Primeiro Encontro

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Bianca e Ludi eram almas gêmeas. Sabe? Aquela parada de escritos nas estrelas, metades da laranja, movidos por forças do destino que os levariam um ao outro e então, consagrariam essa união que simplesmente era feita para ser.

Estava tudo lá, nos livros, constando nos autos divinos, esotéricos, do universo.

"Se conhecerão, ficarão juntos e viverão felizes para sempre no seu próprio jeitinho e termos."

Com tal ventura, não há erros, nem incertezas!

Ou há...?

Bem, o importante é que aconteceu.

Tal como em um filme, os olhares se cruzaram, em uma festa de um amigo do um amigo em comum da faculdade, e um reconhecimento gritou, sem medo de se fazer histérico. A ideia fixa de que, de alguma forma, precisavam se aproximar e tentar algo, ao menos. Mas na mesma intensidade em que eram sortudos, também eram lentos e precisaram de cinco meses de flertes-não-flertes (onde a regra era desviar o foco de visão quando o outro notava) para enfim, tomarem um atitude.

Ou no caso tomar, já que foi ela quem virou para a amiga, Vanessinha, e bradou, puta da vida: não aguento mais isso! Eu vou lá falar com esse boy!, e foi. Aproveitou o fato de que ele estava lendo seu livro preferido e puxou assunto, como quem não quer nada.

― Zafón, né? Da hora ― e assentiu com a cabeça.

Ele, enfim, ergueu os olhos por detrás da muragem de papel e sufocou com as palavras ouvidas, e a constatação de que não era uma mera miragem. Ah, ela estava ali, em carne, ossos, e um sorriso que fez Ludi lembrar de respirar novamente.

A confusão mental com tamanha façanha da parte dela o fez esquecer de dar uma resposta concreta e não-besta; tudo que conseguiu fazer foi abrir a boca para perder as sílabas no ar. Um silêncio estranho e incomodo os permeou, em um momento de leve arrependimento da parte de Bianca. E ela até quis não tentar demonstrar a infeliz sensação, mas lento esvanecer da alegria era o bastante para se entender com todas as letras.

Eu sou uma idiota. Ele nunca flertou comigo. Ai, meu, Deus. O que caralhos eu vim fazer aqui?, os pensamentos bamboleavam disso, para planos de fuga mirabolantes antes que aquela situação ficasse estranha demais. Fazer a egípcia ou inventar uma desculpa para sair dali sem soar mais bizarro do que já estava?

Mas, para sua "sorte", não houve necessidade.

― É, eu curto pra caramba ― falou, após um pigarro nada discreto, porém muito amado naquele momento.

E foi o que bastou para eles se descobrirem, e desvendarem o que tanto tinham em comum e de diferente, e, com isso, alavancar a comemoração do universo. Finalmente! Finalmente, poderiam ficar juntos, dar suporte um ao outro nas dificuldades que viriam e levar uma vida a dois não perfeita, contudo boa o bastante para serem capazes de dizer no final que valera a pena.

Isso se... Não fosse o maldito primeiro encontro.

Até então, tudo estava incrível. Sentaram num barzinho, beberam umas cervejas ― só tinham olhos um para o outro. E conversaram a noite inteira, trocaram momentos de um silêncio que pedia por um beijo, mas resistiram. Isso até entrarem no carro.

Meu Deus, como não poderiam aproveitar a alegria de estarem juntos, do jeito que era para ser? Como uns míseros beijinhos ― na verdade, amassos desconfortáveis no banco reclinado do veículo ― poderiam saciar a vontade que tinham um do outro? Era impossível.

Ele a acompanhou até a porta, não pela segurança dela; a intenção era tardar o máximo aquela despedida. Entretanto, sequer precisou se preocupar. O até logo verdadeiro só veio na manhã seguinte, depois de um café e um beijinho na porta. A última coisa que viram naquele dia antes do elevador fechar fora o sorriso incontrolável que mal conseguia expressar a satisfação que a noite trouxera.

Pena que alegria não duraria muito...

― Ela deu pra você? No primeiro encontro? ― Rodrigo, melhor amigo de Ludi, perguntou, incrédulo, quando soube das notícias incríveis. Ao menos para o rapaz ao seu lado... ― Que piranha.

 E com essas poucas palavras, acabou. Que destino, alma gêmea, ou certeza, poderia ir contra tais fatos tão contundentes? No dia seguinte, ele não ligou. Nem depois, nem na outra semana. Afinal, o que os outros iriam pensar se o vissem com uma garota dessas?

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