Capítulo Único

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"Tudo se parece tão pequeno agora
Meu valioso orgulho já não vale mais
O frio que chegou quando você foi embora
Fez desaparecer minha preciosa paz"

Vazia. Era assim que nossa casa estava desde que ela se foi. Era assim que eu me sentia sem ela. Era assim que eu teria que aprender a viver agora.

Já faziam dois meses que ela tinha saído do nosso apartamento, mas eu, mais uma vez, não dei a ela o merecido crédito. Nos primeiros dias achei que era só um rompante de raiva e que logo passaria, a gente sempre acabava se entendendo no fim das contas. Não que ela fosse dada a rompantes de qualquer tipo de sentimento que não fosse positivo, mas ainda assim. E ela estava apenas hospedada por uns dias na casa de Gabriel, nem era longe da nossa casa, é claro que ela iria voltar. Duas semanas depois comecei a ficar realmente preocupada com a possibilidade dela estar falando sério. Tentei falar com ela, pedi que voltasse. Implorei, na verdade. Supliquei. Apelei feio mesmo, não me orgulho disso. Mas se tivesse funcionado eu não me importaria nem um pouco. Não funcionou, porém. Ela me disse apenas:

"Eu te amo, Ninha, mas tá na hora de eu me amar primeiro."

Joguei baixo, recorri ao Felipe. Meti nosso empresário no meio dos nossos problemas pessoais, porque era óbvio que ele tentaria resolver a situação pra que nada afetasse o Anavitória. E ele realmente me disse que tentaria ajudar, mas depois de conversar com a Vi e ouvir o que ela tinha a dizer, ele resolveu se abster do assunto, como o cara decente que ele é. Porque eu sei que a culpa da situação entre nós ter chegado ao ponto que chegou é minha e ele foi generoso o suficiente pra pelo menos não tomar o partido dela. Eu fui covarde, estúpida e egoísta em vários níveis e com agravantes de reincidência com Vitória de uns dois anos pra cá, era inevitável ela se cansar de mim em algum momento. Mas por algum motivo (provavelmente meu egocentrismo), eu ainda acreditava que ela não teria coragem de se afastar por muito tempo e alimentava esperanças de que ela voltasse pra casa. Mesmo agora, que já fazia uma semana que ela não estava mais na casa de Gabriel, que ela tinha buscado todas as suas coisas do apartamento e me informado que estava de mudança pro Rio. Mesmo assim eu ainda alimentava a esperança de trazê-la de volta.

* * *

Uma semana antes

Entrei em casa distraída, carregando algumas sacolas de supermercado, mas logo ouvi uma movimentação vinda dos quartos que me fez estancar no meio do caminho entre a porta da sala e a cozinha para ouvir melhor. Era barulho de gaveta abrindo e fechando. Só podia significar que Vitória estava de volta!

Larguei tudo no chão e corri para o quarto dela, o coração disparado no peito de alegria. Assim que passei pelo batente da porta, vi sua juba cacheada mexendo no guarda-roupa, de costas pra mim. Corri em sua direção gritando feliz:

- Vi! Tu voltou! - Ela se virou bem a tempo de eu me jogar nos braços dela, escondendo meu rosto em seus cachos. Ela me abraçou de volta, mas notei que algo estava errado em seu abraço. Não era o mesmo abraço que costumava sustentar meu mundo todinho em seus braços quando eu precisava. Senti seu suspiro em meus cabelos antes dela se afastar de mim e me olhar nos olhos.

- Não voltando, Ana, eu vim buscar minhas coisas. - Foi então que notei as malas ao redor, que ela estava preenchendo com seus pertences, e não esvaziando como pensei inicialmente. - me mudando pro Rio.

Sapatilha PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora