Thinking Of You

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  Nunca fui muito de curtir a presença das pessoas. Você sabe disso, eu sempre deixei bem claro que você é uma das minhas ínfimas exceções... sinto saudades, ainda que esporadicamente, da sua pessoa que tanto me cativa.

  Chego neste pensamento enquantou estou aqui, sozinho em meu quarto. Está uma bela madrugada: silenciosa senão pelo agradável som do vento tocando em árvores e cortinas com a delicadeza que eu mesmo quero tocar a sua pele. Está inspiradoramente escura e nenhuma luz vem me cegar e destruir a aura de completa natureza, se esquecermos completamente do fato de que eu consigo ver as casas vizinhas pela janela, enxergar os portões altos de ferro e as proteções de concreto.

  Pois é, eu vejo tudo de uma janela... o que faz minha descrição desta noite ser um pouco duvidosa. Mas, é como se eu descrevesse uma parte do meu próprio coração. A certeza de que lá fora as estrelas mal aparecem no céu por conta da cidade é grande demais para ser ignorada. Não preciso abrir minha janela para abrir meus olhos, e mesmo com estes fechados eu poderia curtir o clima que aqui se instalou, em meu peito.

  Nesses dias tenho adquirido gosto pela escuridão, um gosto que eu larguei por um tempo mas que aparentemente sempre me encontra devolta. Será isso uma singularidade ruim? Diria que é romântico, querer me envolver assim em escuridão para que nada atrapalhe minha música e meus pensamentos? E se dissesse que eles giram em torno de nós? Me olharia bobo e me daria um tapa, com o sorriso mais lindo do mundo lhe enfeitando os lábios?

  Gostaria de poder vê-lo, este sorriso. Tocá-lo, sentir na pontinha dos meus dedos a carne sensível dos teus lábios e decorar o formato deles sem pressa alguma, em uma reencenação de qualquer filme romântico que se possa achar por aí.

  No meu quarto, no escuro que eu mesmo criei e acolhi, meus dedos nunca estiveram tão hiperativos e eu não culpo somente a você... sempre fui uma pessoa que acaricia a solidão, fascina-me tudo de mais simples. Quando não há olhares em cima de mim, eu posso ser o completo filósofo que nasci pra ser: refletindo nas coisas mais absurdas, remoendo as minhas incertezas e relembrando com carinho os meus bons momentos. Sonhando acordado com o que quero ter ou fazer.

  Mas voltando aos meus dedos, estes querem escrever mil e uma coisas. Desejam tocar o vidro gelado da minha janela, como se pudesse sentir a noite lá fora sem realmente fazer parte dela. Clamam pela sua presença, assim como minha mente e meu sôfrego coração... mas isso já não lhe é novidade. Não preciso mais dizer a você que quero te amar já que você lê isso em minhas entrelinhas, com a facilidade que só o tempo e meu esforço poderiam proporcionar.

  Não foi com facilidade que te fiz ver o quão louco me deixa, com apenas sua existência e unicidade em me querer de uma forma que nunca entendi como pode ser real. Mas acredito nela, porque você acredita e de mentiroso eu jamais te chamaria. Porque sei que sempre foi sincero comigo.

  A música que ouço não é animada, tão pouco longa ou tremendamente intensa em seu conjunto de melodia e letra, mas acalenta meu ser de uma forma inexplicável. Sinto-me enamorado a paz com que me guia pelas horas que passo em minha grande cama vazia, com as cortinas abertas para me mostrar a noite separada de mim por uma simplória camada de vidro frio...

  Fechando os olhos, posso até aproveitar o som dos penduricalhos sendo atazanados pela brisa de uma boa tarde de chuva rala, que sempre traz o mais sentimentalista de mim á flor da pele. Posso até fabricar a sensação das minhas mãos tocando o tecido do estofado, onde sento para geralmente observar o céu nublado e cinza que não me bota pra baixo como a maioria das pessoas diz reagir, muito pelo contrário.

  Nunca soube explicar, mas o frio me cobre como uma mãe com uma quentinha manta para seu filho cansado, que acabara por dormir no sofá, depois de ter enfrentado mais um dia. Sinto-me estranhamente conectado com a natureza, como se uma parte melancólica de mim se identificasse com o clima e me puxasse, como quem diz: "Olhe, alguém está se expressando por nós". De todas as coisas fui me encantar logo pelo que a maioria não aprecia, em uma rebeldia involuntária para com a sociedade e sua mania de ditar o que é ou não válido.

  Exceto que você também me encanta, e posso afirmar como fato que não sou apenas eu que te vê sem necessitar de nenhum sentido. És tão precioso que espanta meu diário acerto de negócios com Morfeu por minutos e até mesmo horas, para que meu cansado corpo possa entreter-se com a memorização de sua voz, seu bom humor, sua risada, sua beleza. Interior e exterior, porque você é dono das duas sem tirar nem pôr.

  Mas não me zango por deixar meu descanso de lado, afinal eu poderei descansar mais tarde... já a noite vai me deixar, a calma vai excluir-se e meus sentimentos voltarão a ser coisa falada e não demonstrada. Tenho de aproveitar ao máximo esse carinho da música de batida leve, firme mas leve.

  Lembro-me de momentos de clima frio e apaixonante que combinam com este. Dias em minha varanda com nada além da minha própria voz para preencher o vazio da noite, que parecia ainda mais solitária que o normal com a justificativa de que eu havia 'fugido' de casa para observar as estrelas e, quem sabe, o nascer do sol. Dias em que passei minutos tremendo pela baixa temperatura com o nariz fungando em teimosia, porque o jeito como as folhas verdinhas das árvores lá longe balançavam me hipnotizava desta patética forma.

  Dias em que repeti esta mesma dose do presente: desligando as luzes para olhar pela janela, em meio a móveis no vagaroso processo de montagem e pecinhas de metal que deveriam unir-se para formar o que quer que fosse, observando a mesma imagem que agora é tatuada em minhas pálpebras, assim como minha dedicação por ti é permanentemente marcada em meu coração.

  Lembro-me de dias especiais também. Recordo-me de um dia recente sentado nesta mesma janela, que agora estava tão aberta quanto a própria janela da minha alma, em que observava a agressiva torrente de água vinda dos céus em tons escuros do mesmo modo que uma criança investiga uma diferenciada flor ou uma colorida borboleta. Queria me juntar àquilo e ser tão agressivo quanto a chuva, tão belo quanto a flor, tão cheio de vida quanto a maldita borboleta que voa sem se preocupar com a possibilidade de cair.

  O chão estava inundado, e isso não me assustava de modo algum. Na verdade senti vontade de descer e sentir a água gelada com meus pés, para tirar de seu emprisionamento a criança que ainda existe dentro de mim e seguir brincando com as escuras e fracas ondulações enquanto me ensopava com um dos fenômenos que mais amo na natureza.

  Mas não o fiz, porque me contentei em assistir o pequeno caos de pertinho, em meu assento no peitoril da janela, segurando fracamente meus joelhos com os braços em posição encolhida enquanto cantarolava baixinho algumas músicas que gravei em minha memória inconveniente, que só se mostra eficiente nestes pequenos momentos.

  Ouvia e via os trovões e relâmpagos, outros fenômenos que me espantam pelo poder que tem sobre mim: me fazem respeitar o poder da mãe natureza, mas amá-la como nunca pude explicar já que em dias quentes pode-se me ouvir dizer o quão odioso é ter sequer um inseto perto de mim. Complexo, entretanto já esperado de alguém que vive reclamando e no fundo ama sem sequer relar o olho no contrato que assina.

  E foi o mesmo com você, amor. Não consultei o cérebro, não ouvi as vozes no meu subconsciente me falando que eu não era disso. Só fui, brinquei naquelas águas escuras e aparentemente inofensivas que eram a nossa amizade. E parece que estou fadado a ser um desastrado, porque em um instante tropecei e noutro as ondas me levavam para o que seria o mergulho da minha vida.

  Afundei-me terrivelmente rápido, meu anjo, mas não travava batalhas contra o sufocamento ou me debatia em desespero... apenas sorria sincero, sentindo meu sangue circular como nunca havia feito antes pelo estado maratonista que você deixava, e ainda deixa, meu pobre e jovem coração. Mas como ele é seu, não reclamo. Sei que tenho o teu e acho a troca muito justa, por mais que pra mim você esteja em desvantagem. Mas não falarei disso.

  Não, falarei do quanto sinto saudades suas. Cantarei sobre sua doçura, gentileza e excentricidade. Em minha mente, comporei quantas linhas for preciso para que cada pedacinho de rosa do seu corpo seja bem tratado... e tatuarei em nossas promessas íntimas o quanto espero que eu possa divagar sobre você eternamente, em madrugadas como essa, sem levar essa melancolia comigo para o dia ou nunca usar o verbo amar num amargo pretérito. Seria como finalmente tirar a bolhinha de ar que me mantém vivo, quando eu não tenho certeza se conseguirei sair deste mar bipolar, ora calmo ora tortuoso, nadando por mim mesmo.

  Exporei apenas isto, que te amo Kim Seokjin. E que quando acordar, deveria ter mais paciência comigo... afinal, estava ocupado demais sonhando acordado para dormir.

A Night Like Any OtherOnde histórias criam vida. Descubra agora