Capítulo 1

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    A noite estava escura, e a lua estava tão pálida quanto a minha pele. Eu vagava pelos jardins do Lar para Doentes Mentais St. Mônica. Meus cabelos voavam com o vento que queimava minhas bochechas, de tão gélido.

    Todas as noites minha rotina era a mesma, quando os seguranças trocavam de turno significava que eram às 3h da manhã, e era nesse momento que a energia do St. Mônica desligava, por apenas 30 segundos, então eu conseguia abrir as janelas do meu quarto, e quando eu saia, não deixava ela completamente fechada, para poder retornar sem que ninguém percebesse.

    Eu caminhava pelo jardim tocando com a ponta dos meus dedos as rosas brancas lá plantadas, explorando com os meus olhos cada canto das cercas que significavam que ali era o limite do hospital. Eu procurava e procurava, mas não conseguia achar o lugar nem a maneira perfeita. Até que... quando eu já estava virando as costas para voltar para o quarto eu a vi.

   Ela era uma árvore grande com galhos grossos que pareciam ser fortes só de olhar. Apenas observando eu já conseguia imaginar, eu mesma pendurada em um dos galhos com uma corda em volta do meu pescoço.

   Sim, esse era o lugar e a maneira perfeita, perfeita para o meu suicídio.

*****

   "Não mamãe, por favor!" eu dizia enquanto dois homens com roupas brancas e com broches em seus peitos escritos Lar para Doentes Mentais St. Mônica seguravam meus braços a força.

   "Você é doente, Aurora! Agora vá!" disse ela com o nariz empinado, mas ainda assim com os olhos azuis tristes, como estavam já havia uma semana.

   "NÃO MAMÃE, POR FAVOR! EU NÃO SOU LOUCA! EU NÃO O MATEI, EU O AMO! EU NÃO SOU LOUCA! NÃO SOU..." eu gritava enquanto os homens de branco me puxavam para a parte de fora da minha casa. Enquanto as portas se fechavam na minha frente e eu me debatendo para voltar, vi uma mulher toda vestida de azul atrás da minha mãe, e depois as portas se fecharam.

   Depois de quinze minutos na carruagem a caminhos do hospício, eu parei de lutar, mas continuava abraçando os meus joelhos e chorando. Ainda sussurrava "Eu não o matei, estava tentando salvá-lo, não o matei, não o matei"...

   Então acordei no St. Mônica, em meus aposentos. Havia sido só um sonho. Eu sonhava com esse dia, o dia em que me tiraram de casa a força. Com toda a certeza essa era a minha por lembrança, e quase todas as noites, meu cérebro me torturava repassando essa cena na minha cabeça.

   A maioria das vezes acordava suada, chorando e gritando. Pelo jeito hoje me debati também, pois duas enfermeiras me seguravam pelos braços.

   "Senhorita Kingsley! Acorde por favor!"

   "Desculpe, Marta! Foi mais um sonho" expliquei, coçando os olhos e levantando.

   "Tudo bem, Senhorita Kingsley, é o meu trabalho. Suzan, já pode se retirar, acho que a paciente já melhorou."

   "Marta, quantas vezes eu vou precisar te dizer? Me chame de Aurora."

   "O que você acha de um banho, Senhorita Kingsley?" ela perguntou, me ignorando completamente.

   "Concordei com a cabeça. O suor do meu corpo me incomodava, então imediatamente peguei minhas coisas e caminhei até o banheiro, deixando a enfermeira falando sozinha no meu quarto, provavelmente estava reclamando por ter que trocar os lençóis.

   A água escorria pelo meu corpo, eu conseguia sentir cada gota. Os meus olhos estavam fechados, naquele momento eu não pensava em nada, e em questão de 1 segundo, mil pensamentos invadiram a minha mente.

   Pensei na minha mãe e na frieza com que ela me tratou no dia em que ela me expulsou de casa dizendo que eu era louca. 

   Depois lembre da árvore. A árvore forca. Hoje é quinta-feira, o dia em que eu tenho que conversar com o meu psiquiatra durante a manhã, mas amanhã é o dia perfeito. Sexta-feira é o dia de visitas, todos (na verdade, a maioria) vão estar com suas famílias. É o melhor momento para ir roubar uma corda, quando todos estiverem ocupados.

   Durante esses 2 meses (e meio) que eu estou aqui, minha mãe não veio me visitar nenhuma vez, então não vou precisar me reocupar se ela virá.

   Desliguei o chuveiro, me cobri com uma toalha, e comecei a pentear os meus cabelos que eram tão pretos quanto os meus olhos.

   Eu sempre fui mais parecida com o meu pai, que morreu e doença a alguns anos, deixando todas as responsabilidades da empresa dele para a minha mãe. A pessoa mais parecida com a minha mão era o meu irmão, os dois loiros, quase platinado, e os olhos azuis como o oceano. Até a personalidade deles era parecida, sempre felizes com um sorriso radiante do rosto, o qual sumira dos lábios da minha mãe na semana em que fui embora, mas não por sentir a minha falta, e sim pela morte do meu irmão, a qual ela jurava que eu havia assassinado-o.

   Saí do banheiro e fui para o meu quarto, coloquei uma blusa branca e uma saia azul bebê com suspensórios, uma sapatilha branca e estou  pronta para a minha consulta com o psiquiatra.

   A consulta começava às 10 horas da manhã, olhei para o relógio e o ponteiro pequeno ainda apontava para o 8 e o grande para o 6. Faltava ainda muito tempo.

   Não tinha nada que eu podia fazer enquanto o tempo passava, além de ler. Fui para a biblioteca ler pela décima vez "Alice no país das maravilhas".

   Quando faltavam 10 minutos para as 10 horas coloquei o livro atrás do sofá. Como era o meu preferido não queria que mais ninguém lesse, então o escondia.

   Saí andando até o consultório do Dr. Mattew. Bati na porta que foi aberta imediatamente. Ele estava tentando esconder o sorriso, o que não funcionou pois eu conseguia ver quase todos os seus dentes.

   "O que aconteceu? Por que você está feliz?" perguntei.

   "Entre, Aurora. Tenho uma coisa para te contar" ele respondeu.

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