Em meio à escuridão, de relance, vi seu olhar aguçado e curioso, brilhando juntamente com sua íris cor-de-chocolate, diga-se de passagem, o mais delicioso que nenhuma vez o maior e mais poderoso dos seres sequer poderia provar. Cílios longos que batiam por reflexo, e um homem que aguardava por uma resposta. Quem sou eu.
Suas linhas de expressão harmonicamente à mostra, me provocavam o desejo de medi-las pela matemática do Homem Vitruviano. Uma gota de suor que escorria dolorosamente lenta por sua tempora, traçava deltas de sebo que daria origem a novas gotas. Acima das esferas de chocolate, duas linhas tensas e despenteadas formavam sua sobrancelha marcante. Quem poderia acreditar em dois lábios como aqueles. Tão grossos, traçavam a feição de uma boca facilmente julgada como perfeita. Resquícios, mínimos e quase imperceptíveis, de pelos de barba, estavam por crescer timidamente acima do seu arco do cupido. E eu sequer desviei o olhar de seu rosto.
-Você é real? -Sua voz branda e serena bombardeou meus ouvidos com palavras tão doloridas.
-De fato, eu que deveria lhe perguntar isto.
-E de fato, você entrou numa casa que não é sua. -Ele é o mestre das palavras também.
Uma rajada de nordeste esfuziou nos vidros quebrados das janelas; o vento zuniu com mais força e, numa primeira refrega, arrancou de uma só vez as cortinas que pendiam nos aros das janelas frontais.
-Responda-me. -insistiu
-Estou pensando. Se você não for real, este será só mais um pesadelo em que você me ama e me mata. Você é real?
-Como chegou aqui? -por que és tão evasivo, garoto que me salva, e atormenta?
-Eu andei, e apenas andei por um tempo. Talvez tenha batido a cabeça e desmaiado...
-Mas este é o meu pesadelo. É você quem me ilumina e me escurece a todo instante, a todo sono, a todo fechar de olhos.
Não pude mover nenhum músculo. Suas palavras eram desarmadoras, e pela primeira vez, eu tinha medo de simplesmente acordar e voltar a negritude desgostosa da realidade. O que faria para rever seus olhos chocolates?
Sua mão serpenteou sob meus olhos, e em seguida, tocou a minha pele de tal modo que toda a sua frieza, esgueirava-se pelo meu corpo, pelo meu sangue, pela minha carne. Ele era tão absurdamente real, assim como eu e toda essa situação que, literalmente, de sonho, se tornou realidade. Então, o meu pesadelo era seu pesadelo. Nós nos possuíamos docemente vezes e vezes seguidas para então nos dilacerar, afastar, matar, escurecer e sair de imediato dessa conexão de polos contraditórios.
-Como faz isso? Não há uma noite sequer que eu esvazie minha mente e você chegue para me cevar de amor e ódio.
-Eu esperei tanto que você chegasse... -sua voz, pela primeira vez, soou esperançosa, e por que não dizer, feliz.- Você prefere as trevas ou a luz?
-Que diabo de pergunta é essa?
-Apenas responda.
-Bem, por meios de rendição à minha eternidade e felicidade, eu escolho a luz, mas se para receber prazer e satisfazer as minhas cobiças for preciso entrar nos pecados que se refugiam na escuridão, eu escolho as trevas.
-Você quer saber por que os sonhos? Por que essa conexão por fios de amor e hostilidade? -perguntou-me
-Sim, eu quero. Mas diga-me antes seu nome.
-Taemin.
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Going To Hell // t.l.
Romance"Eu te amo, ele dizia, eu te amo." [...] Às vezes, me sinto como se estivesse me perdendo, me afastando de mim mesma. Sinto correr em minhas veias, pulsando o desejo tão estranho que sempre temi que fosse acontecer. Pois a primeira vez que me rendi...