#1.2 A Detenção

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A aula vai mais rápido que eu imagino. O Sinal da liberdade tocou. Todos se levantam para irem embora, mas eu continuo sentado esperando a multidão sair pelo pequeno ralo que sai direto para o corredor principal. As duas pessoas sentadas atrás de mim me encaram, sinto o olhar deles fixos em mim. Eles me devem achar louco ou algo assim. Mas quem não é, não é mesmo?

"Que tal irmos tomar sorvete na praça?" Ônica quebra o silencio, enquanto eu encaro a última gota sair pelo ralo.

"Não!" -grito.

"Ele está de detenção." Explica Vini.

"Meu deus! Leonardo... Não, você está de detenção no seu primeiro dia de aula." Num tom incrédulo e surpreso. "Isso é um recorde, não é Vini?"

"Foi o que eu disse pra ele." Dando um tapinha nas minhas costas. "Vamos lá tomar esse seu sorvete então." Se levantando indo em direção ao funil.

"Vamos." Segurando a mão de Vini. "Boa sorte cara, depois me explica como aquele peixe virou nós, os seres humanos." Olhando para mim com seu olhar carregado de maquiagem envolta dos olhos.

Fico só na sala. Não quero ir para detenção, ficar olhando para aquela cara gorda da grande sapa não vai ser nada legal.

"O que será que ela quis dizer sobre o peixe?" Sussurro pra mim mesmo tentando achar a resposta que não veio e nem quero saber. Tenho medo daquela grande sapa.

Pego minha mochila e saio pelo funil, fecho a porta atrás de mim, minha mãe sempre me disse para nunca deixar rabo pra trás, se não vem alguém e pisa e você cai. Nunca entendi a lógica dela, mas fazer o que, mãe é mãe então a obedecemos.

Encaro a grande porta de vidro ao meu lado direito. A saída. Viro meu corpo em sua direção, até ouvir passos pesados num ritmo frenético atrás de mim.

"Onde o senhor pensa que vai, Leonardo?" com um sério e rude tom em sua voz inconfundível a grande sapa surge atrás de mim. "A detenção é por ali." Apontando para uma entrada sem portas, onde deve ter uma ligação com um outro corredor cheio de salas. Uma delas a detenção.

"A senhora sabe meu nome?"

"Mas é claro, conheço todos os alunos dessa escola por isso sou a diretora." Com um certo orgulho na voz. "Pedro a detenção é logo ali, não pense que irá escapar dessa vez." - olhando para o garoto magricelo que se esquivava dos alunos a sua frente numa velocidade surpreendente.

Sigo então rumo a minha sentença, agora vou entender o que Ônica queria dizer sobre os peixes, mesmo contra minha vontade. Vou andando a passos curtos numa velocidade lenta. Vou olhando a minha volta para ir me familiarizando com a nova escola. O chão era de um verde musgo bem escuro, as paredes eram de um tom cinza até na metade, a parte superior da parede era um branco já sujo. Haviam lixeiras espalhadas em tudo quanto é canto dos corredores, fazendo com que o chão fosse impecável. Ouço novamente os passos que ouvira alguns minutos mais cedo.

"Aquele insolente, pensa que vai escapar assim tão fácil... Hoje mesmo irei mandar um e-mail para seus pais e vou dobrar sua detenção." - os resmungos da grande sapa vai aumentando a medida que vai se aproximando de mim. "E você o que faz aqui?"

"Estou indo para a detenção, como a senhora disse." - respondo instantaneamente, antes que ela dobre minha detenção também.

"Mais rápido vamos!" - batendo palmas atrás de mim, a fim de me agilizar com os passos.

Sem questionar ando mais rápido chegando assim finalmente para uma porta já bem gasta de madeira, pintada com um verniz escuro. Uma pequena placa centralizada na altura de meu rosto escrito em letras maiúsculas "DETENÇÃO". Entrei e vi que era uma sala como a da minha turma sentei em uma das últimas carteiras. Olhei em volta e vi que tinha umas vinte pessoas todas espalhadas mas sentadas na frente. Apenas eu sentava na parte de trás.

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