapaz hesitou por uma fração de segundo, porém logo sucumbiu ao seu pedido, imaginando que ela estivesse vulnerável.

Uckermann se acomodou na cabeceira da cama enquanto a esposa aconchegava em seu peito. Apesar do silêncio, eles encontraram conforto no simples fato de estarem juntos. O homem reparou como o corpo dela começou a se descontrair, sua tensão cedendo espaço para a serenidade, lentamente. O toque de seus dedos percorrendo as costas da mulher trouxe uma sensação de segurança e proteção. Então, foi vencida pelo cansaço que a atingiu, adormecendo logo.

A Dama de Vermelho - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora