01- Aqueles olhos

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Luísa estava atrasada para encontrar o corretor tinha marcado às 10 mas, o carro quebrou e ela foi obrigada a seguir caminhando umas duas quadras antes da sua possível nova casa.
Arrastando aquela mala imensa, se amaldiçoou mil vezes, por que não deixou no carro? O motorista  tinha que chegar até a casa depois.
Percebeu uma comitiva chegando no sinal e tentou correr antes que fechassem para sua passagem quando viu um homem de vestes extravagantes saindo da limusine em movimento! Onde aquele louco estava com a cabeça?
Ninguém sai de um carro em movimento!
Estava louco, gritava aos 4 ventos e não estava percebendo a aproximação de uma moto na sua direção.
Luísa não sabe o motivo mas quando viu já estava saltando sobre aquele homem e tirando do caminho da moto.
Com o empurrão conseguiu salva-lo mas, sentiu ser tocada nas costelas pelo guidom da moto, foi uma dor tão grande que ela caiu no chão nos pés do homem que salvou.
Só conseguia ouvir meio longe ele desesperado gritando para que abrisse os olhos.
Ela não queria abrir parece que se movesse um músculo aquela dor não acabava.
Mesmo em meio aquela névoa de dor conseguiu ver como ele era lindo, alto, imponente,  cabelos loiros, penteados impecavelmente e uma voz que resoava nos seus ouvidos.
Acordou com aquele homem deitado aos seus pés no leito do hospital.
Sentiu uma dor pulsante na sua cabeça e um branco enorme na sua mente. Quanto mais tentava pensar mais doía.
-Aíiiii
Viu o homem se levantar e também percebeu mais três dentro do quarto que pelo que reparou era um hospital. Ele se dirigiu ao homem mais próximo e falou:
- Amin! Vamos chame o médico, rápido! Ela acordou.
Ela seria eu? Pensou Luísa.
Tentou se levantar da cama mas, foi uma péssima idéia pois, acabou sentindo uma tontura e só não caiu no chão pois foi amparada.
O médico chegou e mandou que todos saíssem no entanto Said não estava disposto a obedecer e saiu a contra gosto.
Uma luz forte nos seus olhos que incomodou, o médico então pediu que ela dissesse quantos dados ele estava mostrando para ela.
- Cinco dr. Eu consigo ver muito bem sua mão.
- Certo, isso é bom. Agora preciso que me diga seu nome e endereço pois, quando chegou no hospital estava sem bolsa, sem documentos e é preciso para realizar seu cadastro.
- Sei muito bem que o sr. está me testando.
- E então?
Luísa só conseguia ver um fundo branco na sua cabeça, ela não fazia ideia de quem era.
- Está tudo branco... Eu só consigo lembrar, só tenho uma sensação que eu preciso chegar na minha casa que estou atrasada.
Sua cabeça foi toda vez que se esforça e pela expressão que o médico faz mesmo tentando disfarçar.
- Descanse. Isso tudo vai passar é apenas resultado do choque que levou pela pancada no asfalto.
- Mas que diabos aconteceu?
Seu corpo foi ficando leve, leve e ela dormiu.
O médico fez com que ela dormisse, ela estava com uma perda de memória por trauma e tinha confiança que logo ela se recuperaria.
Na sala de espera o Emir Said estava ansioso e andava de um lado para o outro.
- E então dr? Ela acordou como está ?
- Bem meu senhor a moça está com perda de memória por trauma. Não se lembra de nada. Apenas uma sensação que está atrasada para chegar em casa. Vamos esperar que a família sinta falta e venha perguntar por ela no hospital. Pode ir para casa cuidarmos bem dela.
- Você está me dizendo que ela está sem memória? Está pedindo que eu a abandone sozinha nesse hospital? Jamais! Essa moça salvou minha vida! Providencie que ela seja levada até minha casa , lá terá toda a atenção até que se cure completamente.
- Meu senhor seu estado é delicado não sabemos se irá recuperar suas memórias.
Mesmo com os apelos do médico Emir Said levou Luísa para sua casa, ele se sentia grato e responsável por ela, no fundo uma chama de desejo também começou a se ascender pela moça sem memórias mas lutava para não pensar nisso. A cada momento que esse pensamento aparecia ele repelia pois, queria mesmo ajudar aquela linda mulher que o salvou.
Chegando em casa avisou a todos que deviam cuidar para que a estadia da sua hóspede fosse maravilhosa.
Luísa se sentia segura ao lado dele, e naquele momento sem memórias seu rosto de alguma forma estava na sua cabeça e por isso aceitou ir com ele.
Sentada na sala com ele e mais cinco homens que pareciam cães de caça ela estava ficando sem ar.
- Será possível eu andar um pouco pelo jardim? Perguntou ela tentando escapar de tantos olhares.
- Certo eu acompanho você.
- Não se preocupe eu só preciso de ar. Eles devem precisar da sua atenção afinal é o Emir.
- Eles são apenas meus criados senhorita...
Said ficou um pouco constrangido pois, não sabia como chamá-la.
- Tudo bem . Disse ela.
- Nenhum de nós é culpado pela minha cabeça ser desse jeito. Como é possível eu não conseguir lembrar do meu próprio nome!
Said conseguia sentir a tristeza na sua voz e claro ele era um pouco culpado, onde estava com a cabeça quando saiu do carro daquele jeito?
Andando pelo jardim colheu uma flor e deu para ela.
- Se não se importar tenho um nome para você.
- Você resolveu me dar um nome?
- Não quero ofendê-la ! Consegui se lembrar de como se chama?
Ela sorriu e quis que ele dissesse um nome. Estava na sua terra mas pelas roupas que estavam na mala que ela carregava sabia que não era dali ou era o que imaginava.
- Não se preocupe. Me diga então o nome que você acha que combina comigo.
- Pensei em Aisha. Significa Próspera.
- E também a mulher mais nova do Profeta...
Eles ficaram se olhando em silêncio. Ela não era apenas uma estrangeira qualquer tinha no fundo da memória conhecimento da cultura árabe. Não era qualquer um que sabia essas coisas.
- Exato!
Luísa tentava não olhar diretamente pra ele pois, estava com medo de mergulhar e se perder no mar azul .
Acompanhou o Emir até a sala e foram recebidos por um homem vestido com roupas esvoaçantes não tão belas quanto as do Emir e sentiu que para ele a sua presença era inconveniente mesmo assim não se deixou intimidar.
Sabia que no Emirado as mulheres eram tratadas como um tipo de adorno mas, algo dentro dela dizia que não era dali e não ia se comportar como se fosse algo ou alguém inferior.
- Abdul-Malik não está vendo que estou ocupado? Desmarque todos meus compromissos de hoje, cuidarei para que nossa hóspede a senhorita Aisha tenha uma estadia de princesa aqui neste palácio.
- Então a senhorita se lembrou de quem é! Sabe onde mora pode agora ir para seu caminho que infelizmente foi interrompido.
- Abdul-Malik você está dizendo que eu atrapalhei a vida da moça?
- É claro que não meu senhor! Eu me equivoquei no uso das palavras.
- Ando reparando nesses deslizes seus Malik e não tem nada a ver com equívocos.
- Meu senhor não se ofenda, eu apenas... Apenas quis
- Chega! Vá fazer o que lhe ordenei e depois volte aqui com meus cavalos prontos. Pretendo fazer um passeio com a senhorita Aisha.
O servo saiu com a cabeça baixa mas, os olhos faiscantes, algo no fundo da sua alma dizia que era melhor não confiar naquele homem pensou Luísa.
O passeio estava sendo gostoso mas, Luísa ainda estava angustiada, mesmo que ele continuasse a tratá-la bem não podia continuar daquele jeito sem rumo, sem destino e sem memória.
- Está calada. Precisa relaxar e deixar sua mente se reorganizar, o mundo não vai parar de girar e logo você se lembrará.
Pegou sua mão e fez descer do cavalo, sentaram-se na sombra com uns quitutes á alcance da mão previamente preparados pelos serviçais do Emir.
- Você não se sente preso ou incomodado de ter tanta gente em volta? Ao seu dispor pronto pra fazer as mínimas coisas?
- Está dizendo que eu sou um inútil? Que não sou capaz de preparar uma cesta de pique-nique?
- Claro que não! Não coloque palavras na minha boca.
- Senhorita Aisha eu sou o Senhor desse Emirado, qualquer grão de areia que é movido de um lugar para outro tem que primeiro passar pelas minhas mãos então, eu não me sinto culpado de ter pessoas ao meu lado para me ajudar, herdei o emirado do meu falecido pai o Emir Sharif que governou com honra até o último dia da sua vida. Se chegar a ser a sombra da areia do deserto que ele pisou eu serei muito orgulhoso de mim.
Luísa viu faíscas de fogo saírem dos seus olhos, ele realmente não gostou do comentário, mas ela não se intimidou e não recuou.
- O Emir Sharif foi o primeiro da sua linhagem a permitir que suas mulheres e filhas tivessem uma educação americana, construiu escolas, creches pra aquelas mães que desejavam trabalhar fora, ele foi um revolucionário!
- Como você sabe disso? Você conhece tanto sobre a  nossa terra. No final das contas você vai sim ser uma mulher do Emirado Formosa Aisha.
Luísa se levanta com as mãos na cabeça e faz força com elas, quando tenta pensar é um branco tão grande que parecia um abismo mas, quando não se esforça se lembra de coisas como essa que não tem nada a ver com quem era ela. Será se sua memória não iria voltar?
- Eu não sei, eu tento lembrar mas, não consigo! É só um branco que eu vejo.
Said abraça ela com força, ele não conseguia entender por que sentia a mesma dor que ela por estar sem chão.
Acho que já vai anoitecer, vamos voltar. Disse Said.
Ele brincou com seus cabelos enrolando no seus dedos e trouxe ela pra mais perto. Queria aquela mulher com todas as forças.
Luísa sabia que não podia se deixar levar pelo azul dos olhos de Said, ela sabia que se deixasse levar poderia perder para sempre seu coração.
Aquele homem com sua gentileza e poder que emanava dele quando ela olhava em seus olhos ainda iria dar muita dor de cabeça.
Said queria sentir o néctar dos lábios de Luísa, sabia que desde a primeira vez, desde o acidente que ela o impressionou tanto com sua coragem que ele tinha que tê-la em seus braços.
Luísa se afasta dele e Said sente como se um buraco tivesse nascido no seu peito.
-Desculpe senhorita não quis ofendê-la.
-Não podemos. Por favor.
Said sentiu que ela tinha outro, sentiu como se aquilo era imperdoável.
-Quem é este homem que é dono do seu coração?
- Meu senhor o fato de não aceitar que me corteje não significa que tenho alguém. Além do mais nem se quer me lembro quem sou.
- Me desculpe eu fui grosso.
- Será possível voltarmos para dentro?
-Claro. Disse Said.
Ambos caminharam lado a lado e Said ia contando histórias dos lugares o palácio do Emirado era um lugar gigantesco e esplêndido.
Luísa estava achando tudo lindo mas, q cabeça estava um turbilhão, será possível ela não ter ninguém? Ninguém sentindo a sua falta? Onde estava sua bolsa com seus documentos? No fundo ela sabia que não era louca de Sair por aí sem documentos.
-Luísa á noite acontecerá um banquete para arrecadarmos dinheiro para obras de caridade. Eu como o Emir darei a primeira quantia logicamente.
- É muito bonito da sua parte se preocupar com causas sociais. Mesmo vivendo em meio tanto conforto não deixar de olhar pelos mais necessitados.
- Antes de partir meu pai me fez prometer olhar para o povo como se estivesse vendo ele. Se o povo perecer Said você estará perdendo o amor e o respeito de todos que se alegram por sermos os comandantes do Emirado
- Não se pode amar quem nos machuca.
Said estava cada vez mais encantado, deixou Luísa na porta do seu quarto querendo ficar.
Luísa estava impressionada com o poder que Said emanava e principalmente sua gentileza. Tão poderoso e ao mesmo tempo tão gentil.
Quando estavam voltando do passeio uma criada se assustou com a chegada brusca dos cavalos e caiu com uma bandeja de quitutes que certamente trazia para o Emir. Said desceu rápido do cavalo e se dirigiu para a moça.
- Cuidado moça! Deixe me ver aparentemente não quebrou nada. Guardas! Levem a moça até a enfermaria.
- Tudo bem meu senhor. Eu consigo voltar ao trabalho.
- Nada disso! Você está machucada e não pode ficar assim.
Luísa percebeu o braço dela todo cheio de vidro.
- Olha só seu braço tem vidro! Said isso precisa ser cuidado por um médico . Qualquer isca que fiquei vai causar muito mal a ela
A moça estremeceu e Said a pegou no colo.
- Não olhe.
Os guardas a levaram e ele ficou olhando até eles sumirem.
Era impressionante alguém tão importante e ao mesmo tempo tão humano.
Poucas horas para o banquete Luísa recebe uma caixa toda enfeitada. Quando ela abre encontra o vestido mais lindo do universo. Dourado com decote em V todo cravejado de cristais Svarovski que vestia como uma luva. E a sandália? Daria para alimentar uma família inteira pois ela era caríssima.
Assim que chegou no salão se sentiu deslocada, várias e várias pessoas sorrindo , brindando . Saíd de longe viu Luísa e veio ao seu encontro.
- Imaginei que ficaria linda mas meus olhos nunca viram algo tão lindo e inebriante.
Ela corou com tamanho elogiu.
- Obrigada... Eu não quero atrapalhar e muito menos ser um peso.
- Que isso! Não se preocupe eu me sinto grato pelo que fez. Sou culpado pelo seu estado agora e vou cuidar de você.
- Eu já disse não quero ser um peso na sua vida .
- Desde quando ter a companhia da mulher mais bela do evento é um estorvo?
Novamente Luísa corou. Segurou no braço do emir e seguiu até o local que ele estava sentado.
Vários homens e mulheres que pela posição deviam ser muito importantes. Antes que se sentasse ela teve que parar.
- Emir Said eu acho que não vão gostar de me ver sentar ao seu lado! Quem sou eu para sentar me á direita do grande Emir?
- Alguém que me muito me estima e para qualquer um aqui é minha prima de 3 grau que veio da América.
Ele deu um sorriso de lado e ela se derreteu. Seguiu com ele até a mesa e tentou incorporar a prima de 3 grau da América.
A noite foi esplêndida, o evento um grande sucesso e ao fim de tudo quando os lances todos foram dados um telão foi ligado para mostrar as crianças que iriam ser beneficiadas pelo leilão.
Cada uma com um sorriso no rosto, apesar da pobreza e da escassez que viviam não se deixavam abater.
Os slides foram sendo mostrados até que Luísa viu-se em um deles.
Sim era ela! Vestida de jaleco e cuidando de uma menininha.
Ela sentiu como se fosse um soco no estômago! Toda sua memória vindo de uma vez!
Ela era Luísa médica dos médicos sem fronteiras e tava na cidade para fixar residência. Passados 8 anos da sua formatura e batalhas pelos países mais pobres da África ela tinha voltado para casa. Foi muito forte o impacto que ela desmaiou. Acordou no seu quarto do palácio com o Emir, seu criado Abdul-Malik e o médico ao seu lado. Sua cabeça doía demais. Abriu os olhos e tentou se levantar.
- Não se levante.
- Eu me lembro de tudo Dr!
- Eu imaginei quando me chamaram.
Qual seu nome senhorita?
- Eu me chamo Luísa. E estou de volta ao emirado... Minha casa meu Deus! Eu devia ter chegado na hora para pegar as chaves!
Ela caminhava de um lado para o outro sem saber o que fazer.
Seus pertences, seus malotes de equipamentos, suas roupas, seus documentos!
- Senhorita Luísa, que bom que está lembrando agora quero que me diga quem são seus pais e onde eles estão.
Uma tristeza imensa se abateu nos seus olhos e Said quis abraça-lo.
- Meu pai faleceu á dois anos atrás. Nós não nos dávamos bem e chamávamos a ficar meses sem nos falar mas eu queria ter estado no momento de dizer adeus.
- E por que voltou agora?
- Dr. Você está forçando demais a mente dela. Pode acabar fazendo ela se sentir mal. Disse Emir Said.
Luísa agora olhava pra ele e via sua aflição, se lembrava da hora do acidente e de como não pensou duas vezes em saltar na frente da moto para salvá-lo.
- Por favor eu gostaria de falar com o Emir um minuto, eu estou bem dr. Me lembro de absolutamente tudo.
Said eatava feliz e ao mesmo tempo apreensivo pois sabia que a sua Aisha que não era mesmo Aisha iria embora.  Ele não iria permitir! Ele tinha que fazer alguma coisa.
-  Eu me lembro de tudo.
- Isso é maravilhoso LUÍSA.
Ele falou de um jeito tão dele que Luísa teve um arrepio que por sorte ela conseguiu disfarçar.
-Gostaria de agradecer o que fez por mim Emir Said.
- Não fiz mais que minha obrigação.Você salvou minha vida.
Enquanto falava ele se aproximou e a abraçou, o cheiro dos seus cabelos era inebriante .
- Emir Said não posso.
- Não vá embora Luísa ...
- Mas eu não vou. Disse ela sorrindo.
- Estou voltando!
- Mas irá embora de minha casa.  Palácio, palacete, mansão chamar aquele lugar de casa era até engraçado pensou Luísa.
- Isso é normal, sou uma hóspede que ninguém esperava, agora seguirei o meu caminho.
Said não conseguia imaginar como seria sua vida sem Luísa, de um jeito mágico ela conquistou seu coração, não sabe se foi sua coragem, doçura, fragilidade ou até mesmo vê-la em plena ação nos slides. Seu coração agora era daquela linda mulher e ele não iria desistir dela.
- Eu poderia raptá-la e levá-la para meu harém.
Luísa corou e percebeu a intensidade do desejo dele por ela mas, não poderia se deixar levar, ele era o Emir e podia ter qualquer mulher que desejasse e de jeito nenhum iria permitir que seu coração se machucasse novamente.

O Emir que me amavaOnde histórias criam vida. Descubra agora