Charles Mártir E O Segredo Do Universo

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O Dr. Alexandre Cavalheiro dormia e acordava com aquele processo em mente. Foi uma longa batalha que durara quase um ano, mas com os testemunhos de Adriano e Tiana Martins, a mãe dos garotos, somados à gravação de seis segundos, conseguiu que Natã ficasse com noventa por cento sobre os direitos de Charles, tornando-se seu tutor legal se estivesse vivo e deixando dez por cento, apenas do uso de seu nome e não de seu trabalho, para Tiana, e nada para o pai, apesar de que ele não poderia se beneficiar de qualquer maneira, pois quando o processo estava em sua terceira audiência, foi comunicado que os presos da cadeia se revoltaram com o caso e agrediram Sebastião até a morte dentro de sua cela.
Referente a isso, Natã não sabia como se sentir. Sentir-se feliz por Sebastião ter passado pelo mesmo que fez com o filho no fim das contas, lhe parecia apenas um sentimento inútil e até negativo. Nada traria Charles de volta. Mas estava muito satisfeito por ter o direito de dar continuidade ao trabalho do "carinha", como costumava referir-se a Charles carinhosamente.
Adriano ficou sob a guarda de sua mãe, pois uma vez que o pai não estava mais vivo, ele não correria riscos de sofrer nenhum tipo de abuso. Ainda assim, depois de longas conversas, ele conseguiu convencê-la a deixa-lo ir para a cidade trabalhar no projeto de Charles e resolveu cursar matemática, tendo como mentora a Dra. Nascimento, que teve importantíssima contribuição ao longo das pesquisas sobre o trabalho de Charles.
Certo dia, logo após a mídia ser informada que Adriano estaria envolvido no projeto, um repórter perguntou como ele via seu irmão, o que sua imagem representava para ele, ao que Adriano respondeu:
-Meu irmão foi um gênio tirado da gente antes do tempo. Charles foi um mártir! É assim que ele deve ser visto!! –Estabelecendo então, não só o nome pelo qual Charles seria eternamente lembrado, mas principalmente que o "caso Charles Mártir" agora não contaria mais com a pena de ninguém a respeito do garotinho assassinado, mas teria sim a admiração ao Mártir que sequer ainda fora plenamente compreendido.
A campanha musical vendia milhões de discos pelo mundo e músicas soltas na internet, além dos filmes e documentários que começavam a ser feitos sobre sua história. Natã sempre voltava ao passado quando ligava o rádio e ouvia a versão editada e produzida, as vezes remixada, da "Canção De Andrômeda", ou mais ainda as regravações de "Íris", que se tornaram uma junção das músicas que Charles vira nos olhos dos três no projetor, naquela última noite mágica.
Muito além, havia o mistério que ainda estava sendo decifrado sobre a relação de sua música com o Cosmos. Danilo e Ayana estavam sempre encabeçando e orquestrando as pesquisas, que se tornaram famosas por contar com a colaboração de todas as áreas imagináveis, indo de médicos a curandeiros e de cientistas a magos, algo até então inédito na história da humanidade. Nunca todos se uniram por uma só causa de tal forma, mas essa experiência não deixou dúvidas de que isso deveria se repetir infinitas vezes se os seres humanos quisessem mesmo descobrir quem são e aonde vão.
A cada certo período uma nova possibilidade surgia e eles se pronunciavam para a imprensa, porém sempre havia uma pergunta nova e as coisas nunca pareciam estar chegando ao fim. Era como dividir um átomo e muitos anos foram necessários para se compreender o trabalho de Charles com exatidão. Só havia uma certeza: de que algo realmente fenomenal estava por trás de tudo. Era o que todos sentiam dia após dia dentro dos laboratórios. Milhões tornavam-se um em prol desse entendimento. As pessoas tinham seus atritos, suas fronteiras e competições, mas onde quer que se levantasse o assunto do caso Charles Mártir, a postura tornava-se de total comunhão, pois todos tinham a mesma pergunta, o mesmo desejo: o que tudo isso significa? Qual será o resultado de toda essa pesquisa?
E unido a esse desejo, havia a intuição que magnetizava a todos à grande questão:

Afinal...
                     O que foi...
                                               Que ele...
                                                                         VIU?

                                                                                        ***

     Passaram-se oitenta e três anos desde o dia em que Natã voltara para a atual Sede D'Art, naquela tarde chuvosa, com Adriano e o Dr. Cavalheiro, e o dia em que foi declarado que finalmente fora decifrado o que Charles estava fazendo realmente. O mundo inteiro estava a postos para ouvir um repórter e escritor biográfico famoso mundialmente, que não tinha vergonha de demonstrar que estava tão ansioso quanto qualquer ser humano no planeta naquele momento, o grande Ungine Kadoc, que foi quem me contactou e enviou todas essas informações do futuro, através de uma das infinitas revoluções tecnológicas e espirituais alcançadas após as revelações naturais conquistadas graças ao trabalho do Mártir. 

Kadoc contou que subiu ao palco que havia sido montado na Zona De Monumentos E Marcos Históricos de Ulm, em Baden-Wuttenberg na Alemanha, ao lado do monumento que fora colocado sobre onde um dia estivera a casa em que Albert Einstein nascera, e fez sua chamada:
-Saudações para todo o planeta Terra! Tenho a honra, muita honra mesmo, de fazer a chamada do sucessor do Sr. Dr. Danilo Braga e a Sra. Dra. Ayana Braga, ficando na linha de frente do projeto Charles Mártir. Ele foi um dos primeiros a entrar no projeto. Foi assistente de professores de física quântica, um garoto muito calado que tinha apenas quatorze anos na época. Hoje, transmitido ao vivo para o mundo inteiro via satélite e por quase todas emissoras de televisão e incontáveis rádios pelo mundo... –falava tentando conter a tremedeira de sua mão direita, que empunhava o microfone com certa dificuldade.
-Finalmente poderemos ouvir o pronunciamento tão ansiosamente aguardado por todos nós, que encerra o caso Charles Mártir. E quem vai fazer o pronunciamento oficial é ninguém mais, ninguém menos, que o premiado professor e Dr. Vinícius Sant'Anna! Dr. Sant'Anna queira ter a gentileza de subir no palco, não preciso pedir aplausos para esse homem né gente?!! –E o mundo dos homens aplaudiu a entrada de um senhor muito idoso, que pisava firme e tinha um olhar de perfurar chumbo, subir ao palco trajando um terno tão branco quanto seus cabelos rentes e barba bem desenhada, agradecendo os aplausos e acenando para os presentes com seu muito famoso "sorriso de boas vindas".
Ele se ajeitou diante da pilha de microfones sobre o palanque e colocou seus óculos com armação de tartaruga feitos de titânio, abriu uma carta que carregava, pigarreou e o planeta se calou para ouvir.