Muitas meninas são surpreendidas na minha idade quando acham que estão grávidas, surpreendem sua família e amigos, que algumas vezes nem conhecem o pai da criança. Eu sou noventa e cinco por cento diferente de todas essas meninas. O que a gente tem em comum é a idade e olhe lá. Eu sou assexual, o que significa que eu não sinto atração física nem por homens nem por mulheres, mas ainda posso me envolver emocionalmente. Só não quero transar. Não tenho vontade. Eu também sou andrógeno e aí já começa a entrar a parte complicada dessa história, porque eu sou não-binário de gênero. Estou dizendo a vocês que sou uma menina, mas eu falo isso para vocês entenderem melhor a minha história. Meu nome é Bin. Do jeito certo ficaria Moon Bin, mas ainda estamos no Brasil. Vamos me chamar assim durante a minha história, pois eu vou mudar meu nome legalmente para esse, então não tenho nada a perder.
Minha história sobre querer ter filhos começa com oito anos. Sim, eu vou descrever desde os meus oito anos até aqui. Vai dar uma emoçãozinha.
Com oito anos eu tive o meu primeiro sonho em ter filhos, então eu comecei a escrever uma história em um caderno velho da escola, narrando como seria a minha vida quando eu crescesse, apesar de que eu sabia que não podia estar certo, que eu não faria o sucesso que queria tão fácil. Precisava correr atrás. Só que naquela época eu cometi um erro. Eu cometi o erro de colocar que eu me casaria no texto. Grande erro. Eu fiz um caderninho inteiro discrevendo a minha vida de casada, e de como eu seria feliz com isso. Queria eu que fosse assim. Mas tudo bem, na época eu tinha a metade da idade que eu tenho agora, e nasceu a minha segunda irmã mais nova. Preciso de um nome fictício para ela, então vou chamá-la de Vitória.
Vitória nasceu em dois mil e dez, quando eu ainda não tinha muita noção das coisas. Eu estudava em um colégio particular e a única coisa que eu sabia era que tinha um bebê novo na casa. É. Com oito anos eu não fazia ideia do quanto eu cuidaria dessa criança. Cheguei a cuidar dela bem mais do que a minha mãe cuidou. Meu padrasto, pai dela, nem ajudava, mas eu adorava ser babá daquele bebê. E foi essa a primeira palavra que Vitória disse. Ela falou babá antes de mãe, antes de pai, antes de pui, que é como a minha família chama a mamadeira.
E foi durante os primeiros anos da vida de Vitória que eu testei as minhas habilidades cuidando de bebês, principalmente bem no início, quando eu a embalava até ela dormir. Mas três meses depois de Vitória, minha madrasta também deu a luz à minha quarta irmã, que eu vou chamar de Camile. Eu não tinha tanto contato com Camile quanto eu tinha com Vitória, afinal eu nunca fui a preferida do meu pai, então ele não me levava para os lugares.
Quando Vitória tinha três anos, minha mãe estava com uma saúde mais ou menos, então uma quinta irmã arruinou com a saúde da minha mãe. Não foi culpa da filha, claro, mas foi uma gravidez de alto risco na qual a minha mãe passou semanas internadas antes e depois de tê-la. Eduarda é o jeito que eu vou chamá-la, e Eduarda nasceu prematura, de cesariana e gordinha, apesar de tudo. Ela cabia certinho nas roupas RN que compramos para ela, e eu me vi cuidando dela assim que ela e a minha mãe saíram da maternidade. Foi bom ter mais um bebê para cuidar, mas o problema era que Vitória é hiperativa, nunca deixou de ser, e quando parou de receber toda a atenção, passou a incomodar a irmã mais nova, e eu sabia que eu teria a experiência de ter duas filhas agora. Isso acabou com os meus sonhos, pois era realmente complicado criar duas crianças. Vitória era muito grande e incomodava muito porque não recebia a atenção que deveria. Então eu tinha doze anos quando saí de casa. Isso não faz tempo, foi em dois mil e catorze. Só que eu tinha perdido a minha vontade de em um futuro ser mãe.
Eu não mencionei o mais novo dos meus irmãos, vou chamar de Rodrigo, e o meu primo, que eu vou chamar de Júnior. Rodrigo e Júnior nasceram no mesmo ano, como as minhas duas irmãs, mas eles tinham quatro meses de diferença ao invés de três. Os dois realmente são muito amigos, mas desses eu não participei muito da criação ou da infância, assim como não participei da infância de Camile, mas como meu tio morava na mesma casa que eu, o quarto novo do menino e ver a minha tia cuidando dele reacendeu a minha vontade de ter filhos. A minha tia, sabendo o quanto eu lidava bem com crianças, sempre me chamou quando precisava de ajuda. Eu lembro bem das palavras dela. "Bin, ele tá chorando e eu já dei de mamar, já tentei embalar ele, entreter com brinquedo, mas ele não para de chorar, o que pode ser?". Esse dia eu peguei um remédio em pó que era da minha irmã mais nova e coloquei na chupeta dele então fiz massagem na barriguinha e o embalei de pé. Era apenas cólica, mas eu sabia muito bem como lidar com esse tipo de coisa. Ela me chamava para ajudar no banho ou quando precisava de algo, mas eu realmente sentia que faltava alguma coisa.
Com treze anos tive o meu primeiro namorado virtual, mas então eu fui perdendo meu interesse por meninos depois dele. Quando meu interesse real por meninos foi embora e eu apenas não me importava, fiquei com meninas, mas uma menina fez da minha vida um inferno. Eu gostei muito dela, eu a amava e queria dizer isso para ela, mas antes que eu pudesse o fazer, essa menina acabou com a minha vida. Ela afastou todos os meus amigos de mim depois que a gente terminou, e eu não estou exagerando, tive que fazer novas amizades e saí do nono ano direto para uma psicóloga.
Eu não tive paciência para a psicóloga e saí antes que realmente pudesse ter algum resultado.
Com quinze anos eu voltei a ter constantemente sonhos com crianças. No meu sonho era sempre uma criança asiática, e como eu não sou, imaginava que eu fosse adotar no futuro, mas então eu fui me descobrindo até perceber que eu sentia nojo de sexo hétero, mas também sentia nojo de sexo lésbico, então não tinha muito sentido para mim, até achar todas as definições de gênero e sexualidade que a minha mãe havia escondido de mim enquanto eu era pequena, até quando eu pensei que fosse bi ou lésbica.
Então eu recentemente, durante meus primeiros sonhos com crianças esse ano, percebi que nos meus sonhos eu não tinha um companheiro. Eu tinha apenas os padrinhos e meus irmãos por perto de mim. Meu sonho desenvolveu com o passar das noites. Até que eu sonhei com o nome do doador de esperma, e eu contando para o meu filho sobre ele, então eu saí procurando e o achei, e isso reacendeu completamente a minha vontade de ser mãe, de carregar um filho dentro de mim, e acabei tomando a decisão de cancelar a viagem que eu ia fazer para a Coreia por meses, pois eu tenho que me ajustar aqui. Eu tenho que ter esse filho, sempre foi o meu sonho e eu não queria que ele nascesse lá por causa da pressão que sofreria ao longo da escola, então me decidi por esperar. Eu esperaria até ele ter seis anos e viajaria com ele, mas claro que depois eu voltaria para casa para cuidar dele, até ele ter doze anos, pois eu tenho certeza de que vou querer mais um filho, e então vou voltar para o país de origem deles para que eles tenham uma lembrança de lá, pelo menos.
Mas isso são planos, então vamos falar de agora.
Agora eu estou me planejando financeiramente, conciliando trabalho e estudos e vendo atividades extras para ganhar mais para economizar para o meu filho. Eu fico contente de ter tomado essa decisão cedo, pois se eu não a tivesse tomado, talvez eu não teria meus filhos no futuro. E eu realmente quero isso. Isso me leva ao meu sonho de anos, desde que eu tinha uns dez anos, eu sempre quis ser dubladora e imitava sempre um monte de vozes para treinar, então agora eu tenho mais determinação para isso, afinal eu ganharia mais do que trabalhando somente como caixa em um restaurante e teria mais condições para os meus filhos. Eu não sou atriz, mas vou começar logo o meu curso de teatro e vou fazer de tudo para conseguir o emprego e o curso de dubladora. Isso deslancharia meus sonhos de maneira absurda, então eu vou batalhar para isso. Eu sei que eu preciso disso para poder criar dois filhos, ou talvez só um, vai saber. Eu sei que quando eu quero algo, eu cumpro isso por mais difícil que seja. Então eu vou conseguir isso, eu vou conseguir emagrecer e levar uma vida saudável para ter um filho feliz e saudável ao meu lado. Assim eu espero.
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Diário de Uma Garota Que Sonha em Ser Mãe
ChickLitMuitas garotas são pegas desprevenidas com filhos enquanto ainda são menores de idade, porque simplesmente não se cuidam. Um filho é um grande passo, não só na vida de uma garota, ou mulher, como também na vida de toda a família e das pessoas ao seu...