CAPÍTULO 2 - Goldman Sachs & Newsweek

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Charles Heisenbolt saiu do escritório em cima da hora. Não que ele pudesse ter se dado ao luxo de sair antes de resolver o problema de uma das filiais do Goldman Sachs, o quinto maior banco do país, mas chegou à conclusão que mesmo se ficasse até mais tarde o problema continuaria ali pela manhã e seu salário não iria aumentar por conta disso.

A ligação insistente de Suzana Ross aquela manhã ainda estava martelando na sua cabeça e ele gostaria de ser uma pessoa capaz de falar não para seus problemas pessoais, mas ao contrário do que queria, ele estava dentro do táxi em direção ao antigo colégio como se tivesse tempo para aquilo.

Charles ajeitou os cabelos com as mãos usando a câmera do celular como espelho. O terno pelo menos estava limpo e ele estava cheirando bem como alguém que não havia saído da sala com ar condicionado o dia todo, considerando, é claro, que o cheiro de café fosse bom. Havia sido a única coisa que havia ingerido além de duas bolachas de leite desde as sete da manhã, quando comprou seu primeiro expresso em frente ao trabalho. Seguiu o dia tomado café e remédios para gastrite, presente que a vida lhe deu ao conquistar seu emprego e viver para ele.

Os olhos castanhos de Charlie estavam com poucas olheiras, o que ele gostou, a barba estava ali, como de costume, mas se quisesse realmente parecer apresentável teria de ter tirado o excesso que descia pelo seu pescoço, mas isso seria demais para parecer bonito para pessoas que não via a mais de dez anos.

Colocou os óculos escuros no rosto e ergueu o celular checando os três e-mails que haviam chego nos últimos dez minutos: Valorização do Dólar nos Países do Mercosul; Não deixe pra depois: use suas milhas GS e viaje agora mesmo!; URGENTEEE: CHARLIE ONDE ESTÃO OS RELATÓRIOS FINANCEIROS DA GS DESSE TRIMESTRE???/

Quase como se estivesse esperando que Charles tomasse consciência daquele e-mail, seu telefone começou a tocar e ele atendeu a chamada de Russell, Gabrielle com a paciência de sempre.

— Charles, boa tarde. Desculpa estar te ligando, mas você não está na sua sala. — Ela disse assim que ele atendeu.

— Pode não parecer, Gabrielle, mas nosso horário acaba as 17h. — Ela bufou com pesar, mas ele apenas riu leve. — Os relatórios estão na minha sala, na mesa segunda gaveta da esquerda em uma pasta marrom com uma etiqueta de 01/2018. — Ele pode ouvir as rodas da cadeira dela correm pelo chão e os saltos baterem no mármore do piso do escritório, instantes depois o bater de algumas gavetas.

— Achei, Charles, obrigada. — Falou suspirando. — Salvou meu pescoço.

— Como andam os processos do banco? — Questionou enquanto a ouvia voltar para sua sala.

— Quando eu resolvi ser advogada da GS eu pensava que teria de negociar compra e venda, às vezes auxiliar caso algum cliente processasse o banco por anuidade muito cara, não que eu fosse ter de fazer o administrativo deles. — Cuspiu com certo rancor. — Na verdade, Charlie, eu acabei de notar que eu faço o teu trabalho.

— Todos nós recebemos aquilo que merecemos. — Disse cheio de humor. — Andou torturando velhinhas e colocando pimenta em chupeta de nenês para chegar onde está?

— Na verdade, eu empurrei um cego pela escada e dei spoilers de Game of Thrones por ter lido os livros, acho que é por isso que estou sofrendo desse jeito. Depois que ativo o modo pinscher as pessoas começam a me julgar, mas ninguém sabe pelo o que eu passo. — Seu suspiro foi teatral. O modo pinscher era uma referência bem elaborada pelo pessoal do escritório tendo em vista que Gabrielle tinha menos de um metro e meio e ficava nervosa com facilidade. — Pelo menos eu já aceitei minha desgraça, você ainda vive em um estado de negação e acha que é uma boa pessoa.

— Eu sou uma ótima pessoa. Estou nesse exato momento indo até meu antigo colégio para uma reunião com a minha turma por conta de um pedido da minha ex-professora de inglês. Se existir alguém melhor do que eu, peça para enviar o currículo. — Gabrielle gargalhou.

Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora