Pov. Dorian
Helena deve estar se casando nesse exato momento.
Suspirei.
Pode parecer cruel da minha parte não ir ao casamento do meu próprio irmão, mas não poderia me sentar e ver o amor da minha vida partir pra sempre, se casando com outro.
A taverna do Joe está particularmente agitada essa noite, tem alguma coisa acontecendo ao fundo, mas não dei muita importância, não quero saber de festa, nem de alegria, só quero me afundar na minha própria existência miserável.
Eu já havia bebido muitas canecas de cerveja e continuava me sentindo um lixo, desprezível, abandonando, traído, eu continuava me sentindo o homem mais infeliz da face da terra.
Suspirei.
- que droga de vida! -resmunguei.
A vida é assim, você sofre por anos sem fim, pra no final apenas morrer, morrer sem jamais saber o que realmente é ser feliz.
Não é possível alguém sofrer tanto assim por uma mulher. É ridículo um homem como eu está aqui bêbado e chorando.
Helena foi e ainda é muito importante para mim, mas percebi que se eu realmente quisesse sua felicidade, eu deveria deixar ela partir, deixar ela se casar com quem realmente ama.
As lembranças de Helena invadiam minha mente me fazendo sentir raiva. Eu poderia ter me esforçado mais, poderia ter insistido mais... Não, mesmo assim Helena não seria feliz ao meu lado.
Doc e Fera não estavam na taverna hoje, estavam no casamento. Quem convida assassinos para o próprio casamento? Só Helena mesmo, e é por isso e por tantos outros motivos que eu me apaixonei por ela, porque ela é diferente de todas as outras mulheres que já conheci e digo que não foram poucas...
Os gritos na taverna eram estridentes, estavam todos muito animados com alguma coisa, o estranho é que geralmente isso acontece quando um pato está sendo depenado, mas não é o caso, uma vez que Doc e Fera não estão aqui.Não importa muito, não estou nem um pouco interessado em saber o motivo da felicidade alheia, prefiro ficar aqui sofrendo e bebendo calado.
Infelizmente os gritos não cessavam, a felicidade das pessoas ao meu redor só estava me deixando mais deprimido e irritado. Já está na hora de ir embora, não há mais nada a fazer aqui e nem em lugar algum, eu já perdi Helena pra sempre.
Me levantei meio trôpego, mas não bêbado o suficiente. Eu ainda posso andar e pensar, isso me deixa irritado, pois quando bebo é pra cair. Acho que vou procurar uma garrafa de uísque quando chegar em casa, talvez duas ou três. Não importa!
Quando passei por uma mesa rodeada de pessoas não pude deixar de olhar já que os gritos provinham dali.
Por um segundo apenas, pensei ter visto Helena. As lembranças da noite em que eu a trouxe aqui voltaram com muita força me fazendo vacilar e quase cair.
Parei em frente a mesa e tornei a observar o que se passava ali.
Eu não estava ficando doido, realmente havia uma garota sentada ali na mesa, mas não era Helena. Muito pelo contrário, ela não se parecia em nada com Helena.
Ela era muito bonita, tinha cabelos cacheados e loiros como o mais puro ouro, sua pele é branca como porcelana, um rosto de anjo inocente e um sorriso branco e perfeito. Ela usava uma capa azul marinho com capuz tentando ocultar sua identidade, ao seu lado haviam três canecas de cerveja vazias e uma quarta estava em sua mão.
Quem é ela?
Gritos alucinantes me assustaram, fazendo com que eu me lembrasse de onde estava.
Eu não conseguia entender toda aquela cena, não entendia o que uma garota tão graciosa estava fazendo em um buraco como esse, sozinha e sem ao menos se importar com isso.
Minhas perguntas ganharam uma resposta no mínimo satisfatória quando ouvi a garota gritar em alto e bom som:
- QUEM VAI SER O PRÓXIMO PATO?
Sua voz era musical, hipnotizante, apesar disso tinha um tom de desafio e determinação.
Entendi quase tarde de mais que era ela quem estava depenando os patos da taverna essa noite.
Sorri com a possibilidade de ganhar um dinheiro fácil.
Em sua frente havia um jogo de baralho praticamente novo, e junto a si havia uma bolsa cheia de moedas de ouro.
- e então? Mais alguém? Ou estão com medo?-disse ela com uma risada melódica.
Ninguém ousou se aproximar da moça.
Em um surto de curiosidade, me sentei na sua frente, olhando para aquela cara de anjo.
Depois que a examinei mais minuciosamente, percebi que ela estava usando um vestido de festa azul cheio de brilho. Ela deveria estar saindo de alguma festa, provavelmente do casamento de Helena e Ian, era a festa mais esperada de todos os tempos, obviamente todos foram convidados.
Ao associar a garota com Helena, percebi que já havia visto ela antes, mas não me recordo bem quem ela seja ou onde nos vimos.
- então você é o próximo trouxa a me desafiar?-perguntou ela sorrindo.
Ela começou a embaralhar as cartas sem tirar os olhos dos meus.
- não sou tão trouxa quanto pareço! -respondi um pouco perdido com tanta beleza.
Ela sorriu.
Ela não se deixou intimidar por minha beleza, simplesmente ignorou minha pessoa e focou no jogo.
Ela distribuiu as cartas e assim começamos a jogar. Ganhei as três primeiras rodadas, mas logo ela me alcançou. Estávamos empatados, mas ela não parecia se abalar. Não, ela não estava jogando pra valer, ainda não. Ela estava testando meus limites, meus truques e minha paciência.
A taverna começou a ficar mais silenciosa, as pessoas começaram a ir embora, alguns poucos já estavam caídos pelo chão. O sol já estava entrando pelas frestas quando ela anunciou.
- Você perdeu!
Eu sorri de canto.
- Me deve muito dinheiro rapaz!-disse ela animada.
- infelizmente não tenho nada aqui comigo! -anunciei.
Fiquei feliz em perceber que durante o tempo que estávamos jogando, eu não pensei em Helena. Isso pode ser um bom começo.
A garota ficou irritada, e uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.
- você tem que me pagar!- disse ela irritada.
- obviamente senhorita. Sou um homem honrado, sempre cumpro com meus deveres, principalmente minhas dívidas.
- acho bom mesmo!- disse ela desconfiada.
- e quem eu devo procurar para pagar minha dívida?
- Cristal. Cristal Moore. - disse ela sem hesitar.
Sorri. Cristal. Nome bonito.
- e quem eu devo esperar? -perguntou ela sorrindo.
- Dorian Seymour.
Ela sorriu se levantando.
- Sabe que deixei a senhorita vencer. Não sabe?-falei sorrindo.
Ela gargalhou.
- Acho que não Senhor Seymour.
- Claro que deixei. Sou um cavalheiro! -respondi.
- O senhor está pedindo uma revanche? -perguntou ela sorrindo.
- talvez...
- o Senhor vai perder. De novo! - disse ela convencida.
- não me importo, contanto que te veja novamente...
Ela sorriu e foi em direção a porta, mas antes de sair anunciou:
- Nos vemos a noite Senhor Seymour, e não esqueça meu dinheiro.
Sorri já ansioso por esta noite.
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Casamento Arranjado [Completo]
Fiction HistoriqueEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...