quatorze horas e quatorze minutos

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As tardes sempre me foram maçantes, independente do que tivesse que ser feito, sempre foi a pior parte do meu dia. É a hora em que todas as minhas tarefas me esperam com olhar de reprovação, por saberem que não serão feitas, já que é nessa parte do dia que meu corpo se coloca em pause sem que perceba, e minutos viram horas.
Nas tardes de outono, que são frias dentro de casa e quentes nas ruas, e essa confusão de temperatura até parece com a minha vida e deve ser por isso que não gosto dessas tardes, embora fosse nessas tardes que acontecesse uma coincidência, que gosto de chamar de fenômeno, e fenômeno esse em que o sol arrumava uma brecha entre os prédios, muros e coisas da cidade para me beijar o ombro enquanto estava no sofá de casa. Era sempre as quatorze horas e quatorze minutos, que recebia esse beijo tão cheio de luz e calor que me dava forças para continuar.  E o sol parecia entender minha necessidade de cada dia, e escorria o beijo sobre minha barriga e coxas quando o desanimo e a solidão eram maiores.
E no dourar da minha pele, que seguia o dia. Era dali que me vinha uma força contraditória, me forçava a ficar, e ao mesmo tempo a seguir.
Mas as coisas da vida não são sempre assim, fácil e sutil, e eu mudei daquela moradia. Fui tirada daquele sofá, e do meu raio de sol. Cheguei a pensar se não era aquela morada que me fazia sentir-me para baixo. Agora eu ando nas ruas e procuro por um raio de sol que me de forças, ou o dia em que o sol atravessará ainda mais prédios e obstáculo para me aquecer de mansinho. Será que o sol ainda vem? As quatorze horas e quatorze minutos, eu vou estar esperando.

O  princípio paranoicoOnde histórias criam vida. Descubra agora