O primeiro dia é sempre o pior, não sei se devo levar isso como uma coisa boa ou ruim. Também não sei se vir morar com meu pai em Sitka foi uma boa ideia, não pelo fato de estar com ele, e sim pela cidade. Eu gosto do calor, de sentir o Sol queimar em minha pele, e Sitka... Bom, não se encaixa bem nessa descrição!
Meu pai é um cara legal. Se separou da minha mãe quando eu tinha uns 10 anos, desde então morei com minha mãe em Cuba, e passei os verões com meu pai. Hoje aos meus 17, resolvi inverter as coisas.
Eu estou no segundo ano do ensino médio. Meu pai me matriculou em uma escola aqui em Sitka, nela tem no máximo 354 alunos, minha antiga escola tem pelo menos o dobro. Admito que não estou esperando muito dela. Meu pai é muito conhecido na cidade, por ser um grande policial, então provavelmente muitos já devem estar sabendo de minha chegada á cidade.
Eram 21:30, e eu queria ir dormir logo, para ver aquela angústia passar. Estava no meu quarto, ele me trazia boas lembranças, lembranças de infância, para ser mais precisa. Peguei uma toalha em meu guarda-roupa e fui ao banheiro que ficava a esquerda no corredor. Tomei um banho quente, e voltei ao quarto para me arrumar, coloquei um pijama rosa de ovelhas, e uma meia listrada em azul e branco. Passei a escova no cabelo e, logo desci as escadas para dar um beijo de boa noite em meu pai, como ele fazia todos os dias em que dormia na casa dele, quando pequena. Ele estava sentado no sofá vendo o jogo de futebol, fui até lá e sentei-me ao lado dele, nós ficamos em um silêncio chato, até que Roger, meu pai o quebrou:
- Está ansiosa Álice? - disse ele num tom brincalhão, mas senti uma angústia no toque de sua voz
- Só Áli, pai - o corrigi, e depois tentei dar uma risadinha falsa - Mas não estou muito- eu disse
- Entendi - disse ele com a voz fria
Nós ficamos sem dizer nada por uns 5 minutos.
- Vou dormir pai, já está tarde - Tentei fingir um bocejo
- Okay minha filha, vou ficar aqui por mais um tempo
Eu subi correndo pelas escadas de madeira que faziam mais barulho a cada degrau que eu subia.
Quando cheguei ao quarto fui direto me olhar no espelho, e como sempre, tinha dó de mim mesma, eu queria quebra-lo, mas me joguei na cama, coloquei o travesseiro na cara e chorei até dormir. Quando me dei conta já eram 6:30 da manhã, estava atrasada, e meu pai já tinha saído para o trabalho. Me troquei, desci as escadas correndo peguei uma maçã que estava na fruteira, tranquei a porta de casa e, entrei no carro que ganhei no meu aniversário de 17 anos, dos meus pais, um chevette que eles compraram usado, na cor azul, que está meio desbotada. Dentro do carro, meu pai deixou todos os meus horários de aulas. A escola não ficava muito longe. Chegando lá, estacionei o carro na primeira vaga que vi, alguns alunos estavam no estacionamento, e de certo, quando cheguei já vi os olharem e os cochichos, eu fingi que não vi, abaixei a cabeça e fui para a primeira aula. Aula de Física, eu odeio física, mas sou muito boa. Quando entrei na sala o professor já estava lá, pedi licença para entrar, e de cara ele disse:
- Você deve ser a filha do Roger Certo? É Álice né? -disse ele empolgado
-Pode ser só Áli - eu disse meio tímida e baixei a cabeça
- Bom, eu sou seu professor de Física, meu nome é Cley, mas pode me chamar de senhor das estrelas - Ele riu e disse para eu me sentar na última carteira.
Minha dupla era um garoto,ele era magro, tinha os cabelos enroladinhos e louros. Sentei-me ao lado dele, fiquei quieta até ele quebrar o gelo e dizer:
- Meu nome é Jacob , você deve ser Álice Jackson, certo?- disse ele num tom simpático
- É só Áli - dei um sorriso falso para não parecer grossa.
Ele sorriu, e depois prestamos atenção na aula, nem sei por que me preocupava em prestar atenção no que ele dizia, eu já sabia tudo de cór e saltiado.
Quando a aula acabou, Jacob se ofereceu para me ajudar a achar onde eram minhas próximas aulas, e é claro que por onde eu passava os olhares me seguiam. Ele me levou até a porta de minha próxima aula, eu agradeci, e ele saiu. Olhei no papel, aula de biologia, eu amo biologia, entrei na sala e fui direto falar com a professora, era uma senhora, devia ter uns 65 anos, parecia simpática. Antes de eu dizer qualquer coisa ela chegou perto de mim e disse:
- Álice Jackson? - ela levantou uma sobrancelha
Eu não consegui disfarçar a minha cara de surpresa por ela saber meu nome, assim de cara
- S-sim -eu gaguejei
- Meu nome é Marta, sou sua professora de biologia - Ela estendeu uma de suas mãos enrugadas para apertar as minhas
Eu estendi a mão e apertei a dela
-Você pode se sentar com a Pri- ela sorriu
Olhei para trás e a provavelmente "Pri" estava acenando para mim. Ela tinha os cabelos longos pretos e ondulados, tinha a pele meio clara, usava um óculos que a deixava LINDA, minha autoestima estava quase em meus pés. Fui, e me sentei ao lado dela.
- Você é a Álice né? A filha do Policial -disse ela simpaticamente
- Pode me chamar só de Áli- eu sorri
- Todos estávamos muito ansiosos com a sua chegada, nem sempre temos pessoas novas aqui na cidade!
- Eu estava muito ansiosa para vir para cá -eu menti, acho que não pareceu muito convincente para ela.
A aula passou voando, quando sai Jacob estava esperando na porta. Fui até lá , Pri estava ao lado dele, antes que eu pudesse chegar , Jacob me perguntou:
- Você quer almoçar com a gente?- ele deu um sorriso
-Claro- tentei parecer animada
Nós fomos até o refeitório, compramos comida, e nos sentamos em uma mesa redonda. Estávamos comendo quando chegaram mais dois meninos e uma menina, e se sentaram em nossa mesa, eles riam
-Olá, meu nome é Hanna- disse a menina, sorrindo.
Ela tinha os cabelos lisos escorridos e louros, seu corpo tinha a forma de um violão.
-Meu nome é Áli - eu disse, tímida
- Esses são Set e Gab - disse ela apontando para os dois meninos.
Eles sorriram e assentaram. Set tinha os cabelos pretos bem escuros, era forte, tinha os olhos castanhos e era de estatura média . Gab era alto, os cabelos castanhos com alguns fios dourados, os olhos cor de mel meio esverdeados, não era forte como Set, mas não aparentava ser nada fraco.
Eu não disse quase nada no almoço, só observei eles conversando, e pelo oque entendi, Jacob e Pri namoram, assim como Set e Hanna.
Bateu o sinal, olhei o papel onde estavam todas as minhas aulas, Artes, mas que droga, eu sou péssima em artes.
- Qual sua próxima aula Áli? - perguntou Jacob, enquanto se levantava da cadeira
-Artes, infelizmente - respondi rapidamente, virando os olhos
- É a mesma que Gab, vocês poderiam ir juntos né? - disse ele entusiasmado
- É, pode ser - falou Gab, sorrindo para mim
Nós fomos até a sala em silêncio, chegando lá Gab deu um abraço na professora
-Olha só o meu melhor aluno -disse a professora de artes, retribuindo o abraço
- Quem é você? - perguntou ela numa voz doce , pegando em minha mão
Achei até estranho ela não saber quem sou eu, já que todos sabiam
-Meu nome é Álice, e o seu? -eu perguntei simpaticamente, acho que nunca fui tão educada assim
- Meu nome é Joice - disse ela enquanto sorria
Ela era pequena e não parecia tão velha como a professora de biologia, Marta, tinha o cabelo castanho escuro, curtinho a cima dos ombros, as olheiras aparentes, atrás do óculos em forma de retângulo.
- Você e Gab podem ser uma dupla, sentem-se na última carteira- disse ela e depois deu uma piscada para Gab
-tudo bem - eu e Gab falamos ao mesmo tempo, e depois fomos nos sentar.
- Na aula de hoje, vocês teram que pintar o rosto do parceiro de vocês, na mesa tem tudo oque vocês precisam, comecem! - disse a professora Joice entusiasmada
-Mas que droga, eu não sei nem desenhar de palitinho -disse eu tão baixo que era quase impossível de ouvir
-fique tranquila, muitos aqui não sabem nem escrever o próprio nome -disse Gab ironicamente enquanto ria baixinho
Eu sorri, peguei o pincel, molhei na tinta e comecei a pintar o rosto de Gab. Minha pintura estava horrível, tentei fazer de tudo para melhorar, até que ficou um pouco melhor. Nós dois tínhamos terminado
- Você mostra primeiro -disse ele rapidamente, e depois sorriu
- Isso não é justo! - eu falei rindo
-Vamos mostrar ao mesmo tempo então - Ele sorriu torto
- No 3
-1
-2
-3
Nós dois viramos as telas, a pintura dele era uma obra de arte, eu corei
-Que vergonha- eu disse rindo e depois abaixando a cabeça
-É só questão de prática - Ele riu
Logo depois bateu o sinal, graças a Deus, era a hora de ir embora, eu me levantei e arrumei minhas coisas para ir . Chegando no estacionamento avistei meu chevette rapidamente, e comecei a andar um pouco mais rápido do que o normal, eu não via a hora de ir embora, entrei no carro, joguei minhas coisas no banco do passageiro e fui pra casa.
É incrível ver como por todo lado da cidade tinha verde, era bonito, mas eu tinha saudades de Cuba. Quando cheguei em casa fui direto para o quarto, joguei minha bolsa no chão, e fui preparar o jantar. Enquanto a carne estava no forno, subi para fazer o dever de casa. Depois de 20 minutos Roger chegou.
- Áliiii, você está ai? - Disse ele enquanto pendurava o casaco
- Estou aqui em cima, pai - eu gritei
-Esse cheiro está maravilhoso filha!
Eu tinha esquecido do jantar, então desci correndo
-Desculpe pai, eu esqueci completamente que a carne estava no forno - eu disse enquanto a tirava de lá
-Não se desculpe filha- disse ele e deu um sorriso torto para mim
Nós comemos, e depois eu subi para me arrumar. Coloquei a mesma roupa da noite passada, e fui em direção ao espelho, eu queria me socar, eu tenho vergonha de mim mesma. Como alguém vai querer ficar comigo desse jeito que eu sou?
Deitei na cama, coloquei meus fones de ouvido, e novamente, chorei até dormir
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Primeiro amor próprio e, depois amar o próximo
RomanceÁlice, uma menina sem autoestima, arruma um namorado. Mas ela precisa aprender a se amar, para conseguir ama-lo