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- Ângela! Ângela, volta aqui! – Diego gritava para a irmã, que saíra de dentro da casa de Mussum e ficara encostada no portão.

- Não quero! – ela bateu o pé no chão.

- Ângela, nem vai rolar tiro, só vamos dar umas porradas na pessoa, poxa! – Diego abriu os braços. – Coisa pouca! Nem vai tirar tanto sangue assim!

- Eu falei que ela ia arregar! Poxa, Angie, que decepção, quando tu tinha 14 anos desceu a porrada sozinha naquela renca de garotas que te cercou lá no fim da rua, lembra?! – lembrou Mussum. – Tá certo que elas te confundiram com a Carlinha, pensando que tu tinha se enroscado com os namorados delas, mas porra, tu mandou benzão! Ninguém nunca esqueceu de você passando feito um trator por cima delas! O Bolo virou teu fã, até hoje paga pau pra você!

- Aquela era outra Ângela, Mussum! – Ângela afirmou.

- Outra?! – Diego ficou confuso. – Mas como pode? Ângela, não acredito que você tem outra irmã gêmea e não me falou!

- Pode ser uma sósia. Rola muito isso em seriado. – Mussum sugeriu.

- Ou então um clone! Não teve uma novela que tinha isso? Ângela, se alguém te clonou, processa! Ou então faz um filme! Vai ganhar uma grana!

- Aqui no Brasil? – Mussum fez uma careta. – Duvido. Filme brasileiro é tudo flopado! Tinha que fazer filme na terra dos gringos, aí sim rola uma graninha boa!

- Vocês dois, gênios, querem parar, por favor?! – Ângela pediu, impaciente. Olhou para os dois que estavam parados na varandinha. – É que eu tenho medo. Medo de ser ainda mais zoada pela pessoa que fez o vídeo... Medo de ficar paralisada. Medo de escutar tudo que eu mesma digo pra mim e já dói, imagina alguém falando na minha cara que eu sou uma deformada, que já nasci desprovida de beleza e eu mesma, na minha burrice, provoquei o acidente guiando bêbada, louca e estraguei o resto do meu rosto... – ela tocou no próprio rosto. – Não sei se vou aguentar...

- Ai, Angie, para com isso. – pediu Diego, indo até ela e a abraçando. – Você não é tão feia como acha que é.

- Ah, quer dizer que, de qualquer forma, eu sou feia! – ela protestou.

- Não, Angie, caramba! – Diego exclamou, exasperado. – Que mania que mulher tem de torcer tudo que a gente diz! – bufou. – Angie, você não é nenhum dragão, muito pelo contrário! A Carla tá certa, você não se valoriza!

- E como eu vou me valorizar com esse rosto que parece ser cheio de rasgos e pior, eu mesma quem fiz?! Como?!

Ângela saiu correndo enquanto começava a chover. Diego ainda gritou.

- Ô Ângela! Ângela, vai pegar uma pneumonia e mamãe não tem dinheiro para pagar por outro pulmão! Ângela!

- Deixa, Diego, deixa! – Mussum gritou. – A menina tá traumatizada, é normal, coitada. Aí, vamos falar com o Bolo e o resto da galera e vamos juntar essa pessoa que sacaneou a Ângela. Quero ver se não afina com todo mundo cercando.

- Boa, Mussum! Boa! Coitada da Angie... Minha irmãzinha não merece sofrer assim... Vamos que vamos!

Mussum e Diego saíram correndo pela rua para convocar os outros amigos para procurar a pessoa que postara o vídeo sobre Ângela.

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Ângela parou de correr e xingou ao se ver molhada pela chuva fina que caía.

- Que merda! Merda! To com raiva da vida, raiva de tudo! – ela chutou um carro e gritou. – Ai! Merda! Merda!

Doce com Batata FritaOnde histórias criam vida. Descubra agora