CAPÍTULO 3 - Low Battery

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Alycia, sendo bem sincera, era descrente demais para acreditar em destino, Charlie, por outro lado, tinha a esperança que sua vida era controlada por algo maior do que sua mente perturbada, de toda forma, era difícil de imaginar a situação em que se encontravam sem pensar que talvez fosse uma manipulação de algo acima de seus controles.

— Você está brincando. — O tom de Alycia era um misto de descrença e deboche. — Como foi que eu nunca te vi por lá?

— Bem, Alycia, eu sou do tipo que entra antes de todo mundo e sai depois de todo mundo e que o lugar mais longe que vou no meu horário de trabalho é até a cozinha encher minha xícara de café, que por sinal, fica a três metros da minha sala. — Deu os ombros com uma careta e ela colocou a mão na boca, chocada.

— Mas que desgraça! — Charlie a encarou com cara de poucos amigos, mas notou que ela estava mais do que certa.

Ele abriu a boca para falar, mas a voz inconfundível da senhora Ross ecoou chamando a atenção de todos para o centro da quadra. Suzana Ross era uma mulher de presença. Os fios brancos em meio ao emaranhado de cabelos crespos estavam alinhados e parecia que ela havia desistido de escondê-los, ela continuava sendo a senhora roliça e baixinha de sempre, sem nenhum traço de velhice na pele negra que Alycia imaginou que teria.

— Boa noite, pessoal. É um prazer reencontrar vocês depois de tantos anos. — Ela disse segurando as mãos. — Fico feliz por ver que cresceram, tomaram responsabilidades e hoje são adultos responsáveis. Ou quase. — Ela riu ao virar-se para Peter Shelmann, o pentelho da turma. — Por favor, se acomodem.

Haviam algumas mesas espelhadas pelo ginásio e no telão que colocaram na quadra estavam exibindo fotos da formatura e de eventos que aconteceram na escola e que participaram. Alycia, em pelo menos 99% das fotos estava de braços cruzadas e emburrada, enquanto Charlie sorria balançando de um lado para o outro acenando para a mãe.

Bellany sentou-se com eles e com os rapazes na mesma mesa e conversaram sobre coisas tão aleatórias e sobre a vida, que era quase como se nada tivesse mudado, mesmo que em um ambiente normal Alycia nunca falaria com Bruce Nelson sem cara de nojo, mas com sorte, ele havia crescido e virado um homem de verdade.

— Pelo menos a rainha do bullying parou de ofender as pessoas, quer dizer... — Shelmann que havia se juntado a eles começou. — Eu vi uma matéria sua na Newsweek há um tempo atrás, e mulher, que acidez. — Alycia ergueu o copo de refrigerante pra ele. — Eu não sabia que você era aquela Alycia Vanderbilt até ver uma foto.

— Não é como se eu me escondesse. — Sorriu, tentando parecer simpática.

— Por que postou a foto da faixa da turma com o GIF de vômito? — Bellany questionou enquanto mexia no celular e levou uma cotovelada. — Aí, aí.

— E você, Bellany? O que anda fazendo?

A pergunta foi feita por Howard Peterson. Howard não foi uma pessoa presente durante o ensino médio, ele havia ido e vindo mais vezes do que eles eram capazes de lembrar e quase ninguém sabia exatamente o motivo. Bellany ainda era adepta a uma teoria da conspiração, mas conforme o observava daquele jeito, Alycia sabia que qualquer tipo de barreira que havia criado na adolescência havia ido embora completamente.

Atualmente Howard era um homem alto, os cabelos castanhos estavam bem cortados, os olhos claros brilhavam e o porte atlético chamava atenção. Na verdade, ele em si era o homem que mais chamava atenção por ali.

— Basicamente, eu limpo coisas. — Ela disse e Charlie ergueu a sobrancelha confuso. Alycia a olhou com admiração, pois amava seu emprego. — Bem... — Ela se ajeitou na cadeira. — Eu tenho uma empresa de limpeza doméstica, todavia são vários ramos que somos especializados, o nosso carro chefe é o de restauração e limpeza de imóveis antigos. Casas abandonadas, coisas deixadas para trás e que precisam ser repaginados e levemente reformados. — Deu os ombros. — As vezes os comentários machistas incomodam, mas...

Aos 30 e tantos (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora