Engraçado...
Sasuke achava engraçado como tudo no mundo parecia acolher e reverenciar Hinata. Sentada em uma das mesas do jardim, ela sorria de forma delicada e gentil para o amigo que falava e gesticulava à sua frente. Sasuke olhou para cima, o sorriso irônico não pôde ser evitado, muito menos as constatações que invadiam sua mente.
O sol, que tinha sido tão cruel nos dias anteriores, talvez tivesse se compadecido da pele clara e frágil de Hinata, ele brilhava com força, mas seus raios pareciam apenas deixar uma singela carícia no rosto dela, iluminando-o e trazendo uma sensação morna de bem-estar. O vento gelado que havia feito com que Sasuke amaldiçoasse o clima daquela cidade, agora não passava de uma breve brisa que insistia em brincar com as mechas dos cabelos dela, entrelaçando-se com os fios, como uma dança lenta que era interrompida quando as mãos enfim decidiam colocar o cabelo atrás da orelha. As flores do jardim, que tanto lhe tinham dado trabalho, finalmente tinham desabrochado, um pouco atrasadas para a primavera, e ainda ousavam se curvar na direção de Hinata, como se a brisa as convidasse a deixar de vez o solo para enfeitar a cabeça dela com uma delicada coroa.
Hinata deixava a expressão surpresa transparecer, a boca aberta, os olhos levemente arregalados antes de ela gesticular de volta a Naruto, questionando-o sobre qualquer bobagem que ele lhe tivesse dito. E até mesmo o amigo parecia conter a característica agitação para prestar atenção em cada ato dela.
Os olhos perolados de Hinata brilhavam, com uma doce e infantil pureza que Sasuke não possuía. Ela piscava devagar, sempre muito expressiva, era fácil saber quando algo a encantava ou a magoava. O olhar dela era meigo e carinhoso, até mesmo Sasuke ficava desconcertado quando ela decidia encará-lo por muito tempo. No mundo em que viviam, não era comum que as pessoas se olhassem de forma tão gentil assim, e, dessa forma, chegava à única conclusão possível, Hinata não era mesmo do mundo dele.
Essa era a única explicação, nada além disso explicaria o modo como os passos dela pareciam mal tocar a grama ao caminhar, como se ela inteira fosse leve, livre, um ser tão pequeno e frágil que nem ao chão onde pisava pudesse fazer mal. As crianças paravam de gritar quando ela se aproximava, pareciam adorá-la como à uma princesa recém saída dos livros de contos de fadas. Não duvidaria que algumas começassem a brigar para pedir a mão dela se, mais uma vez, Naruto desse a brilhante ideia de fazer um pequeno teatro. Lembrava-se de como Hinata tinha lhe sorrido de forma divertida e constrangida quando o escolheram como o bruxo mal e de como no final ela tivera que dar um beijo no rosto de cada criança para que elas não chorassem por não poderem todos se casar com ela.
Ela agora se abaixava, as mãos que seguravam a barra do vestido para não o sujar tiveram que o soltar para poder falar com o filho que gesticulava de forma excessiva enquanto falava alto. Hinata o respondia com calma, sem parecer se abalar com a malcriação dele e o repreendia com paciência, os olhos atentos ao garoto de quatro anos que mantinha o bico inconformado nos lábios até que ela o abraçou e pareceu rir.
Sasuke passou as mãos pelos cabelos, a cena que tinha diante dos olhos era tão... perfeita, que ele realmente tinha problemas em aceitá-la. Ele destoava daquele ambiente claro e animado, da alegria infantil... Normalmente, não faria parte daquele quadro, mas até aquilo Hinata conseguia, até ele ela convencia a se curvar...
Ela soltou o filho, ele correu para perto dos amigos, e ela se levantou. Os olhos claros percorreram com curiosidade as pessoas ali presentes até que pararam nele. O andar sem pressa roubava o brilho de tudo ao redor, como se Hinata apagasse as luzes por onde passava e a atenção dele só pudesse se voltar a ela.
Ela parou à sua frente, o mesmo sorriso amoroso nos lábios delicados enquanto as mãos faziam os sinais já tão bem aprendidos por ele. Prestou atenção, sempre prestava, cada gesto era importante, cada sinal na expressão dela contava, até mesmo a forma como a boca movia-se sem pronunciar som algum lhe trazia um dado importante do que ela gostaria de lhe comunicar.
Ele segurou melhor a filha pequena que dormia com o rosto em seu ombro e sorriu discreto involuntariamente.
— Ela estava apenas com fome, não se preocupe — respondeu, tanto oralmente quanto com os sinais que tinha aprendido quando começara a namorar Hinata há muitos anos.
Ela relaxou, acariciou a cabeça da filha e então lhe sorriu enquanto a mão se entrelaçava a dele. O toque dela parecia transmitir o calor do sol, e o singelo beijo que ela deixava em seus lábios roubava qualquer pensamento que antes perturbava sua mente.
Ele podia ser o vilão das peças infantis, podia ser o ponto de sombra no meio de todo o brilho que ela emanava, podia não se encaixar naquele quadro feliz que parecia ser pintado por um romântico tolo do século dezoito, mas nem Sasuke conseguia negar algo a Hinata, não quando ela conseguia, com tanta facilidade, fazê-lo sorrir como se, sim, eles fizessem parte do mesmo mundo...
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De mundos diferentes
FanfictionEle podia ser o vilão das peças infantis, podia ser o ponto de sombra no meio de todo o brilho que ela emanava, podia não se encaixar naquele quadro feliz que parecia ser pintado por um romântico tolo do século dezoito, mas nem Sasuke conseguia nega...