Oneshot

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Quando eu era criança, meu pai se separou da minha mãe. Ele não quis mais saber de nenhum de nós. E eu, bem... Eu virei o homem da casa aos sete anos. Cresci cuidando da minha mãe e minha avó, mas nunca achei isso ruim! Eu amava aquelas mulheres mais que a mim mesmo, era uma honra cuidar delas... Eu só to contando isso pra vocês poderem entender o que eu sou hoje.

Minha mãe tinha um cabelo. Sim, normal né (eerr todo mundo tem cabelo) mas não era qualquer cabelo. O cabelo da minha mãe era vivo, cheio de cor e vistoso. Eu amava aquilo... Passava horas da minha adolescência penteando seu longo cabelo em cima do sofá enquanto ela sentava numa almofada no chão e assistíamos a novela. Os fios quase caramelo dela eram tão sedosos que eu queria esfregar minha bochecha neles, era tão cheio que eu brincava de esconder minhas mãos por entre eles. Sei, parece um pouco doentio... Mas não conseguia parar de nutrir essa admiração exacerbada pelos cabelos de minha mãe, que batiam um pouco acima da cintura dela.

Foi quando eu tinha 19 anos que ela foi diagnosticada com câncer num exame de rotina no hospital lá da cidade. Foi tudo um caos, vovó já dava indícios de Alzheimer e agora minha mãe com mais essa! Eu quis morrer. Mas não foi assim tão ruim, já que ela está viva hoje. Todos os remédios e terapias tiveram resultados ótimos! Mas o que matou mesmo foi a perda... Os fios começaram a ficar mais ralos e em pouco menos de um mês ela teve que diminuir o corte umas três vezes, até que finalmente teve de raspar. E todo mundo sabe que depois de raspar na máquina zero, o cabelo nunca mais cresce do mesmo jeito. Tiro e queda! Nunca mais pude ver aquela cascata caramelo por entre meus dedos. Agora ela tem cabelo outra vez, mas não sedoso como antes nem tão volumoso.

Contei isso tudo para vocês entenderem o por que de eu ser tão fixado em cabelos. Pelo meu perfil familiar vocês devem imaginar "iiih esse aí virou uma bicha do cabelo grande". Mas foi exatamente ao contrário eu amava cabelos grandes! Mas não em mim. Sempre mantive o mesmo corte baixinho. Como eu tive de assumir as responsabilidades da casa como provedor, cedo procurei aprender as atividades da fazenda.

Putz! Eu não falei que moro no interior? Ah sim... Que descuido meu. Pois então, pelo menos alguma coisa de bom meu pai deixou para trás. Nossa fazenda, que ficava a poucos quilômetros de chão de terra da "cidade grande", que de grande não tem nada já que aqui é miúdo, interior mesmo, todo mundo se conhece. Quando eu tinha 19 anos precisava pagar o tratamento da minha mãe e vó. Então eu aprendia as coisas da fazenda de manhã e de tarde eu trabalhava numa marcenaria da cidade. Aquilo não me rendeu muito então eu logo terminei de pagar todo os remédios e terapias, logo parando de ir na cidade. Em função disso pouca gente me conhece lá. Na nossa fazenda nós plantamos frutas em geral e também algodão. Quando é época de um não é época do outro e vice-versa, então assim temos renda fixa, mas que não da pra luxo.

Terminei meu ensino médio nas coxas, então não sou muito letrado não. Gosto mesmo é da terra, dos meus cavalo tudo. Isso sim me faz feliz... Tenho apenas três cavalos, Tiza, Dário e o filhote deles. Mas enfim meus cavalo não importa muito, o que eu quero contar é como conheci ele.

Ele que hoje é meu marido... Sim, marido (já explico melhor). A questão é que comemoram-se dez anos (dois de namoro e oito de casamento mesmo) de nós dois juntos e eu não sei o que dar de presente pra ele... Por isso estou sentado na porteira tentando, por mais que eu nunca fui de saber dar presentes.

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Flash-back

Estou com 20 anos. Cresci muito desde os 19 pra cá... Eu era um projeto de guri naquele tempo, hoje com um ano aprendendo as atividade tudo aqui da fazenda eu peguei músculo e peso... A altura também veio, então agora sou alto e não muito definido, só meus braços que de tanto capinar e plantar são bem cheio de músculo. Sei não que é que chama atenção em mim, mas que as moça tudo da cidade vinha me trazer bolo e suco de vez em quando, claro que eu não rejeitava.

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