Alycia Vanderbilt saiu do trabalho um pouco antes da hora do rush e seguiu para o apartamento umas cinco quadras dali, onde ainda era possível ver algumas árvores mais altas do central park. Foi uma jogada de mestre, já que não conseguiria fazer o percurso em menos de quarenta minutos mesmo que costurasse o transito agilmente com sua motinha.
Sua motinha, em si, era uma Vespa preta que ela não fazia ideia de qual era o ano, mas que levava consigo fazia um bom tempo e não tinha pretensão alguma de mudar de veículo. Confortável, pequeno e rápido o suficiente quando necessário. Totalmente perfeita para os trabalhos a ela impostos.
Alycia pegou o elevador do prédio onde morava e o miado ensurdecedor de Lúcifer dava para ser ouvido assim que as portas se abriram, fazendo revirar os olhos enquanto caminhava pelo corredor. Seu humor aquele dia não estava dos melhores e ela quase cogitou usar o gato como oferenda em troca de um pouco de paz de espírito.
— Olá, praga. — Disse ao abrir a porta, equilibrando a bolsa socialmente imposta e as sacolas de papel do supermercado da esquina nos braços. — Pelo visto seu humor não está dos mais agradáveis. — Alycia colocou as compras e a bolsa sobre a mesa redonda de vidro poucos metros a sua frente, caçando o sache para gatos no meio de suas sacolas. O miado de Lúcifer se intensificou.
Lúcifer era um gato preto de olhos amarelos com um humor no mínimo desagradável. Ele sempre a encarava de forma julgadora toda vez que sentava no sofá para procrastinar e a criticava feito Judas. Literalmente, ele era um ser infernal.
Provavelmente, tão infernal quanto Bellany Wilson, sua única e melhor amiga, que trouxe do ensino médio e o arrependimento a marcava desde então. Bellany era tudo. Bem sucedida, bonita, cheia de amigos e trocava de namorado a cada semestre, por que de acordo com ela, a vida era curta demais para não se permitir dar algumas chances. Chances demasiadas e problemáticas, mas ainda assim, chances. Alycia a permitia se desgraçar sozinha e era solidária ao ceder o ombro para algumas lágrimas de vez em quando, mas o que realmente lhe atormentava era o quão insistente ela era.
— Esse é o telefone de Alycia Vanderbilt e você já sabe o que fazer. — A secretária eletrônica ecoou com sua voz quando apertou o botão piscante. A voz de Bellany ressoou firme e elegante como o de costume:
— Aly, estou ligando de novo para lembrar da reunião do ensino médio hoje. Desisti de falar com você no celular quando desligou na minha cara pela quarta vez. Está ficando realmente sem coração, senhorita Vanderbilt, espero que não morra de insuficiência cardíaca. — O bip soou dando início a outra mensagem. — Aly, olá, sou eu de novo. A reunião vai ser as sete horas no ginásio da escola. Por favor, por favor mesmo, não vá usando a personalidade de vadia psicótica hoje, seja a Good Aly e todos vão voltar a te amar... Quer dizer... Talvez eles comecem a gostar de você um pouquinho.
Alycia revirou os olhos quando ouvir a quarta mensagem de Bellany sobre o quão ansiosa ela estava pelo reencontro do ensino médio e pensando em qual desculpa usaria para evitar ter de ir à escola. Se ergueu do sofá que estava usando para revirar os olhos e seguiu até o telefone para esvaziar sua secretária eletrônica quando a voz mudou.
— Olá, senhorita Vanderbilt, tudo bem? Não sei se a senhorita se lembra de mim, mas sou Suzana Ross, eu ministrava inglês para sua turma quando se formou e atualmente sou a diretora do Roseevelt High School, conseguimos seu telefone por meio da senhorita Wilson, espero que não se importe. Estamos entrando em contato pois hoje irá acontecer o reencontro da sua turma e como você e o senhor Heisenbolt foram os oradores de classe, gostaríamos muito da sua presença nesse encontro. Obrigada.
Respirando fundo, retirou o telefone do gancho e discou um número conhecido. Foi atendida tão rápido quando gostaria.
— Olá, Aly. — Bellany disse animada ao atender. Aly esfregou o rosto e jogou os cabelos para trás.
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Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)
Ficción GeneralAlycia gostava de ver seu mundo de forma colorida, sua revista, seu blog e todas as suas redes sociais lotadas de opiniões ácidas sobre o cotidiano em que vive é uma prova disso. Formada em jornalismo e em publicidade e propaganda, seu próximo passo...