Kyungsoo olhou através da janela, observando a neve que caía no parapeito. Em pensar que no dia anterior não havia nada além do chão cimentado do pátio hospitalar. Ele abriu um pequeno sorriso, se recostando nos travesseiros onde estava aconchegado, fazia muito tempo que não sentia a neve em seus dedos e o vento frio do inverno em sua pele. O jovem paciente nunca havia sido fã da troca de estações, mas estar preso dentro daquele grande prédio sem nunca ter permissão para sair, fazia seus sonhos tornarem-se mais simples do que eram antigamente.
Estava feliz que sua psicóloga havia conseguido pelo menos uma janela. Em uma de suas seções, esse havia sido seu pedido mais fervoroso. Para que sua saúde mental fosse, pelo menos, preservada durante seu período de quarentena. Estavam todos com medo, apreensivos. Kyungsoo virou a cabeça e contemplou os médicos do outro lado do vidro, o analisando seriamente e preenchendo suas pranchetas. Ele sabia que a única coisa que queriam era salvar sua vida, mas a cada dia Kyungsoo sentia sua alma ser sugada pela máscara de oxigênio em seu rosto.
Fechou os olhos tentando se lembrar quando tudo aquilo havia começado.
Estava trabalhando, sob a jurisdição da ONU em Serra Leoa, fazendo atendimento médico básico em algumas crianças. Kyungsoo estava sorrindo, sim, estava sorrindo. Pegou uma criança no colo e pediu para ela abrir a boca para ver sua garganta. Ela era tão pequena, podia sentir suas costelas sob seus dedos nitidamente.
A menina sorriu para ele e ficou em pé o aguardando, seu nome era Feimata. Quando Kyungsoo se virou para pegar algodão e álcool ouviu a pequena tossir. A tosse parecia não cessar de jeito nenhum, preocupado se voltou para ela, e havia sangue na areia aos pés da garota. Correu até ela desesperado e apegou no colo novamente, caçou algum pano e secou o liquido vermelho dos lábios dela.
Perguntou em Krio – dialeto franco da região – o que ela sentia, onde havia dores e sua alimentação. Ela pôde responder pouca coisa, não havia adultos a quem recorrer para ter mais informações. Kyungsoo se ajoelhou diante dela e pediu permissão para lhe tirar o sangue. Ela ficou assustada, mas permitiu que o médico fizesse o procedimento.
Pode ser uma pneumonia – pensou – ao despachar o material para ser examinado junto com o de outros pacientes. Feimata não havia sido a primeira a aparecer com esses sintomas. Kyungsoo franziu o cenho – havia respingado um pouco de sangue na manga do seu jaleco – deu de ombros e voltou a suas atividades normais, podia limpar depois.
Kyungsoo tossiu sentindo o sangue escorrer pelo canto de sua boca. Uma das enfermeiras se apressou para ajudá-lo a limpar a boca e as mãos. Ele sorriu fraco para ela e segurou seus dedos, tentando reunir um pouco de suas forças.
— Baek, doutor Baekhyun. – Disse em um inglês arrastado.
A enfermeira ergueu os olhos buscando socorro com seus superiores. Doutor Black maneou a cabeça negativamente e ela suspirou.
— Sinto muito, doutor Do. Ele está indisponível no momento. – A pobre moça já começava a se sentir culpada, por todo dia dar respostas negativas ao jovem médico.
— Ele está morto, não é? – Ele perguntou retoricamente – Apenas acabe com minha tortura, por favor.
— O doutor Byun está apenas indisponível no momento. – Ela repetiu sem nada revelar – Vou aplicar seus remédios para dormir, doutor Do. – A enfermeira tentou controlar a voz embargada, ao perceber as lágrimas silenciosas que riscavam o rosto de Kyungsoo.
Seus olhos se fecharam e ele sonhou com o passado novamente.
Feimata estava de volta, dessa vez desacordada no colo de seu pai. A mãe chorava e pediu incessantemente em um Krio confuso para que o médico salvasse sua filha.
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Feimata (BaekSoo)
FanfictionMe ame, Eu te peço Todas as noites Clamo, Com as forcas que me restam. Me ame... Kyungsoo está angustiado em seu leito. Todos os dias ele morre mais um pouco, mas não devido a doença que o acometeu. Seu peito dói sempre que lembra das lágrimas...