sad boy

Capítulo 1

Tem dias em que a minha depressão é como um vagalume na pata de um urso.

Hoje ela é o urso.

Em dias como esse, eu só costumo ficar deitado em minha cama o dia todo, sem ter forças para levantar.

Há muito tempo isso acontece; a 6 anos, para ser mais exato. Sofro desse mal desde os 15 anos e hoje, com 21, só tenho piorado. Cheguei a um ponto em que os remédios praticamente não adiantam mais; geralmente o único efeito é me fazer dormir o dia todo.

Antes de mais nada, acho que deveria falar sobre quem eu sou e porque cheguei nesse estado.

Meu nome é Jonas Ricci, tenho 21 anos, não estudo e nem trabalho. Apesar disso, tenho uma vida boa graças ao meu pai: ele é rico, dono de uma grande empresa multinacional, e simplesmente abandonou eu e minha mãe para ficar com uma mulher mais nova. Eu tinha 11 anos na época, e isso me causou traumas que até hoje não foram superados, afinal, eu era muito apegado ao meu pai. Desde então, todo mês ele deposita uma boa quantia em dinheiro na minha conta, o que faz com que eu consiga me sustentar.

Moro sozinho em um apartamento que pode até ser pequeno, mas é o suficiente para mim. Saí de casa aos 16 anos pois não aguentava mais a minha mãe. Ela começou a me tratar com desprezo desde que meu pai foi embora, ela jogava a culpa todos os seus problemas para cima de mim e sempre arranjava um jeito de me colocar para baixo; frases como "eu deveria ter te abortado", "você é um fracassado" e "você nunca devia ter nascido" se tornaram comuns. Com o tempo consegui juntar dinheiro para dar o fora dali, e aqui estou eu.

O seu novo marido, Luiz, não é uma pessoa ruim, mas não o vejo como uma figura paterna ou algo do tipo, pois nunca tivemos intimidade um com o outro. Eles tiveram dois filhos gêmeos - Victor e Victória -. Os dois têm 5 anos mas não tenho muito contato com eles, assim como o resto da minha família.

Mais sobre mim? Bom, não tenho amigos, muito menos namorada. Nunca fui de ter muitos amigos, na verdade: sempre fui o garoto estranho que sentava no fundo da sala de aula e todos tinham medo. Mas nunca me importei muito, de verdade.

Alguns anos atrás eu me apaixonei por uma amiga, mas ela não aguentou o peso de lidar com alguém como eu e acabamos nos afastando. Desde então, nunca mais tive notícias dela.

Também já aconteceu de eu namorar uma garota por quase um ano. Mas ela me traiu, então depois disso eu simplesmente desisti dessa história de namoro. E sinceramente? Acho que o amor não foi feito para mim. Isso se ele existe de verdade.

Como já disse antes, passo a maior parte do meu tempo com sono por causa dos remédios. Quando não estou dormindo, chorando ou fazendo coisa pior, geralmente saio para caminhar sem rumo. Muitas vezes acabo indo em bares ou festas com a intenção de encher a cara de bebidas e drogas para tentar esquecer a merda de vida que eu tenho, se é que posso chamar isso de vida. Outras vezes, eu simplesmente vou para uma praça em frente ao mar para ficar refletindo e fumando meus cigarros. Ultimamente, essa é a única coisa que tem me acalmado.

Então eu só vivo nessa gangorra entre o céu e o inferno.

Na esperança de um dia isso finalmente acabar logo.