Prólogo

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A vida humana se baseia em três estágios;

Primeiro nós nascemos de um ventre materno, somos expostos ao mundo como pequenos seres humanos, frágeis, quebradiços. Não conseguimos distinguir gostos, nem cores, nem o que queremos. Ali se inicia uma história, uma jornada que até então não sabemos o final, ou quando vai acabar.

Nós vivemos, descobrimos os gostos, as cores, decidimos o que queremos, sentimos os prazeres, buscamos jornadas, aventuras, dizemos sim, não, escolhemos o que levar, e o que esquecer.

E por ultimo, mas não tão importante, nós morremos.

Todos aqueles gostos desaparecem, as cores se tornam cinzas, tudo um mundo preto e branco, já não podemos mais escolher o que queremos, e sim o que necessitamos, as aventuras viram histórias de um passado não tão distante, já não conseguimos mais dizer sim, ou não, só mexemos a cabeça, piscamos o olho como resposta para algo, já não nos resta escolhas, e a memoria se dissipa, virando um grande borrão de nada.

A jornada se termina.

Mas nem sempre esse é ciclo natural da vida.

Tudo o que sentimentos, passamos, ouvimos, e vimos acaba desencadeando fenômenos em nosso psicológico que são irreversíveis. Sentimos o desejo da morte, a necessidade de por um fim em nossas vidas, nossas únicas vidas.

E o ciclo se repete praqueles que acreditam em reencarnação.

30 DIAS ANTES

Estava ficando cada vez mais difícil encarar meu próprio reflexo no espelho. Meus olhos fugiam de mim mesma, como se meu corpo me auto rejeitasse. Era impossível ignorar aquela sensação.

Eu queria me sentir bonita por dentro, não apenas esteticamente. Toda aquela maquiagem não me representava, só mascarava a pessoa que gritava no meu interior.

E aquele dia não poderia parecer pior, Cold estava me atormentando desde a noite interior pelo fato de eu ter o ignorado por algumas horas, aquele namoro era cansativo, e um tanto quanto desgastante. Tudo girava entorno dele era como se ele fosse um imã que atraia tudo ao redor, sufocando as pessoas, as fazendo sentir repulsa de um ser humano tão desprezível.

Minha mente estava cansada de tudo aquilo, meu interior gritava para mim terminar com ele, porém nada era tão fácil quanto se parecia. Nós terminamos e voltamos tantas vezes que cheguei a perder a conta, não era uma simples questão de dizer "Cold, eu não te quero mais" havia todo um jogo psicológico do lado dele, que me fazia questionar a ideia antes mesmo de dizer algo que eu pudesse me arrepender.

Não era um relacionamento saudável, muito pelo contrário, era abusivo, controlador, uma tortura para o corpo.

Jamais imaginei que chegaria a tal ponto, no começo nós discutíamos por coisas fúteis, mas que no final havia algum sentido. Agora nós arrumávamos motivos para brigarmos, batíamos de frente um com o outro, faltava pouco para sairmos no tapa, porém ele sempre começava com jogos psicológicos, que acabavam me deixando num estado lastimável.

O mundo não gira ao seu redor, Cold Waitt.

...

— Me diga o porquê dessa cara. — Katie me encarava fixamente enquanto estávamos sentadas numa mesinha do refeitório do colégio.

Havia tantas coisas passando pela minha cabeça, que era difícil controlar a expressão facial.

— Estou cansada, só isso... — respondi normalmente, bebericando um pouco do refrigerante que estava em minha frente.

— Você anda tão distraída ultimamente Liz, parece que está em outro mundo. — talvez eu estivesse.

— É tanta coisa me sobrecarregando. Só preciso de um pouco de tempo até conseguir organizar tudo, parece que estou numa montanha russa Kat, a sensação me apavora um pouco. — falei, mexendo os dedos.

— Eu sei como se sente, às vezes costumo ficar cansada de mim mesma, tudo seria mais fácil se eu não tivesse engravidado.

— Ei! — a repreendi. — Não diga isso. — Katie estava gravida de algumas semanas, a barriga volumosa já era visível, por um descuido ela carregava um ser dentro do ventre, mas aquilo não foi motivo de desespero.

— Todo o meu salário vai pro enxoval, nem me lembro mais quando comprei algo para mim, daqui alguns meses minha barriga ficará enorme, e eu não entrarei em nenhuma roupa de tamanho trinta e seis.

— Você vai ficar linda Kat, com as bochechas inchadas e o rosto corado.

— Diz isso porque não vai ser você. — Kat riu, um sorriso lindo e extrovertido.

— Acho melhor irmos, tenho que procurar o Cold para pegar meu livro de química.

Faltavam alguns minutos para o fim do intervalo, aquele era o ultimo ano e eu nunca havia me esforçado tanta para conseguir notas máximas, meu sonho era entrar em Harvard e para que aquilo acontecesse eu teria de me esforçar ao máximo.

Caminhamos pelo extenso corredor, caçando Cold pelos cantos como uma mosca, ele andava em bando, então era fácil de identifica-lo.

— Não o vi. — disse Kat, segurando minha mão para não nos perdemos.

— Deve estar no vestiário masculino.

Cold era atleta e jogava no time de futebol americano, todo o tempo livre que tinha ele dedicava aos treinos, mas naquele dia não havia nenhum treino marcado, e provavelmente ele deveria estar no vestiário discutindo com os outros jogadores estratégias para os próximos jogos.

Abri a porta do vestiário, me deparando com um completo silencio, não havia uma alma naquele lugar.

— Espera. — Kat soltou minha mão caminhando pelo pequeno corredor entre os armários. — Tá ouvindo isso? — perguntou.

— Ouvindo o que? — a encarei.

— Faz silencio Elizabeth! — ela puxou meu braço até próximo ao armário de vassouras, onde era audível o barulho de gemidos. — Que nojo, transar no armário de vassouras.

— Vamos embora Kat, deve ser só mais uma líder de torcida desesperada por sexo. — segurei em seu punho a puxando, porem ela se soltou, segurando a maçaneta da porta. — Kat não...

Já era tarde, ela já havia abrido a porta. E toda a cena se formou na minha frente.

Era sim uma líder de torcida, e junto dela estava Cold, seminu, fazendo movimentos tão rápidos que pensei que quebraria a parede. Ele parou por alguns instantes, se dando conta de que a porta estava aberta, e de que eu estava ali, olhando toda aquela cena grotesca, sem reação, quer dizer, eu não senti nada, foi como se nada tivesse acontecido.

— Liz... — falou, retirando seu pênis de dentro da garota e subindo as calças.

— Não. — disse num fio de voz. — Por favor, não!

Dei alguns passos para trás, impedindo que ele se aproximasse, Kat ficou na minha frente, dizendo para ele não ir atrás de mim.

Sai do vestiário com a cabeça rodando, aquela sensação de estar drogada sem entorpecentes.

Ele me machucava, e não era por amor.

E pela oitava vez naquele dia eu pensei em dar um fim em tudo.

Em interromper o ciclo natural da minha própria vida. 

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⏰ Last updated: May 12, 2018 ⏰

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Garota de VidroWhere stories live. Discover now