CAPITULO XXXIV

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CAPITULO XXXIV

Na câmara de vigia, Christian dispôs-se a escrever no diário de bordo. Chegou a redigir algumas linhas de suas anotações. De­pois, ficou com a pena no ar, o pensamento longe dali.

Horas após receber a notícia da fuga de Napoleão, conven-cera Patrick a tomar, como ele, o rumo da Inglaterra. O cunhado mostrara-se relutante a princípio. Mas o argumento de que a Itália abrigava amigos poderosos do Corso, tornan­do perigosa a permanência deles em Livorno, acabara por convencê-lo.

Automaticamente, refletiu se não fora uma decisão preci­ pitada, se não havia cometido um erro, dando ordens para zar-par. O céu estava sem nuvens, o mar calmo. Mas se o tempo mudasse? Como enfrentariam as ameaças do mar e do vento, tendo a bordo uma mulher que lutava para trazer uma crian­ça ao mundo? O risco lá estava... e se surgissem complicações...

Súbito, um grito abafado chegou a seus ouvidos. Depôs a pena sobre a mesa e fechou o diário, tomado de apreensão. Por que o dr. Arrighi não fazia alguma coisa para aliviar o sofrimento dela?

Conseguira convencê-lo a permanecer a bordo com a pró-messa de uma bela recompensa por seus serviços. Mas, agora, percebia que não devia ter confiado tanto num profissional com tão pouca experiência!

Um outro grito o fez levantar-se de um salto e correr para a porta. Antes que pudesse alcançá-la, Megan irrompeu na ca­bina, arquejante.

- Desculpe, Christian. Mas...

Suas palavras precipitadas e nervosas fizeram-no empa­lidecer.

— Que há, Megan?

— Temos complicações.

— Que tipo de complicações?

A irlandesa torceu as mãos, aflita.

— Ela está muito cansada, Bretí. Poderá não aguentar por muito tempo. O médico terá talvez de escolher entre a mãe e o filho.

— Não haverá escolha alguma! — ele se alterou. — Vou dizer ao dr. Arrighi que pense primeiro em Anastasia. Outros bebês poderão vir depois.

— Espere um instante! Ele é católico. Não tenho certeza, mas parece que em casos como esse a Igreja manda salvar a vida da criança.

Nesse instante, outro grito cortou o ar. Aflito, ele agarrou Megan pelo braço e arrastou-a para a porta.

Segundos depois, entravam com ímpeto no camarote, onde Anastasia gritava na cama.

— Fora! — Christian avançou para o médico, transtornado.
O dr. Arrighi olhou-o, perplexo. Não estava preparado pa­ra aquela explosão.

— Como?!

— Eu disse fora! — tornou Breít, interceptando-lhe os pas­sos para impedi-lo de aproximar-se da cama.

— Mas, Sua Graça...

— O senhor me ouviu. Não quero que volte a pôr as mãosem minha esposa!

O dr. Arrighi encolheu os ombros num gesto de resignação, apanhou sua maleta e caminhou para a porta.

Enquanto Breíí debruçava-se sobre o leito, a esposa gemia contorcendo-se em espasmos.

— Oh, meu Deus...

Quando a dor cedeu, transformando a agonia num fraco queixume, ela abriu os olhos.

— Breít... É você?

— Sim, amor. Poupe suas forças. Megan e eu estamos aqui para ajudá-la.

— Ouça bem, querida — disse a irlandesa. — Faça tudo o que lhe pedirmos e não haverá problemas.

Equívoco de Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora