É interessante como o ser humano consegue sonhar acordado mesmo estando prestes a dormir; e, quando dorme, consegue sonhar ainda mais. Esse desejo de estar aonde ainda não chegamos e de voltar para lugares em que já estivemos só mostra o quão confusos nós somos e o quanto as incertezas estão impregnadas nas nossas escolhas.
Todo mundo é movido por emoções. Todo mundo tem sonhos. Todo mundo se emociona quando consegue realizar algum sonho. Todo mundo se imagina realizando o que já foi escrito num pedaço de papel. Todo mundo traça metas e objetivos e, de fato, todos têm a esperança de sorrir com conquistas pessoais algum dia - sejam elas pequenas demais para serem facilmente esquecidas ou suficientemente grandes a ponto de mudarem, para sempre, a vida de quem as conquistou.
As nossas escolhas são tão mágicas quanto a nossa capacidade de decidir para qual lado prosseguir. Quando escolhemos um caminho, trilhamos exatamente o que imaginávamos encontrar, por mais que, eventualmente, algumas (ou muitas) pedras apareçam para desacelerar o nosso ritmo. Antes de tomarmos uma decisão, temos a possibilidade de arquitetar o que pode e o que pode não acontecer. Isso não é ser pessimista, mas sim realista.
A história que você vai conhecer é sobre uma versão oito anos mais nova de Melina: uma jovem sonhadora de vinte e dois anos que tinha um desejo eloquente por se tornar uma nova-iorquina. Melina Silva nasceu no Rio de Janeiro e cresceu com o American Dream tatuado em seu coração. A primeira definição para o "sonho americano" foi dita em 1931 por um historiador norte-americano chamado James Truslow Adams. A ideia foi relacionada com a Declaração de Independência dos Estados Unidos a qual diz que todos são criados iguais, ou seja, todos têm direito a vida, liberdade, propriedade e a busca pela felicidade. Mas que país não tem esses mesmos ideais ainda que não proclamados de modo oficial? Aliás, talvez esse seja o lema da humanidade, não? A felicidade é um objetivo que todos têm em comum, não acha? Felicidade, paz, espaço... Todos querem e precisam de, pelo menos, um metro quadrado para chamar de seu. Os Estados Unidos não é uma fábrica de sonhos como já foi desenhado um dia. Sonhos se realizam em qualquer lugar - até (ou principalmente) nos mais improváveis.
Melina estudava Letras em uma universidade federal e o seu sonho era fazer um mestrado em Nova York para que, enfim, pudesse correr atrás do direito de se tornar uma cidadã norte-americana. Ela sabia que deveria primeiro cumprir o prazo do seu visto como estudante para depois dar entrada no seu "Greencard". A jovem tinha tudo planejado desde os dezoito anos: em qual bairro moraria, o modelo de carro que mais lhe agradava e até raças de cachorros que não fossem muito agitadas para serem criadas dentro de apartamento. Ela realmente sabia para onde queria direcionar a sua vida. Era uma pena que seus pais não pensassem o mesmo.
Tiago - um coronel do Exército Brasileiro - e Bárbara - uma dona de casa - mal conseguiram aceitar o desejo da filha de se tornar professora. Para eles, assim como para a maioria das pessoas que ouviam falar na vida acadêmica de Melina, ela deveria seguir os passos do pai e ingressar na carreira militar.
"Daqui a 10 anos você estará com a sua aposentadoria garantida! Quer melhor que isso?", sr. Tiago sempre dizia.Melina havia feito inúmeras provas de concurso a mando de seus pais mesmo cursando a faculdade. Para eles, o patriotismo era a essência de um brasileiro e, por isso, abominavam o "sonho americano" da filha. Criada em uma família tradicional, Melina não tinha tanta voz dentro de casa - principalmente em relação ao seu pai. Tiago e Bárbara consideravam traidores os brasileiros que, após terem usufruído de tudo o que precisavam, saíam do Brasil em busca de "melhores condições de vida". "Tantas pessoas saem das regiões Norte e Nordeste em direção ao Rio de Janeiro buscando melhores condições de vida. O que elas procuram aqui, você procura em outro lugar; você acha isso certo, Melina? Querer ir para outro país que tem as mesmas oportunidades que você tem aqui? Vê se cresce! Já passou da hora de você deixar de ser uma menina ingênua...", seus pais lhe diziam sempre que brigavam.
Mas Melina não deixava de acreditar que um dia ela iria provar para seus pais que sempre teve razão. A cada discussão que eles tinham, Melina alimentava o sentimento de raiva que deixou seu coração criar contra seu pai e sua mãe. Ela tinha certeza do que queria. A cada dia mais. Atrever-se a fazer o impossível era o seu objetivo e ela tinha certeza que inspiraria outros sonhadores a lutar pelo que acreditam.
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Quando pisei em N.Y.C.
Short StorySe poucas meninas da década de 80 já sonharam em morar na cidade que nunca dorme - Nova York -, certamente Melina estava dentre elas. Táxis amarelos, letreiros coloridos, barbearias tradicionais, a paisagem do Central Park e neve - muita neve. Aos...