Sábado de Manhã

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Sábado de manhã, dia de ir às compras na feira do bairro. Tu encontras as barracas de frutas, e pega aquelas 10 maçãs a preço de banana, escolhe os peixes mais frescos, degusta da rapadura que veio do nordeste e no final come um pastel, acompanhado de caldo-de-cana. Bom seria se tudo fosse assim: ver o que é melhor para se levar, provar antes de usar. Mas como nas compras de sábado de manhã, a vida poderia ser uma feira?

Escolha o melhor cacho de decepções, juntamente aos belíssimos dias de felicidade colhidos nessa manhã! Não deixe de levar os pequenos momentos em que o universo respondeu a um chamado teu, pelo preço de tuas gentilezas. Aliás, já viu a promoção de amores platônicos que vieram diretamente do teu futuro local de trabalho?

Nós não temos essas escolhas. E ainda bem! Qual seria a graça de viver os amores mais intensos, sabendo que ao chegar em casa, esse fruto estará podre? Como seria viver sabendo que amanhã vai ser o dia mais feliz da tua vida, se tu não perceberes isso quando o dia acabar? O que seria viver sem o inevitável, a surpresa, as coincidências, as incertezas? Agora, se tu tiveres medo de comer o pastel antes da rapadura, porque tens medo do que pode acontecer, eu irei sentir pena de ti. Pena por viver na tua mesma lista de compras, nos mesmos sabores, nas mesmas emoções. Irei sentir pena por sempre viver na certeza do não, e nunca possibilidade do sim, do que poderia acontecer e como aconteceria. Eu, por ti, sentirei pena.

A vida é a aventura de não saber das coisas, é a possibilidade de um sim, são as consequências de um não. A vida não é sobre tuas asas, é de como tu as criou para aprender a voar. A vida é mais que uma feira em um sábado de manhã.

São apenas crônicasWhere stories live. Discover now