Conchas do mar

"Fuga concretizada" 1ª Parte

- Hoje chegou o dia, não aguento mais esta ilusão.

 Guardo tanta mágoa para mim, sinto o meu corpo colado ao chão, estas nódoas negras, estas cicatrizes, a perda da minha da minha juventude… Entreguei me a um homem onde nunca irei ser feliz. Eu já não tenho ninguém, durante estas 2 horas eu vou arrumar as minhas malas e acabar com isto. Sou uma mulher com 24 anos, ainda tenho muito para viver, muito para sentir, há 10 anos que não sinto o vento na minha cara, areia nos pés, mergulhar no mar, olhar para as pessoas… A única coisa que me resta é a minha coleção, as minhas conchas do mar.

 

Laura com os seus olhos cheios de lágrimas, decidiu por um ponto na sua vida, apanhou em comprimidos, numa faca, fechou se no seu quarto, abriu a embalagem, tirou os comprimidos e pôs todos na sua mão, mas de repente houve algo que a chamou atenção, deixou cair tudo o que tinha ao colo, levantou se e olhou para a janela, e viu que o Verão tinha chegado e lembrou-se do quanto foi feliz…

Ela viu que aquilo foi um sinal, um sinal de que ainda pode ter uma vida pela frente, ser feliz, construir o que ainda não construiu, acabar com o que ainda não acabou, então apanhou numa mala de viagem e pôs tudo o que lhe tinha muito valor, foi até ao escritório do Paulo e abriu o cofre e tirou de lá o dinheiro todo que tinha guardou num saco, pegou numa cadeira, foi até ao quarto e partiu a sua visão para o mundo, a janela do seu quarto. Atirou a mala e o saco e saltou pela janela, começou a correr como estivesse a ser perseguida, pelo seu próprio pesadelo, sem conhecer nada, sem conhecer ninguém, encontrou um táxi e pediu ao taxista que a levasse até ao aeroporto, o único pensamento que lhe vinha a cabeça é que estava livre! Livre para viver! Livre para começar uma nova vida! E o rosto de Laura muda de forma radical, aqueles 10 anos de sofrimento, de choro, de angústia, transformou se num simples sorriso!

Assim que parou o taxista pediu lhe 3 vezes o dinheiro, mas ela estava tão assustada e ao mesmo tempo tão feliz, parecia que o mundo parou naquele momento.

Laura entregou o dinheiro ao taxista e entrou logo dentro do aeroporto, faltava meia hora para o seu destino, a sua terra, o Havai. Comprou o bilhete e foi almoçar… Pegou num jornal e quando olhou para o lado, viu uns polícias com uma fotografia na mão, entrou em pânico sem saber o que fazer começou a olhar para todo o lado, olhou para a televisão e viu que faltavam 10 minutos para o avião descolar para o seu destino, desceu as escadas entregou as malas e entrou dentro do avião, Laura rezava a todos os santos que eles não entrassem lá dentro. Mexeu nos bolsos dos seus calções e encontrou um colar, era a sua concha da sorte, a sua mãe tinha-lhe dado no dia que fez 10 anos. Pela janela do avião via os policias a vasculhar tudo nos outros aviões e no momento que eles iam entrar onde ela estava não autorizaram, pois o avião ia descolar naquele preciso momento. Laura pôs o colar ao pescoço, com os olhos cheios de lágrimas agradeceu por tudo por se ter livrado mais uma vez deste pesadelo.

Uma mulher sentou se ao lado dela, ficou a olhar durante algum tempo para as suas feições, para a sua maneira de ser, de se vestir, até que por fim ela reparou e a Laura ficou um bocado envergonhada, a rapariga diz-lhe:

-Isto pode ser estranho, mas em breves palavras… Eu sou a Miriam e tu?

-Laura…

-Espera lá…

-O quê?

-Tu és a rapariga da…

-Não diga por favor! Eu não quero ser descoberta, estou a fugir de um pesadelo…

-Não me digas que estavas presa e roubaste um banco e vais fugir para o Havai pôr te de baixo de uma palmeira…

-Sim estava presa, mas a uma pessoa… Deixei tudo, deixei a minha vida para viver para ele e ele agora anda atrás de mim…

-Deixamos de lamechices, acho que vamos ser boas amigas. Eu irei levar-te para a minha casa e cuidar de ti. As memórias não se apagam, mas podemos esquecê-las por breves minutos.

Laura viu a Miriam como um anjo da guarda, como tivesse caído do céu naquele preciso momento.

Quando chegaram ao Havai, Laura não conseguia conter as lágrimas de felicidade, depois de tanto tempo de tortura, de tristeza, de desilusão, aquele dia tinha que chegar.

A primeira coisa que pediu à Miriam foi ir a um cabeleireiro, ela queria acabar com aquela imagem que tinha, cabelo loiro, comprido, encaracolado.. Só traziam lhe más recordações, de quando havia as discussões, em que Paulo puxava-lhe os cabelos e atirava-a ao chão. Laura não queria mais isso, então quando entrou no salão, a primeira coisa que pediu foi pintar o cabelo castanho escuro e alisá-lo, Miriam pediu a uma das empregadas que cobrisse o espelho que estava há frente da Laura, para ver a reação depois da sua mudança.

A Laura quando viu pecados do seu cabelo loiro no chão, os seus olhos encheram-se de lágrimas, e cada vez que ouvia a tesoura sentia vários arrepios pelo corpo. No fim de alisar o seu cabelo Miriam disse:

-Oh meu deus... Que linda...

-Estou mesmo?

-Não confias em mim?!

Laura riu-se e afirmou:

-É claro que sim.

Quando Miriam destapa o espelho Laura nem queria acreditar no que viu. Aquela imagem dela trouxe-lhe muitas motivações para a sua auto estima e para a sua vida, não parecia a mesma Laura insegura e triste, era uma Laura nova! Uma Laura que ainda ninguém conheceu!

Depois sairam para ir ver as lojas, a primeira coisa que repararam foi nos biquinis, cada uma escolheu, experimentou e levaram vestidos quando sairam da loja. Laura não sentia-se tão feliz desde a última vez que tinha 15 anos, as compras fizeram lhe sentir mais  jovem, mas o que ela queria mesmo ir ver se a família ainda vivia ainda naquele bairro, era a única coisa que lhe faltava, depois de 10 anos sem os ver...

Por grande coincidência Miriam vivia perto o bairro onde Laura viveu, ver aquela imagem comparando há 10 anos atrás tudo estava diferente, tudo constituído, os bairros cheios de cores, grandes árvores e pássaros lindos, raças que nunca tinha visto na sua vida, era tudo perfeito para Laura, sentia-se noutro mundo, aquela cidade era a dos seus olhos, era a sua infância, neste momento passou a ser tudo pra ela.