Meu corpo pesava, meu coração batia lentamente, minha cabeça ardia, meus músculos pareciam pegar fogo, eu estava sendo consumido pela dor. Acordei em um lugar estranho, um lugar cinzento, sujo, sombrio, sem janelas, quase nada, apenas uma grande porta metálica na minha frente. Tentei ir para frente, mas algo me prendia, e quando fui ver o que era, observei que havia em cada um de meus pulsos uma grande corrente de ferro puro, conectados a algemas prateadas, que apertavam tão forte que pareciam que estavam fundidas a minha mão. Eu estava usando uma camisa inteiramente branca, era grossa e tinha mangas compridas, usava uma calça acinzenta que chegava ao nível dos meus pés. Meu corpo inteiro estava sendo dominado pela dor, e então percebi que estava com grandes arranhões, cortes e sinais de socos, e todos estavam vermelhos como sangue, eram recentes.
Não sabia o que estava acontecendo, não me lembrava de quem eu era, o que fiz e muito menos como fui parar ali. Tentava me rebater e gritar por ajuda, mas estava muito fraco, a minha voz leve e rouca, minhas feridas ardiam, estava muito zonzo, mas minha felicidade surgiu quando um grande barulho metálico tomou conta da cela, alguém estava destrancando a porta.
— Está na hora do rango! — Disse uma voz grossa de um homem.
— Por favor... me ajude... — Consegui falar.
— Ajudar? — Ele riu — Você realmente perdeu a memória, não? — Ele abriu a porta, e surgiu diante de mim.
Era um homem gordo e grande, usava uniforme cinza-escuro, grandes sapatos pretos, uma máscara que era idêntica aos que os médicos da Idade Média usavam para pacientes com a peste negra, o medo que ele me causou substituiu a dor que estava passando.
— O que... você quis dizer? — Falei assustado e nervoso.
— Não se lembra que dia que é hoje, né? — Gargalhou ele enquanto se aproximava lentamente para mim.
— Não me lembro de nada! — Gritei usando todas as minhas forças.
— Nem da sua família? — Falou com uma voz sombria e calma.
E então o homem levantou a mão na direção do meu pescoço, tentei lutar, mas não conseguia fazer nada, foi então que vi que eu estava usando um colar com uma cruz feita de rocha litoral roxa, e então ele pegou na cruz e falou:
— Isso foi um presente da sua mãe garoto, ela te deu alguns segundos antes de se sufocar com o próprio sangue!
Depois que ele falou isso, tentei me lembrar de minha mãe, e então olhei para a cruz, e minha cabeça começou a latejar e causar-me uma dor imensa, até que tive visões ofuscadas e coloridas: havia uma mulher ao meu lado, tinha cabelo escuro, olhos azuis, usava vestido branco manchado em sangue, com marcas nos braços. Ela fora atacada. Ela era uma mulher que, por algum motivo, eu confiava mais do que tudo no mundo, me sentia seguro, feliz, tinha certeza de que era minha mãe. Estava com sangue na boca, me dando o colar de cruz retirando-o de seu pescoço, tentando falar enquanto transbordava sangue como se fosse saliva, não deu para decifrar direito o que era, mas eu entendi algo como ''me perdoe'', e então ela se apagou. Apesar de não me lembrar dela, quando a vi morrer, senti um grande choque, um tiro contra minha alma. Comecei a ver o lugar. Era uma casa mediana, com muitos móveis modernos, janelas, vasos, escrivaninhas e uma grande TV, uma casa que eu me sentia confortável, um lugar onde cada canto me dava uma pequena alegria e ansiedade. Eu vi um homem nos fundos, que reconheci como meu pai. Era grande, tinha cabelos castanhos, e usava uma camisa formal. Estava assustado e cansando, correndo, e depois, vi mais dois homens atrás dele, armados com faca e uma pistola. Meu pai então olhou para mim desesperado e gritou:
— Dante, corra! Corra! Eu não vou ague...
Foi então que o vi levando um tiro bem na garganta enquanto me alertava. Eu me contorcia de raiva e dor, e sem mais nem menos, investi contra eles, dando um soco no abdômen em um deles, só que o outro me pegou pelos braços e me virou de cara para ele, me dando um gancho, me fazendo cair no chão.
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As correntes de Hades
AdventureSangue. Medo. Morte. Dor. Essas são as melhores palavras para representar Dante de Cavaliere, um homem que foi acorrentando e torturado por anos, sem nem mesmo saber o motivo. Após se libertar, ele cai sob uma terrível maldição, devido á sua sede de...